País está entre os cinco emergentes que vão apanhar mais com a reviravolta nos Estados Unidos, diz bancão
O POVO DOS mercados financeiros gosta de inventar moda e apelidos que exprimem suas birras e manias, muitas vezes malucas, quando não perversas.
Quem não se lembra dos PIGs ("porcos", os quebrados Portugal, Irlanda e Grécia)? Ou da bobagem dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), que acabou colando mais que a encomenda?
Apelido ruim por vezes vira destino, como a gente pode se lembrar das crueldades juvenis dos tempos de escola.
Economistas de um bancão americano acabam de inventar um apelido novo para os países "emergentes" com as moedas que mais padecem nestes tempos de reviravolta na política econômica americana (o real do Brasil, as rupias da Índia e da Indonésia, a lira da Turquia e o rand da África do Sul). São as "five fragile", literalmente as "cinco frágeis", tradução que perde a graça da aliteração original e que a gente pode substituir por "cinco fracotes". O apelido começou a pegar.
Entre as moedas dos "emergentes", o real é a moeda que mais apanhou desde maio, quando começou o revertério monetário americano. Isto é, quando o Fed, o banco central deles, anunciou que poderia em breve reduzir o despejo de dinheiro na economia, que, enfim, parece sair da crise de 2008. Os dinheiros do mundo, dólares, refluem para a pátria mãe, com o que se desvalorizam as moedas de "emergentes".
Foram economistas do Morgan Stanley que inventaram o apelido a fim de qualificar os países mais vulneráveis a desvalorizações adicionais e outros tumultos derivados das mudanças americanas.
Brasil, Índia, Turquia, Indonésia e África do Sul estão com resistência baixa ao vírus americano porque todos ou quase todos: 1) têm deficit externo crescentemente incômodo (importam demais, consomem mais do que produzem); 2) são afetados pela freada da economia chinesa e/ou pelo fim do boom de commodities; 3) passaram anos com moedas valorizadas demais; seus produtos ficaram ainda caros devido a inflação alta demais; 4) passam por temporada de alta de juros; 5) têm perspectiva de crescimento em baixa.
Em si mesmos e em teoria, trata-se de fatores que produzem desvalorizações da moeda. O revertério na economia americana junta a fome com a falta do que comer: intensifica a tendência à desvalorização.
A mudança da política monetária americana seria resposta à recuperação da atividade econômica. Logo, parece uma boa notícia, certo? Ainda mais agora que a Europa parece estar menos apodrecida. Os países "emergentes" não poderiam pegar carona nessas melhoras? Além do mais, moedas desvalorizadas estimulam exportações, outro fator que poderia tirar os "fracotes" da lama.
O pessoal do Morgan Stanley, porém, diz que os "cinco fracotes" não vão se beneficiar tão cedo das tênues melhoras nos EUA, que, por ora, vão importar coisas que não estão nas prateleiras do comércio dos emergentes em geral e dos "cinco fracotes" em particular. Além do mais, o efeito das desvalorizações demora um pouco a aparecer positivamente no comércio. Enfim, a gestão macroeconômica dos "cinco fracotes" anda bem desarrumada.
Em suma, os "cinco fracotes" tendem a apanhar nos próximos meses; tendem a levar uma surra quando a política monetária americana efetivamente começar a mudar (talvez quando entrar setembro).
18 de agosto de 2013
Vinicius Torres Freire, Folha de São Paulo
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