"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

ROMEU TUMA JUNIOR E A "BANALIDADE DAS REPUTAÇÕES"



Uma declaração abre a obra: “em quase trinta e cinco anos de Policia, nunca estive a serviço de governos, mas tão somente da Justiça e, claro, da sociedade, pagadora do meu salário”.
Assim, Romeu Tuma Junior e o jornalista Claudio Tognolli, iniciam um documento que abala as verdades sobre mentiras trabalhadas na república chamada Brasil.
O Delegado de Polícia e ex-Secretário Nacional de Justiça, Romeu Tuma Junior, em depoimento ao Jornalista Claudio Tognolli, constroem um documento histórico sobre verdades e mentiras de um governo que foi feito para o povo, mas me pergunto, que povo?
Com o lançamento da obra, “Assassinato de Reputações – um crime de Estado”, publicado pela editora Topbooks, as 557 páginas aguçam a imaginação do leitor, principalmente do cidadão brasileiro, que desde o descobrimento do Brasil, vive em condições enganadoras. O país parece adorar uma ditadura, seja ela militar, civil, ou até mesmo como Romeu Tuma Junior afirma, “a ditadura do Google”.
Romeu Tuma Junior, independente da forma, tem uma coragem verdadeira, pois afirmar tudo o que ele colocou e compôs na obra, o mesmo tem que ter “culhão”. Após ler detalhadamente “Assassinato de Reputações”, me pergunto, por quê o país não avança nos quesitos Educação, Segurança Pública, Saneamento, Logística, Defesa, Inteligência e Saúde? A resposta parece óbvia, o Brasil não tem um projeto de país e sim um projeto de poder e partido.
Romeu Tuma Junior - Fonte: Veja
Romeu Tuma Junior – Fonte: Veja
Uma vez entrevistei o embaixador americano e espião da CIA, Henry A. Crumpton, e o mesmo foi categórico em afirmar, “líderes dos EUA têm um apetite insaciável por adquirir conhecimento sobre seus pares estrangeiros. Querem conhecer suas políticas e também suas personalidades.
Querem compreender seu caráter. A CIA dedica tempo e esforço substanciais para atender a essas exigências. Líderes estrangeiros desfrutam de grandes e luxuosas suítes de hotel. Isso vem junto com o cargo, com as expectativas de hierarquia e protocolo. Também preferem hotéis próximos de suas embaixadas. Isso explica a tendência de os hotéis mais caros se instalarem numa área delimitada.
Os serviços de inteligência adoram a previsibilidade” (A ARTE DA INTELIGÊNCIA, 2013, Ed. Novo Século), e depois de ver as denúncias de Edward Snowden, e comparar com os fatos apresentados por Romeu Tuma Junior, a análise é muito clara, “Snowden, você perdeu”. Tudo o que o embaixador americano e o espião traidor afirmam são fichinhas perto do que o delegado Tuma Junior afirma. Na verdade nós brasileiros já temos nossa própria NSA.
Jornalista Claudio Tognolli
Jornalista Claudio Tognolli
Os 15 capítulos são fortes e agressivos. Mas a agressividade busca uma verdade, ou pelo menos provoca o leitor a refletir, por quê Romeu Tuma Junior faria e falaria tudo isso? Vingança? Em um primeiro momento pensei nisso, mas depois analisando o contexto, e os fatos apresentado, junto com o próprio cenário do Brasil, o mesmo nos faz um alerta.
Enquanto escrevo este texto, analiso o editorial do Estado de São Paulo de hoje, 29 de dezembro de 2013, sob o tema “A república do despudor”. É notório o desrespeito com a coisa pública. O político de hoje esculacha com a necessidade do cidadão. Por exemplo, a Força Aérea Brasileira de hoje parece só servir para transporte de cabelos, cabeças e carecas, sem contar ministras que se acham as verdadeiras “Ana Marias”, com todo respeito às apresentadoras e seus “louros”.
E quando vemos os desastres no Espírito Santo e Minas Gerais, me pergunto, e os PAC’s? Sem contar a desgraças que os devidos governadores já fizeram. Se acompanharmos as estatísticas e levantamentos científicos que são realizados sob as históricas “chuvas”, era mais do que previsível a catástrofe, mas o governo insiste em fazer cena. E os amigos do governo em potencializar o estado de Madre Tereza de Caucutá para a presidente.
Aí juntamos as parcerias entre Malufs e Sarneys, a coisa está feita. E como diria Florência Ferrer em entrevista ao Jornal Estado de São Paulo de hoje, 29 de dezembro de 2013,“enquanto corrupção se moderniza, mecanismos de controle patinam”, ou melhor “patinham”, andam no mesmo lugar como os patos. A coisa está tão encarnada, que o procurado pela Interpol, o deputado federal pelo PP-SP, Paulo Maluf tenta falar sério, como afirmou em agosto passado, “ninguém encarna melhor o espírito das ruas, de correção na política, do que eu”. Só se for espírito de “porco”, com todo respeito ao suíno.
