A agência de classificação de risco colocou em viés negativo a nota do Brasil. Que desta vez a chance de discutir a política econômica não seja desperdiçada.
Na terça-feira, dia 9, mais uma agência de classificação de crédito manifestou preocupação com a condução da economia brasileira. A Moody’s manteve a nota Baa2 para os títulos da dívida pública do governo, mas mudou o viés da nota – que era estável, mas passou para negativo, indicando que, em uma próxima análise, o país pode ser rebaixado. Na escala da Moody’s, Baa2 é o segundo degrau dentro do chamado “grau de investimento”, o mais seguro para investidores. Se caísse um nível, o país ainda permaneceria no grupo dos melhores países para se investir. Situação diferente é a que o Brasil atravessa na avaliação de outra agência, a Standard & Poor’s (S&P), que em março deste ano rebaixou o país, de BBB para BBB-, ainda no grau de investimento, mas a apenas um passo do “grau especulativo”.
Assim como ocorreu com o rebaixamento promovido pela S&P, o anúncio da Moody’s surpreendeu o governo, que só esperava uma manifestação após as eleições, como se as avaliações precisassem obedecer a conveniências eleitorais. Obviamente as perspectivas para a economia em 2015 só ficarão mais claras quando também se souber o nome do eleito, mas a situação da economia brasileira é tal que a agência entendeu ser imprescindível uma medida mais enfática, ainda que não tão severa como seria um rebaixamento.
E há muito o que criticar, a começar pela pífia taxa de crescimento prevista para o país. No último boletim Focus, em que o Banco Central recolhe as previsões do mercado, a estimativa de crescimento do PIB era de apenas 0,48% (os dados de julho devem ser positivos, mas não se pode descartar que o avanço ocorre sobre uma base fraca). Em vez de estimular a poupança e o investimento, o governo insiste na estratégia de fomentar o consumo, liberando cada vez mais recursos para crédito. As metas de superávit primário, se forem cumpridas em 2014, só o serão graças a recursos extraordinários (assim como ocorreu em 2013, é bom lembrar), como os do leilão dos 700 MHz. A meta de inflação, de 4,5% ao ano, virou peça de ficção. Ignorando o fato de as margens de dois pontos para cima e para baixo servirem para acomodar choques temporários, o governo agora se contenta em segurar o IPCA dentro do teto da meta, de 6,5%, feito que só ocorre graças ao represamento artificial de preços controlados.
O aviso da Moody’s não é novo. Diversos outros agentes já demonstraram sua preocupação com a maneira como a economia brasileira vem sendo conduzida. Mas, em todos esses casos, a reação do governo brasileiro foi a de atirar no mensageiro. Dois meses depois do rebaixamento promovido pela Standard & Poor’s, Guido Mantega ainda guardava mágoa da agência. “O rebaixamento foi nulo em relação aos mercados. Não aconteceu nada e houve valorização do real. [O rebaixamento] foi solenemente ignorado. Garanto que vamos cumprir 1,9% do PIB, ao contrário do que pensa a Standard & Poor’s. Ninguém mais lembra dessa classificação que não teve nenhuma importância para a economia brasileira”, disse, em maio, em uma comissão da Câmara dos Deputados, em mais uma de suas previsões não cumpridas.
Além disso, quando ocorreu o caso do relatório distribuído a clientes selecionados do Banco Santander, em julho, a reação foi ainda mais severa e antidemocrática, com o ex-presidente Lula pedindo publicamente (e obtendo) a cabeça dos responsáveis pelo texto. Na mesma época, a coligação de Dilma Rousseff processou a consultoria Empiricus Research por suas análises consideradas “catastrofistas” (em agosto, o TSE deu ganho de causa à consultoria). No episódio mais recente de perseguição, o Banco Central apresentou queixa-crime contra um de seus ex-diretores, Alexandre Schwartsman, por suas críticas à ação do BC. Derrotado na primeira instância, o procurador-geral do BC prometeu levar o caso adiante, e só desistiu depois da enorme repercussão negativa. Em nenhuma dessas situações, o governo aproveitou a chance para repensar sua política; pelo contrário, seguiu insistindo no que tem se mostrado ineficaz. Desta vez, Dilma já indicou que, se reeleita, mudará o ministro da Fazenda; será suficiente para botar o país no rumo certo?
