"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

CAIXA BAIXA

O desempenho insatisfatório da arrecadação em abril é só o início de uma provável fieira de desempenhos igualmente insatisfatórios que se anteveem para 2014.

Como ontem mostrou a Receita Federal, a arrecadação do governo federal teve crescimento real (descontada a inflação) em abril de apenas 0,93%, sobre a arrecadação de março, e de 1,78%, no primeiro quadrimestre do ano sobre igual período de 2013.

É bem menos do que o avanço de 3,0% e 3,5% com que conta o governo para este ano e é fator que coloca em risco a meta do superávit primário de 1,9% do PIB com que está comprometido o governo Dilma.

Esse comportamento é reflexo da atividade econômica fraca nos quatro primeiros meses do ano e da queda do nível de confiança na política econômica do governo Dilma, como demonstram levantamentos da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Não se pode desprezar o impacto da atual política de desonerações tributárias, que veio supostamente para melhorar o desempenho da economia, mas que tende a acentuar a quebra de arrecadação num ambiente de paradeira. A Receita Federal admitiu ontem que, só nos quatro primeiros meses do ano, a renúncia fiscal alcançou R$ 35 bilhões, 8,7% da arrecadação do quadrimestre, e R$ 12,6 bilhões mais alta do que no período de janeiro a abril de 2013.

Esse quadro tende a continuar (ou mesmo a piorar) nos próximos meses. A Copa do Mundo deve derrubar ainda mais o movimento do comércio e da produção nos dois próximos meses, como dirigentes do comércio e da indústria vêm advertindo, e esse enfraquecimento aparecerá na arrecadação de tributos.

Em seguida, o País entrará em clima eleitoral, o que deve segurar ainda mais o investimento e induzir os agentes financeiros a posições mais conservadoras, de adiamento das decisões de compra, à espera de eventuais mudanças de rumo na política econômica e na distribuição das contas da economia, hoje adiada.

Também o consumo começa a enfrentar fase de contemporização. Os programas anteriores do governo, de incentivo à aquisição de veículos e de aparelhos domésticos, provocaram a antecipação das compras. É a principal explicação para a queda das vendas que hoje aflige não só esses dois setores, mas outros segmentos do varejo, porque implicou comprometimento do orçamento doméstico com o pagamento de prestações.

Também é consequência disso a desaceleração do crédito que tem a ver com significativa redução da capacidade de endividamento dos consumidores e aumento da inadimplência. Não dá para ignorar, além disso, o estrago sobre o poder aquisitivo e sobre a capacidade de arrecadar do setor público provocado pela inflação, que deverá acusar em junho o estouro do teto da meta de 6,5% ao ano.

Esse quadro deteriora a percepção que o consumidor e o empresário têm da economia e da política econômica, por mais que as autoridades digam o contrário. Falta saber o quanto esse mau astral poderá influenciar as próximas eleições.

 
28 de maio de 2014
Celso Ming, O Estado de S.Paulo

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