Mas Tuma Junior e Claudio Tognolli foram certeiros na análise da nova ditadura, da ditadura Google, e também da “tropa de elite” das redes sociais. Hoje se falar algo contra o governo, e principalmente o partido, você é incriminado como Jesus. A turma “de elite” como apregoou o ex-presidente Lula, adora um “Barrabás”. E nessa onda, a sociedade, ou pelo menos 51% dela, parece ser Pilatos, “lavo as mãos”. Aí, como diria o ex-presidente Lula, o Brasil “sifu”.
A obra traz grandes questionamentos: qual o real poder de Gilberto Carvalho? Por quê Lula e Dilma devem tanto a ele? O que realmente aconteceu com Celso Daniel? Quem morreu ou sofreu com as “informações” de Lula, o Barba no DOPS? Por quê o governo insiste em um “Estado Policial”? Por quê o Brasil não tem um projeto de país? Por quê muitos ex-petistas estão abrindo o jogo? Até onde, mesmo preso, José Dirceu manda na Presidência? A Ditadura de 64 é uma desinformação para criar uma fumaça sobre uma nova “ditadura velada”?
No capítulo 7, Romeu Tuma Junior apresenta um contexto importante para entender a lógica perversa, “a demolição ou assassinato da reputação das pessoas, além de levar o indivíduo à morte moral, o que provoca um profundo abatimento de ordem psicofísica, objetiva tirar, antecipadamente, qualquer credibilidade em eventuais ações ou testemunhos”. Na mesma linha, “o Estado não protege. Ainda mais quando o agente malfeitor é o próprio Estado. Então, é muito fácil assassinar a reputação de quem lhe traz qualquer tipo de aborrecimento ou empecilho”. O que vemos, uma nação refém de um Estado, que ela mesmo constituiu, sob uma ótica do “não me ensina a pescar, mas sim me dá o peixe”. Com tantos problemas sociais e de violência, podemos entender que o foco do governo é outro.
Com tantas verdades e mentiras, precisamos entender o fato. Com segurança, e coragem, Romeu Tuma Junior afirma, de forma categórica, detalhes sórdidos, e até nefastos de uma política nada produtiva para o Brasil. Quem está falando a verdade? E qual é a verdade que nós brasileiros devemos saber? Nos fatos apresentados por Tuma Junior, Lula aprendeu com a ditadura e criou uma ditadura velada? As perguntas são fortes. Que Brasil nós temos? Que Brasil nós teremos?
Como ler o livro “MAO – a história desconhecida”, de Jung Chiang e Joh Halliday, publicado pela Companhia das Letras, a história do líder comunista e da tragédia cometida maior do que os nazistas, ler “Assassinato de Reputações – um crime de Estado”, é também entender uma história desconhecida, e pelo que temos acompanhado nas redes sociais, e nas diversas livrarias do país, a história insiste em não se apresentar. Como um silêncio ensurdecedor.
O Blog EXAME Brasil no Mundo conversou com o ex-Secretario Nacional de Justiça e hoje advogado, Romeu Tuma Junior.
Brasil no Mundo: Quais as motivações e idéias para o surgimento do livro “Assassinato de Reputações – um crime de Estado”?
Romeu Tuma Junior: Basicamente o livro surgiu como uma forma de mostrar minha inocência referente as levianas calúnias contra mim levantadas. Não tive espaço para me defender em lugar algum. Ninguém quis me ouvir, por isso precisei escrever. Outra coisa, eu sempre achei que o servidor público deve prestar contas a população sobre seus atos, suas ações e principalmente sobre sua carreira. É uma contribuição para a História que todo Homem público deveria dar. Um relato sem adjetivos, sem assombro, com base em fatos reais. O mais complicado é mostrar que tecnicamente e juridicamente eu nunca fui acusado de nada, nem pela PF, nem pelo MPF e nem pela Justiça. Então quando as pessoas perguntam se fui absolvido, respondo que sequer fui acusado! Ninguém entende isso porquê estavam estampadas “acusações” nas capas dos jornais! Mas quem são os jornais e os veículos de comunicação no sistema judicial? Ninguém! Entretanto não perceberam ainda que são a poderosa arma dos “Assassinos de Reputações”. Vi, também a necessidade de dar um alerta à Justiça e a sociedade, para que se de um basta nessa modalidade criminosa leviana e devastadora, pois aquele que é condenado dessa forma (sem provas e sem defesa) pela “opinião publicada”, recebe uma prisão perpétua. É uma pena de morte moral. Não tem apelação.
Brasil no Mundo: Logo no primeiro capítulo, “Páginas em Branco”, o senhor aborda a questão de princípios de sua vida profissional, e ao mesmo tempo “a falta” de princípios do ex-presidente Lula, e faz um desenho da forma de jogo político que o mesmo trata: “É assim que Lula funciona: nunca sabe de nada, nunca viu nada, nunca ouviu nada. Sempre que pode silencia de forma ensurdecedora sobre temas desconfortáveis para ele e sua gente, usa a tática de se dizer “traído”, mas o verdadeiro Judas nessa história é outro”.  E com todos os fatos expostos pelo senhor no decorrer do livro, podemos tirar a seguinte conclusão: Lula traiu o Brasil e seus “companheiros”?
