Nunca antes se roubou em nome de um projeto político alastrante em todos os escaninhos do Estado Aproxima-se a hora da verdade política do país. Hora da verdade ou hora da mentira? Mentira virou verdade? Nossas “verdades” institucionais foram construídas por 500 anos de mentiras.
Portanto, virou uma razão de Estado para o governo do PT a proteção à mentira brasileira inventada pela secular escrotidão portuguesa.
Se a verdade aparecesse em sua plenitude, nossas instituições cairiam ao chão. Por isso, o Governo acha que é necessário proteger as mentiras para que a falsa “verdade” do país permaneça. E não é só a mentira que indigna.
É a arrogância com que mentem. E a mentira vai se acumulando como estrume durante um ano e acaba convencendo muitos ingênuos de que “sempre foi assim” ou de que “erraram com boa intenção”.
Não só roubaram cerca de R$ 2 bilhões desviados de aparelhos do Estado, de chantagem com empresários, de fundos de pensão, de contratos falsos, mas roubaram também nossos mais generosos sentimentos.
A verdadeira esquerda se modificou, avançou, autocriticou-se enquanto eles não arredaram os pés dos velhos dogmas da era stalinista e renegaram todo trabalho de uma esquerda mais social-democrata, como aliás fazem desde que não votaram nos “tucanos” da época e o Hitler subiu ao poder.
“Nunca antes”, nunca antes um partido tomou o poder no Brasil e montou um esquema secreto de “desapropriação” do Estado, para fundar um “outro Estado”. Nunca antes se roubou em nome de um projeto político alastrante em todos os escaninhos do Estado, aparelhado por mais de 30 mil militantes. O ladrão tradicional sabia-se ladrão.
O ladrão tradicional roubou sempre em causa própria e se escondia pelos cantos para não ser flagrado.
Os ladrões desse governo roubam de testa erguida, como se estivessem fazendo uma “ação revolucionária”, se orgulham de fingir de democratas para apodrecer a democracia por dentro. A verdade está sempre no avesso do que dizem. São hábeis em criar um labirinto de “falsas verdades”, formando uma rede de desmentidos, protelações e enigmas que vão desqualificando as investigações de coisas como a CPI da Petrobras e todos os crimes de seus aliados.
Regozijam-se porque seus eleitores são ignorantes e pobres e não sabem nem o que é “dossiê” — pensam que é um tipo de doce.
A verdade do Brasil é coloquial, feita de pequenos ladrões, sujos arreglos políticos, emperramentos técnicos. Hoje, sabemos que somos parte da estupidez secular do país. Assumir nossa doença talvez seja o início da sabedoria. A verdade é que os petistas nunca acreditaram na “democracia burguesa”; como disse um intelectual emérito da USP — “democracia é papo para enrolar o povo”.
O PT que se agarra ao poder degrada a linguagem. Falam de um lugar que é o auge de um baixo voluntarismo aventureiro, de uma ideia de socialismo decaída em populismo.
A esquerda petista não tem memória. Dá frio na espinha vê-la tender para os mesmos erros de 64 e 68. Na cabeça dessa gente ignorante e dogmática nada é real; só a ideologia existe. Todos os erros eram previsíveis por comentaristas e foram cumpridos à risca pelos governos petistas. Milhares de petistas ocupam o Estado aparelhado e querem que a Dilma ganhe para permanecerem nas “boquinhas”.
As agências reguladoras estão sendo assassinadas. Dilma berra que o Banco Central não tem de ter autonomia.
A era Meirelles-Palocci foi queimada, velho desejo dos camaradas. Qualquer privatização essencial foi esquecida. A reforma da Previdência “não é necessária” — dizem eles — não havendo nenhum “rombo” no orçamento (!).
Os gastos públicos aumentaram pois, como afirmam, “as despesas de custeio não diminuirão para não prejudicar o funcionamento da máquina pública”. Se reeleita, voltará a obsessão do “Controle” sobre a mídia e a cultura. E, como não poderá se reeleger, o bolivarianismo vai florir e o passarinho do Chávez vai cantar em seus ouvidos. Nossa maior doença — o Estado canceroso — foi e será ignorada.
Tudo que construíram, com sua militância, foi um novo “patrimonialismo de Estado”, com a desculpa de que “em vez de burgueses mamando na viúva, nós, do povo, nela mamaremos”. O perigo que corremos é sua reeleição, porque o país de analfabetos é boçal, espera um salvador da pátria.
No fundo, brasileiros preferem uma boa promessa de voluntarismo e populismo, na base do “pau no burro” ou “bota para quebrar”. Estamos prontos para ditadores e demagogos; para administradores e reformadores racionais, não.
Enquanto o óbvio se exibe, a covardia de muitos intelectuais é grande. Há o medo de serem chamados de reacionários ou caretas. Continuam ativos os três tipos exemplares de “radicais”: os radicais de cervejaria, os radicais de enfermaria e os radicais de estrebaria. Os frívolos, os burros e os loucos. Uns bebem e falam em revolução; outros alucinam; e os terceiros zurram. A “presidenta” vive a missão impossível de ser “socialista e dirigir um país... ah... capitalista.
A conclusão é que Dilma perdeu o controle da zona geral que Lula sabia “desorganizar” com esmero e competência. Dilma não é competente nem para desorganizar. Não é apenas o fim de dois maus governos; é o despertar de um caos institucional que será mais grave do que pensávamos. Estamos diante de um momento histórico gravíssimo, com os dois tumores gêmeos de nossa doença: a direita do atraso e a esquerda do atraso. É uma herança que vai amaldiçoar o futuro. Como escreveu Bobbio, se há uma coisa que une esquerda e direita é o ódio à democracia. O Brasil evolui pelo que perde e não pelo que ganha.
Sempre houve no país foi uma desmontagem contínua de ilusões históricas. Com a História em marcha a ré, estranhamente, andamos para a frente. Como? O Brasil se descobre por subtração, não por soma. Chegaremos a uma vida social mais civilizada quando as ilusões chegarem ao ponto zero. Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/a-mentira-virou-verdade-13944296#ixzz3DVlTnmOj © 1996 - 2014. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.
16 de setembro de 2014
Arnaldo Jabor
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