"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

"A JUSTIÇA SEGUNDO FRANCISCO BOSCO"



Nada mais previsível do que um típico esquerdista. É o caso de Francisco Bosco. Sempre sabemos, a priori, o que ele vai defender em suas colunas no GLOBO, jornal que a mesma esquerda raivosa e jurássica chama de “golpista” e “elitista”. Criminosos dos Black Blocs, mensaleiros, artistas que desejam censurar biografias, tudo encontra em Bosco apoio quase irrestrito.
 
No artigo de hoje foi a vez de sair em defesa dos mensaleiros petistas presos recentemente. Tomem um Engov antes, e depois leiam essas passagens:
 
A classe política é homogênea sob alguns aspectos, mas heterogênea quanto ao aspecto fundamental da ideologia. É um equívoco considerar, a priori, que foi a classe política a condenada na presente ação penal. Não foi. Foi (a então cúpula de) um determinado partido, o Partido dos Trabalhadores, cujas teoria e práxis são fundamentalmente opostas — não importa aqui o quanto esses fundamentos têm sido diluídos — àquelas das classes dominantes cujos interesses são os responsáveis pela desigualdade da Justiça brasileira.
O PSDB, com cujo ideário essas classes se identificam mais, teria cometido infrações análogas, que entretanto permanecem sem julgamento. Pois bem, enquanto o suposto mensalão do PSDB não for julgado — e com o mesmo rigor (para dizer o mínimo) — a presente condenação não pode ser considerada um marco de igualdade da justiça brasileira. Se o “mensalão” tucano e, a partir daí, toda infração cometida por partidos, independentemente de ideologia e da extensão de seu poder, for julgada sob os mesmos critérios, aí sim poderemos dizer, retroativamente, que a condenação dos “mensaleiros” do PT terá sido um marco de igualdade.
 
É muita mentira para poucas linhas! O PT não representa a elite dominante do mundo político? O autor está atrasado há pelo menos 11 anos! Sarney, Collor, Renan Calheiros, Jader Barbalho e até Maluf, são todos eles aliados do PT. Bosco não sabe disso? Dirceu é milionário, anda de jatinho, cobra fortunas por suas “consultorias”, mas não é da “elite política”?
 
O “mensalão” do PSDB em Minas não tem nada a ver com o mensalão do PT em Brasília. Este, ao contrário daquele, visava ao controle total do Congresso, ou seja, foi uma tentativa de golpe em nossa democracia, não um simples desvio de recursos. Bosco não sabe disso ou finge que não sabe para enganar os otários?
 
Em nota oficial, o PT alega ter sofrido um “julgamento nitidamente político e alheio à prova dos autos”. José Dirceu, transformado em personagem-símbolo da punição, disse considerar-se um “preso político de uma democracia sob pressão das elites”. Ouvi e li muitas pessoas rechaçarem como absurdo falar de julgamento político e presos políticos numa democracia. Insisto na dúvida: será mesmo absurdo?
A existência de presos políticos é típica de ditaduras, onde cidadãos são encarcerados por criticarem o sistema. É uma manifestação do arbítrio absoluto que caracteriza os regimes totalitários.
Numa democracia, em princípio, não poderia haver presos políticos, já que o sistema jurídico prevê igualdade de tratamento, independente de ideologia. Mas já vimos que a prática da justiça na democracia brasileira está longe de ser igualitária.
Entre a ditadura e a democracia, como forma ideal, há todo um campo de democracia falha, repleta de desigualdades estruturais, por onde se insinuam e se exercem os arbítrios, a despeito de todas as mediações institucionais que lhe garantem um estatuto democrático.
 
Sim, Bosco, é um absurdo! O PT governa o Brasil desde 2003, indicou quase todos os ministros do STF, as provas e evidências dos crimes desses presos que você defende são contundentes e irrefutáveis. Não há nada de “preso político” aqui, e qualquer pessoa minimamente honesta sabe disso. Apesar do PT, o Brasil não é uma ditadura como Cuba ou Venezuela. E, se fosse, seria uma ditadura a favor do PT, não contra ele!
 
Notem que Bosco, como todo socialista, alega que o Brasil é uma “democracia” com ares de ditadura das elites, que seriam contra o PT, enquanto Cuba acaba defendida por esses mesmos “democratas” como símbolo da “justiça social”. É de embrulhar o estômago de qualquer pessoa minimamente decente…
 
Notem que em nenhum momento declarei injusto, em si, o julgamento do “mensalão” (não teria nem condições de exercer esse juízo; e, entretanto, o mínimo que se pode dizer é que ele foi controverso). Procurei, sim, mostrar que uma justiça pontual pode não significar o aprofundamento da justiça estrutural. Ao contrário, se essa pontualidade for sistematicamente praticada sob determinado viés (de classe, cor, ideologia etc.) ela estará, isso sim, reiterando a desigualdade estrutural. Só com o tempo é que poderemos concluir se a presente condenação terá sido um marco na direção da igualdade — ou a repetição, disfarçada, da nossa histórica desigualdade.
 
Haja cara de pau! Tudo que fez no texto foi levantar suspeitas e fazer afirmações veladas de que foi um julgamento político em uma “democracia” falsa, para depois dizer que não disse o que disse, que o julgamento do mensalão foi injusto.
 
Desigualdade, Bosco, já existiu nesse julgamento. Quantos possuem a fortuna desses petistas, que você insiste em colocar fora das elites dominantes, para pagar os melhores advogados e conseguir protelar tanto o julgamento? Quantos podem furar filas para receber visitas na prisão fora do horário? Quantos contam com apoio tão escancarado de ministros do STF, que mais pareciam advogados de defesa? Quer mais desigualdade do que isso?
 
A elite do PT é o marco da desigualdade do Brasil. Fala em nome do povo, mas concentra privilégios jamais vistos. Igualdade perante as leis é uma bandeira liberal, não da esquerda. A esquerda, que você tão bem representa, Bosco, quer isso mesmo: vantagens para a “turma”, pois os “revolucionários” estariam acima das leis. Os fins “nobres” justificam quaisquer meios, não é mesmo?
 
É lamentável gente como Francisco Bosco defendendo o indefensável. E no jornal acusado pelos mesmos golpistas de ser da “imprensa golpista”. Haja Engov!

20 de novembro de 2013
Rodrigo Constantino, Veja

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