Gostei de seu estilo, de sua capacidade de nos levar em suas viagens oníricas por algumas horas, já que a literatura em particular e as artes em geral existem porque a vida real não basta, como se diz.
Um dos personagens do livro, Oshima, que é mulher com corpo de homem, mas que gosta de homem e não tem pênis, explica a visão do próprio autor sobre a importância da imaginação em nossas vidas.
Faz o relato abaixo após duas feministas caricatas reclamarem que não há banheiros exclusivos para mulheres na biblioteca onde ele trabalha, e que se percebe o machismo na ordem dos nomes no catálogo:
Só mesmo quem passou pela experiência de ser discriminado sabe o que isso significa e como são profundas as marcas que tal experiência deixa nas pessoas. A dor é individual, assim como sua marca. De modo que busco imparcialidade e justiça tanto quanto qualquer um. Mas muito mais que isso, o que me desgosta são as pessoas desprovidas de imaginação.
Os “homens vazios” de T.S. Eliot. Gente que preencheu esse vazio, esse vácuo deixado pela ausência de imaginação, com a palha da insensibilidade, e anda por aí sem ao menos se dar conta do que aconteceu com eles. Gente que força os outros a aceitar essa insensibilidade fazendo uso de palavras desprovidas de substância.
Em resumo, gente como as duas mulheres de há pouco.
As pessoas podem ser gays, lésbicas, héteros, feministas, fascistas, comunistas, hare krishna, nada disso me importa. Qualquer que seja a sua bandeira, não me importa. O que eu considero insuportável são as pessoas vazias.
[...]
Mentalidade tacanha e intolerância. Teorias infundadas, palavras vazias, ideais usurpados, sistemas inflexíveis. Estas são as coisas que eu realmente temo e odeio. É muito importante saber o que é certo e o que é errado. E erros de julgamento individuais são na maioria das vezes passíveis de correção. São reparáveis desde que haja coragem para reconhecer o erro. Mas a mentalidade tacanha e a intolerância resultantes da ausência de imaginação são como parasitas: transformam seus hospedeiros, metamorfoseiam-se e continuam a existir. Não há salvação para elas.
Tendo a concordar: nada pior do que gente tacanha, intolerante e sem imaginação. Só não sou indiferente às bandeiras, pois fascistas e comunistas costumam justamente representar com perfeição esse tipo de gente.
Repetidores de slogans vazios, usurpadores de ideais alheios, agressivos e inflexíveis pois lhes falta imaginação para conceber o contraditório, sensibilidade para conviver com divergências de forma civilizada.
Fica, então, meu desejo para 2014: que todos tenham muita imaginação! Comecem com um exercício simples e imaginem um Brasil sem essa gente tacanha do PT no poder…
Feliz 2014!
30 de dezembro de 2013
Rodrigo Constantino
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