Romeu Tuma Junior: Sob o aspecto que você pergunta, com certeza sim. E continua.
Brasil no Mundo: Durante anos, a militância de esquerda, principalmente do PT sempre apontaram o dedo riste junto aos militares, e todas as pessoas que de alguma forma tiveram ligação com a ditadura militar de 1964. Mas considerando os procedimentos ideológicos, e todo aparato policial, de inteligência e contra-inteligência que o governo atual utiliza desde Lula, podemos entender que vivemos sob ambientes semelhantes, quiçá piores?
Romeu Tuma Junior: Muito pior agora, porquê estão travestidos de Estado Democrático de Direito e com o um novo modelo de tortura, a psicológica em escala assustadora. O “pau de arara” virtual!
Brasil no Mundo: O senhor afirma que o ex-presidente Lula foi informante do DOPS na época da ditadura. Que prejuízos a dita “luta armada” e outros “companheiros” de Lula tiveram com as suas “caguetagens”?
Romeu Tuma Junior: É uma questão de ponto de vista. Depende de quem, como e porquê acreditava e/ou estava com ele!
Brasil no Mundo: A Presidente Dilma Rousseff “cobrou geral” do presidente americano Barack Obama, referente às denúncias de espionagem maciça realizadas pela central NSA. As denúncias do espião traidor, Edward Snownden, colocam o Brasil como um dos principais alvos. Mas com os fatos apresentados no seu livro, a sociedade brasileira deveria ter mais preocupações com a NSA doméstica do governo brasileiro, em vez dos espiões americanos? Como o senhor vê este trabalho de desinformação da sociedade?
Romeu Tuma Junior: Com profunda preocupação. O desvio do foco é uma arma da contra-inteligência doméstica. Nós temos uma PNI (Política Nacional de Inteligência) criada por quem entende do tema, mas engavetada pelo planalto que não parece ter interesse em regulamentar o assunto. O próprio SISBIN precisa ser reformulado e nada do governo se mexer. Nesse caso o reflexo é um desastre na segurança pública. É mais fácil monitorar o cidadão num sistema sem regulação efetiva e sem política definida. A coisa é tão ridícula, que todo aplicativo que você baixa num equipamento de telefonia celular ou num tablet, você concorda com um contrato onde há termos (cláusulas) que permite acesso aos seus contatos, suas informações, seus arquivos, etc… O governo brasileiro ao invés de atacar os EUA, deveria regulamentar que tipo de contrato ou cláusula pode ser firmado aqui e qual a validade perante a Constituição brasileira e nossa legislação. O mesmo ocorre quando você cria uma conta de e-mail num provedor internacional. Ninguém avisou a Presidente que abrir uma conta no outlook a sujeitava as condições do termo de adesão que ela aceitou? Ela não foi espionada, ela autorizou a bisbilhotagem!
Brasil no Mundo: Infelizmente o Brasil não tem um “Projeto de País”. O senhor destaca com profundidade o “Projeto de Poder do PT”. Como este projeto está hoje? Que riscos e conseqüências corre a sociedade brasileira?
Romeu Tuma Junior: O de perpetuação de um projeto político-partidário com interesses pessoais e não republicamos. Com o tempo, o apoderamento das instituições e Poderes constituídos, por um grupo de indivíduos que atuam com a estratégia de que o fim justificam os meios. Um estado bolivariano.
Brasil no Mundo: A filósofa judia Hannah Arendt, quando acompanhou o julgamento do nazista Eichmann em Jerusalém cunhou o termo “Banalidade do Mal”. Podemos afirmar que hoje existe no Brasil a “Banalidade dos Grampos e do Estado Policial”?
Romeu Tuma Junior: Eu diria mais! Já passamos a fase da banalização dos grampos, estamos na fase da prostituição da quebra do sigilo das comunicações. Obviamente com a conivência de alguns “Promotiras” e “Magitiras”.
Brasil no Mundo: O trabalho com o jornalista Claudio Tognolli tem uma excelente fluidez para a compreensão dos fatos. Mas no início da obra, o senhor afirma que a idéia original foi dada por Mino Carta e Paulo Henrique Amorim. Quais as motivações dos mesmos para a idéia? E por quê Mino Carta em seu último editorial na Carta Capital tentou menosprezar e diminuir seu trabalho?
Romeu Tuma Junior: A motivação foi provar minha inocência! Agora, não consigo entender o que pode levar um jornalista com mais de 50 anos de carreira, que se tornou um ícone no jornalismo, mesmo que amado por uns e nem tanto por outros, possa nessa fase da vida, faltar com a verdade. Talvez algum compromisso que necessitasse daquele gesto. A censura comercial e oficial é uma coisa muito séria, suponho.
Brasil no Mundo: Teremos um “Assassinato de Reputações – Parte II”?
Romeu Tuma Junior: Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos, afinal são 35 anos de carreira, vida pública, mais toda a vivência com meu pai, enfim, vamos aguardar.
30 de dezembro de 2013
Fábio Pereira Ribeiro - Exame

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