"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

POLÍTICA MAFIOSA

Greve de ônibus paulistanos traz à superfície investigação sobre presença de deputado petista em reunião com membros de facção criminosa

A política brasileira tem comparecido ao noticiário criminal com frequência indesejável, como atestam os mensalões do PT nacional e do PSDB mineiro, além dos escândalos Alstom/Siemens.

Se predominam, nesses casos, os chamados crimes de colarinho branco, surgem indícios preocupantes de que instituições representativas estejam sendo conspurcadas também por outros tipos de delitos, violentos e facinorosos.

Essa perspectiva tornou-se conhecida na esteira da greve de motoristas e cobradores de ônibus em São Paulo, paralisação recém-considerada abusiva pela Justiça. Vieram à tona, com ela, investigações que sugerem a infiltração de organizações criminosas e sanguinárias na política paulista.

Tentando livrar-se da responsabilidade pelo colapso dos transportes públicos na semana passada, a administração municipal petista e o governo estadual tucano se entregaram à costumeira troca de acusações. Foi grave o que disseram, mas, sobretudo num ano eleitoral, suas declarações devem ser peneiradas pela cautela.

Enquanto o PT denunciava suposta omissão da Polícia Militar, o PSDB lançou acusação muito mais inquietante: um deputado estadual do PT, Luiz Moura, participou em março de uma reunião com a presença de 13 pessoas suspeitas de atuar na facção criminosa PCC.

O encontro deu-se na Transcooper, cooperativa permissionária de linhas de ônibus que faturou R$ 1,8 bilhão em três anos e tem Moura como associado. A polícia investigava a série de atentados contra coletivos na cidade; segundo apurou, 11 dos 13 presentes não teriam ônibus nem ligação com a área, embora em tese discutissem temas de interesse dos cooperados.

Moura diz ter comparecido à reunião com o propósito de impedir uma paralisação do setor. Nega ter ligação com grupos criminosos. Não concorre para sua credibilidade o fato de que foi condenado em 1991 por assalto à mão armada, fugiu da prisão e permaneceu foragido por dez anos.

O deputado estadual tem relações com o grupo político do secretário municipal de Transportes de São Paulo, Jilmar Tatto, de quem recebeu R$ 200 mil para sua campanha eleitoral. Um irmão, Senival Moura, é vereador paulistano pelo PT e fundador de um sindicato de donos de lotações.

Se é cedo para dizer até onde avançam os tentáculos do crime organizado, o PT não pode esperar para conduzir sua própria investigação, célere e sem subterfúgios, acerca desse episódio.

O partido já perdeu, há quase uma década, a aura de paladino da moralidade pública, mas seria devastador ver-se de alguma forma envolvido com a escória das prisões e com o pioneirismo, por aqui, da contaminação mafiosa que tanto envenenou a política italiana.

 
29 de maio de 2014
Editorial Folha de SP

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