Em debate sobre futuro da indústria, economistas sugerem que saída da lerdeza do PIB será lerda
A INDÚSTRIA BRASILEIRA parou no tempo. Produz quase tanto como no longínquo 2008 antes da crise. Economistas reuniram-se ontem em seminário da FGV de São Paulo para discutir causas e meios de dar cabo dessa lerdeza agoniante. No final do dia, porém, a conversa sugeria que muito lerda será também a saída destes anos de crescimento baixo da economia inteira.
Sem prejuízo para os argumentos dos trabalhos mais técnicos e tentativos sobre o organização industrial, o denominador quase comum das apresentações foi o efeito muito importante da taxa de câmbio real no paradão da indústria depois de 2008. Isto é, dos efeitos compostos dos aumentos de custos (basicamente salários) e do câmbio nominal (o "preço do dólar", na verdade das moedas dos países com os quais o Brasil mais comercia).
Câmbio apreciado ("dólar barato") encarece os produtos brasileiros e barateia os de fora, fazendo consumidores e empresas comprarem mais produto importado, grosso modo. Esse efeito do dólar barato é composto pelo aumento de custos, de salários que crescem mais que a produtividade e em ritmo superior ao da concorrência internacional.
Mas qual o motivo do câmbio valorizado demais, o que foi o caso pelo menos até 2011-12? A resposta pode encher Bíblias, a depender do gosto do freguês, mas
inflação, aumento de gasto público, aumentos acelerados do salário mínimo e o aumento maciço de exportações e preços de "commodities" (soja, ferro etc.) são fatores, expostos aqui sem qualquer ordem.
O aumento de salários faz inflar um setor de serviços de produtividade baixa. No caso da indústria, a torna ainda menos competitiva em tempos de liquidação no mercado global de manufaturados (que "sobram" por causa da crise) e de contínua concorrência da mão de obra barata asiática. A perspectiva pequena de ampliação de mercado limita o investimento industrial e, assim, o aumento da produtividade.
Um fator fundamental desse enrosco é a baixa poupança do governo (que gasta um naco enorme do PIB, mas investe muito pouco).
Por que é assim? Porque a sociedade brasileira fez uma opção pela ampliação de gastos sociais desde 1988, diz Samuel Pessôa, colunista desta Folha e professor da FGV do Rio.
Numa chave menos geral, porque há demandas excessivas pelo dinheiro escasso dos impostos, diz Nelson Barbosa, ex-secretário da Fazenda nos anos Dilma e Lula. Isto é, coisas como subsídios diversos para empresas (juros, impostos menores), que o próprio Barbosa chama de "desvalorização fiscal" (dinheiro de impostos para compensar o efeito cambial). Mas também aumentos do mínimo, correção da tabela do IR, gastos sociais básicos (educação, saúde etc.), demandas do funcionalismo, de Estados e municípios, do "financismo" (de quem pede juros mais altos).
Baixa poupança implica menos investimento, juros maiores, no fim da contas. O governo deveria poupar mais e deveria haver incentivos para o aumento da poupança privada. Nada disso deve acontecer tão cedo (exigiria mudanças política e socialmente espinhosas), de modo a permitir um uma alta relevante da taxa de investimento e, assim, do crescimento da economia.
A INDÚSTRIA BRASILEIRA parou no tempo. Produz quase tanto como no longínquo 2008 antes da crise. Economistas reuniram-se ontem em seminário da FGV de São Paulo para discutir causas e meios de dar cabo dessa lerdeza agoniante. No final do dia, porém, a conversa sugeria que muito lerda será também a saída destes anos de crescimento baixo da economia inteira.
Sem prejuízo para os argumentos dos trabalhos mais técnicos e tentativos sobre o organização industrial, o denominador quase comum das apresentações foi o efeito muito importante da taxa de câmbio real no paradão da indústria depois de 2008. Isto é, dos efeitos compostos dos aumentos de custos (basicamente salários) e do câmbio nominal (o "preço do dólar", na verdade das moedas dos países com os quais o Brasil mais comercia).
Câmbio apreciado ("dólar barato") encarece os produtos brasileiros e barateia os de fora, fazendo consumidores e empresas comprarem mais produto importado, grosso modo. Esse efeito do dólar barato é composto pelo aumento de custos, de salários que crescem mais que a produtividade e em ritmo superior ao da concorrência internacional.
Mas qual o motivo do câmbio valorizado demais, o que foi o caso pelo menos até 2011-12? A resposta pode encher Bíblias, a depender do gosto do freguês, mas
inflação, aumento de gasto público, aumentos acelerados do salário mínimo e o aumento maciço de exportações e preços de "commodities" (soja, ferro etc.) são fatores, expostos aqui sem qualquer ordem.
O aumento de salários faz inflar um setor de serviços de produtividade baixa. No caso da indústria, a torna ainda menos competitiva em tempos de liquidação no mercado global de manufaturados (que "sobram" por causa da crise) e de contínua concorrência da mão de obra barata asiática. A perspectiva pequena de ampliação de mercado limita o investimento industrial e, assim, o aumento da produtividade.
Um fator fundamental desse enrosco é a baixa poupança do governo (que gasta um naco enorme do PIB, mas investe muito pouco).
Por que é assim? Porque a sociedade brasileira fez uma opção pela ampliação de gastos sociais desde 1988, diz Samuel Pessôa, colunista desta Folha e professor da FGV do Rio.
Numa chave menos geral, porque há demandas excessivas pelo dinheiro escasso dos impostos, diz Nelson Barbosa, ex-secretário da Fazenda nos anos Dilma e Lula. Isto é, coisas como subsídios diversos para empresas (juros, impostos menores), que o próprio Barbosa chama de "desvalorização fiscal" (dinheiro de impostos para compensar o efeito cambial). Mas também aumentos do mínimo, correção da tabela do IR, gastos sociais básicos (educação, saúde etc.), demandas do funcionalismo, de Estados e municípios, do "financismo" (de quem pede juros mais altos).
Baixa poupança implica menos investimento, juros maiores, no fim da contas. O governo deveria poupar mais e deveria haver incentivos para o aumento da poupança privada. Nada disso deve acontecer tão cedo (exigiria mudanças política e socialmente espinhosas), de modo a permitir um uma alta relevante da taxa de investimento e, assim, do crescimento da economia.
28 de maio de 2014
Vinicius Torres Freire, Folha de SP
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