Na terça-feira, dia 9, mais uma agência de classificação de crédito manifestou preocupação com a condução da economia brasileira. A Moody’s manteve a nota Baa2 para os títulos da dívida pública do governo, mas mudou o viés da nota – que era estável, mas passou para negativo, indicando que, em uma próxima análise, o país pode ser rebaixado. Na escala da Moody’s, Baa2 é o segundo degrau dentro do chamado “grau de investimento”, o mais seguro para investidores. Se caísse um nível, o país ainda permaneceria no grupo dos melhores países para se investir. Situação diferente é a que o Brasil atravessa na avaliação de outra agência, a Standard & Poor’s (S&P), que em março deste ano rebaixou o país, de BBB para BBB-, ainda no grau de investimento, mas a apenas um passo do “grau especulativo”.
Assim como ocorreu com o rebaixamento promovido pela S&P, o anúncio da Moody’s surpreendeu o governo, que só esperava uma manifestação após as eleições, como se as avaliações precisassem obedecer a conveniências eleitorais. Obviamente as perspectivas para a economia em 2015 só ficarão mais claras quando também se souber o nome do eleito, mas a situação da economia brasileira é tal que a agência entendeu ser imprescindível uma medida mais enfática, ainda que não tão severa como seria um rebaixamento.
E há muito o que criticar, a começar pela pífia taxa de crescimento prevista para o país. No último boletim Focus, em que o Banco Central recolhe as previsões do mercado, a estimativa de crescimento do PIB era de apenas 0,48% (os dados de julho devem ser positivos, mas não se pode descartar que o avanço ocorre sobre uma base fraca). Em vez de estimular a poupança e o investimento, o governo insiste na estratégia de fomentar o consumo, liberando cada vez mais recursos para crédito. As metas de superávit primário, se forem cumpridas em 2014, só o serão graças a recursos extraordinários (assim como ocorreu em 2013, é bom lembrar), como os do leilão dos 700 MHz. A meta de inflação, de 4,5% ao ano, virou peça de ficção. Ignorando o fato de as margens de dois pontos para cima e para baixo servirem para acomodar choques temporários, o governo agora se contenta em segurar o IPCA dentro do teto da meta, de 6,5%, feito que só ocorre graças ao represamento artificial de preços controlados.
O aviso da Moody’s não é novo. Diversos outros agentes já demonstraram sua preocupação com a maneira como a economia brasileira vem sendo conduzida. Mas, em todos esses casos, a reação do governo brasileiro foi a de atirar no mensageiro. Dois meses depois do rebaixamento promovido pela Standard & Poor’s, Guido Mantega ainda guardava mágoa da agência. “O rebaixamento foi nulo em relação aos mercados. Não aconteceu nada e houve valorização do real. [O rebaixamento] foi solenemente ignorado. Garanto que vamos cumprir 1,9% do PIB, ao contrário do que pensa a Standard & Poor’s. Ninguém mais lembra dessa classificação que não teve nenhuma importância para a economia brasileira”, disse, em maio, em uma comissão da Câmara dos Deputados, em mais uma de suas previsões não cumpridas.
Além disso, quando ocorreu o caso do relatório distribuído a clientes selecionados do Banco Santander, em julho, a reação foi ainda mais severa e antidemocrática, com o ex-presidente Lula pedindo publicamente (e obtendo) a cabeça dos responsáveis pelo texto. Na mesma época, a coligação de Dilma Rousseff processou a consultoria Empiricus Research por suas análises consideradas “catastrofistas” (em agosto, o TSE deu ganho de causa à consultoria). No episódio mais recente de perseguição, o Banco Central apresentou queixa-crime contra um de seus ex-diretores, Alexandre Schwartsman, por suas críticas à ação do BC. Derrotado na primeira instância, o procurador-geral do BC prometeu levar o caso adiante, e só desistiu depois da enorme repercussão negativa. Em nenhuma dessas situações, o governo aproveitou a chance para repensar sua política; pelo contrário, seguiu insistindo no que tem se mostrado ineficaz. Desta vez, Dilma já indicou que, se reeleita, mudará o ministro da Fazenda; será suficiente para botar o país no rumo certo?
16 de setembro de 2014
Editorial Gazeta do Povo, PR
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