"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A INVERSÃO DA EQUAÇÃO


RIO DE JANEIRO - Era comum nos velhos filmes americanos: o vigarista, depois de dar um golpe na praça, fugia para o Rio. A cena final o mostrava feliz da vida, de camisa havaiana, tomando um drinque colorido, de guarda-chuvinha, e cercado de nativos, morenas e araras. O Rio queria dizer o Brasil. Segundo eles, éramos um refúgio seguro para bandidos. Não que não fosse verdade --vide o inglês Ronald Biggs, que assaltou o trem pagador, veio para cá e passou entre nós os melhores 31 anos de sua vida.

Mas há muito a equação se inverteu. Agora são os golpistas brasileiros que fogem para a Flórida, a Europa e até para o Oriente Médio. O inesquecível PC Farias, o banqueiro Salvatore Cacciola, a fraudadora da previdência Jorgina de Freitas e o médico estuprador Roger Abdelmassih foram só alguns que se escafederam nas barbas da Polícia Federal. A eles junta-se agora o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, que se mandou para Roma.

Pizzolato seguiu um "script" dos mais previsíveis: saiu de seu prédio à noite, passou olimpicamente pelo porteiro, viajou de carro milhares de quilômetros e, talvez no porta-malas e com um cobertor por cima, cruzou a fronteira pelo Paraguai. Do qual voou para a Itália, onde desceu como italiano, a salvo de extradição. Mas mesmo uma operação simples como essa não se faz sozinho, nem de graça. Seria didático descobrir quanto lhe custou, quem o ajudou e de onde saíram os recursos.

Como Pizzolato não poderá deixar a Itália, e sabendo que uma "bruschetta" em Roma está pela hora da morte, seus amigos no Brasil se preocupam com sua subsistência. Se não for contratado por um insano banco italiano, terá de vender berinjela na feira livre do Campo de Fiori para se manter.

A não ser que lhe tenha sobrado um troco dos R$ 73,8 milhões que desviou no mensalão.

 
20 de novembro de 2013
Ruy Castro, Folha de SP

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