"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 3 de fevereiro de 2018

A PROCELÁRIA

Convenhamos que o pior que poderia acontecer ao Brasil seria que todo esse estado de coisas permanecesse como está. Seria, por exemplo, manter nossas desacreditadas instituições públicas, que pouco ou nada servem ao público, custando ao povo os olhos da cara. Seria manter perenizados e intactos os odiosos privilégios e as benesses das incontáveis corporações da máquina governamental. Seria consentir que o populismo perverso e escravagista, aliado ao negocismo voraz e usurpador, mantivesse o povo sem esperança de viver em um país melhor. Seria, em derradeira análise, realizarmos as próximas eleições promovidas por um sistema ultrapassado, falido e podre que nada renovará ou ainda como se diz por aí, seria ver o que é já horrível piorar ainda mais.

Confesso minha angústia que resulta de uma indignação e revolta. Estou farto e exausto de ver antes, e de por causa disso ser acusado de ter visões agourentas.

Percebam como tudo se encaminha para que, inobstante uma ou outra correção de rumo e de prumo que prenda ou afaste da vida pública alguns bandidos que caíram nas malhas da lei, na essência mesmo nossa gente continuará penando neste vale de lágrimas, morrendo nas mãos dos meliantes, nas filas do SUS, sem escolas, sem trabalho, sem futuro e escrava numa sociedade que protege as sanguessugas da riqueza nacional e pune pesadamente quem trabalha e quer produzir, tudo acobertado pelo manto da democracia.

Chamar isto que aí está de democracia é cuspir no rosto do povo, é como colocar um decalque na testa de nossa gente marcando-a de idiota, é julgar que o povo não sente quando, na verdade ele sente e chora muito, escondido e acuado em suas favelas e palafitas, porque impotente entende o que se está passando no seu País.

Já perguntei mais de uma vez nesta tribuna. Que eleições serão aquelas? Não serão as que almejam os verdadeiros democratas, porque a democracia não ocorre quando o voto tem o propósito de depravá-la, iludindo a vontade soberana do povo; quando o voto tem o condão de desvirtuá-la por conta do engodo e da fraude; quando o voto tem por premissa degradá-la em razão de uma ilegítima representatividade.

Vamos para um processo eleitoral torto e viciado; vamos para umas eleições deformadas, desnaturadas; vamos para um processo eleitoral com ladrões da coisa pública e os oligarcas do poder sorrindo impunes, intervindo e fraudando nas urnas seus resultados. É isso mesmo que se quer? É desta forma que querem que aconteça? Não posso aceitar. Não podemos nos render.

O que se faz hoje no Brasil é recorrer ao voto para coonestar à incompetência, a corrupção e o desmando na causa pública e isso tudo é exatamente o que não necessita a verdadeira democracia que nasce do voto livre das amarras e dos currais, do voto que eleva e dignifica o cidadão liberto das esmolas oficiais e da miséria que o aprisiona à indigência. Quem pode fazer uma escolha livre e isenta se tem que mendigar a sobrevivência a quem por ele será escolhido?

Quero pregar aos quatro ventos, quero dizer para nossa gente, sem daí colher efeitos alarmistas ou promover a desesperança, que chegou a hora desta Nação, com os poderes constitucionais que ao povo se concede diretamente, de nos livrarmos em definitivo de tudo isso que levou o Brasil ao caos moral, social e econômico. Não vejo como isso possa ocorrer se o povo e as Forças Armadas não intervierem para promover a ruptura do sistema que apodreceu.

A par disto eleja-se alguém. Quem quer que seja o escolhido, dele o sistema cuidará. E se, por ventura, chegar a tomar posse terá que compor com os bandidos da política, com os poderosos, com os donos das bancas, com os chupins do erário ou não governará. Disto não tenho dúvida e não me venho que com a conversa fiada no sentido de que isso tudo é melhor do que não se praticar a democracia. Não! Não é desta maneira torta e viciada que se alcança o tal estado democrático de direito porque se este for desmoralizado e depravado de nada valerá como até aqui de nada valeu e só muita dor, sofrimento e vergonha trouxe para a gente brasileira.

Avaliemos a situação do novo presidente à mercê das quadrilhas dos Sarney, Collor, FHC, Lula (ainda que preso), Dilma, Temer e tendo que negociar com esse Congresso que aí está, com as sociedades de criminosos travestidas de partido político, com as delinquentes entidades sociais dos esquerdopatas, com as corporações que infestam a máquina pública, com os banqueiros que escorcham e sugam os sofridos recursos do povo ou com os poderosos da indústria e do comércio sócios dos cofres públicos.

Quero dizer aos meus patrícios que penso que se tudo permanecer como agora não há realmente perspectiva de melhora, nem a curto nem em longo prazo. E mais: que as medidas profiláticas que acuaram o desmando e a corrupção que reinavam soltos e impunes não foram e não serão suficientes para matar aqueles malditos vírus sociais posto que subsiste o risco de que voltem fortalecidos e imunes ao remédio aplicado. Quem viver verá.

Digo assim e falo disso tudo porque tenho certeza que é isto que está no fundo do coração de todas as pessoas de bem que pagam a conta do atual descalabro nacional. Vou colher a injustiça e a pecha de alarmista, de golpista e de antidemocrático. Dirão que minha voz é o próprio som das aves agourentas. Lamento. Tudo que virá me parece muito claro, já surge agora nítido e inevitável e é por causa disso que tenho gritado como as procelárias, os pássaros que em bando viajam pelo sertão anunciando as tempestades.


03 de fevereiro de 2018
José Mauricio de Barcellos ex Consultor Jurídico da CPRM-MM é advogado.

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