"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

EMOÇÃO DO CORRUPTO NA CADEIA: GENOÍNO CHORA E RECLAMA DE DORES AO REVER FAMÍLIA

'Estou vivendo tudo aquilo de novo', diz Genoino.  Preso no Complexo Penitenciário da Papuda, ex-presidente do PT chora ao rever companheira e lembra do cárcere na ditadura
 
Na prisão desde o último dia 15, o ex-presidente do PT José Genoino está quase sem voz. Condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha no escândalo do mensalão, o deputado licenciado do PT queixa-se de dor no peito e tem agora o olhar apagado, como se estivesse mirando um ponto fixo.
 
"Baixinha, quando eu cheguei nessa prisão senti que estava vivendo tudo aquilo de novo", disse ele a Rioko, sua companheira há 40 anos, segundo relato da filha mais velha do casal, Miruna Kayano Genoino.
 
"Aquilo" é uma referência ao cárcere da ditadura, quando Genoino foi capturado pela polícia após participar da Guerrilha do Araguaia, nos anos 70. Foi naquela época que conheceu Rioko, prisioneira e torturada como ele.
 
"Depois de 40 anos, meu pai e minha mãe se reencontraram numa cadeia", afirmou Miruna, com a voz embargada. "Todos nós choramos muito."
 
Mesmo nos dias de visita no Complexo Penitenciário da Papuda, Genoino nem de longe lembra o homem que se apresentou à Polícia Federal, em São Paulo, com o punho erguido e gritando "Viva o PT!", num gesto de resistência.
 
Dividindo a cela "S 13" com o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, o ex-deputado do PTB Romeu Queiroz e o ex-secretário de Finanças do PL (hoje PR) Jacinto Lamas, ele passa a maior parte do tempo quieto.
 
Submetido há quatro meses a uma cirurgia para dissecção da aorta, Genoino toma vários remédios diários. Por recomendação médica, deve ter uma dieta com menos sal e precisa fazer exames periódicos para controlar a coagulação do sangue, porque sofreu um AVC em agosto. Nesta quarta-feira mesmo passou por novos exames, mas médicos do presídio admitiram não haver ali condições para dar a ele os "cuidados específicos" mencionados no laudo do Instituto Médico Legal (IML).
 
"Nesse momento, não estamos lutando para discutir o julgamento do Supremo Tribunal Federal. Pedimos e imploramos pela prisão domiciliar para o meu pai por uma questão de saúde. Todos os dias a gente acorda e não sabe o que vai acontecer com ele", desabafou Miruna.
 
"Enfermeiros". Dirceu e Delúbio fazem as vezes de enfermeiros no cárcere. Antes de ser transferido para o regime semiaberto, no Centro de Internamento e Reeducação da Papuda, Genoino chegou a tomar água de torneira. "Você não pode beber isso", afirmou Dirceu, que pediu água mineral para o companheiro de cela. Foi atendido.
 
Ele e Delúbio também notaram que o ex-presidente do PT tossia com sangue e trataram de avisar o diretor do presídio. "É emocionante ver como Zé Dirceu e Delúbio estão cuidando do meu pai", contou Miruna.
 
Para ela, tudo ali remete aos tempos da ditadura. Até mesmo a água. Nos anos 70, Genoino recebeu choques elétricos na cadeia e passou sede. Desfalecido, implorou pela água durante horas, até que um carcereiro, escondido, jogou uma garrafa na cela. Genoino nunca viu o rosto dele. Eleito deputado federal, contou o episódio em uma entrevista e o policial se apresentou.
 
Embora todos os condenados do PT se definam como "presos políticos", o deputado licenciado é o que mais preocupa a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os dirigentes do partido. "A prisão, para ele, é uma sentença de morte", resumiu Renato Simões (SP), secretário de Movimentos Populares do PT, que ocupa a vaga de Genoino na Câmara.

20 de novembro de 2013
Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

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