Concessão de empréstimos a famílias e empresas volta a crescer
O crédito bancário volta a dar sinais de vida, depois de longo período de paralisia. Apesar de o volume total emprestado a empresas e famílias ter fechado o ano passado com pequena queda, de 0,6%, existem dados que indicam um princípio de retomada.
O fluxo de novas concessões passou a crescer, com queda da inadimplência e dos juros, rompendo o ciclo perverso que estrangulou o setor privado e aprofundou a recessão de 2014-16.
As pessoas físicas lideraram o processo, com alta de 8,4% nas novas operações. A queda da inflação protegeu a renda das famílias e facilitou a expansão do consumo.
Os juros médios ainda são altíssimos 32%, em média, e 55% se forem desconsideradas as modalidades direcionadas por lei, como habitação. Entretanto as taxas caíram entre dez e 20 pontos percentuais ao longo de 2017.
A novidade mais recente se dá nos financiamentos para empresas, que enfim romperam o torpor. No último trimestre, houve alta de 16%, a indicar tanto uma recuperação da demanda quanto a maior disposição dos bancos.
Pode-se afirmar que tende a crescer neste ano o volume de crédito na economia que caiu de 55,7% do Produto Interno Bruto ao final de 2015 para 47,1% no passado. O retorno estará mais ancorado nas instituições privadas, que voltam a ganhar participação de mercado.
Enquanto isso, os bancos públicos, sobretudo o BNDES, reduzem operações. O fenômeno é de certa forma natural, na medida em que o banco de desenvolvimento tem foco em financiar o investimento de longo prazo, modalidade que leva mais tempo para reagir às condições econômicas.
De todo modo, as consultas ao BNDES ao menos estão em expansão, o que prenuncia aumento dos desembolsos mais adiante.
A melhora do crédito se soma a outros indicadores positivos, em especial quanto à confiança geral da população. A pesquisa mais recente do Datafolha indica o menor pessimismo com a economia em três anos. Ou, vale dizer, desde o início da crise.
Ainda são elevadas as parcelas dos brasileiros para os quais vai aumentar o desemprego (47%) e a inflação (55%). A evolução benigna das duas variáveis tende a reduzir tais percentuais.
A superação do ciclo recessivo, porém, avança em bases frágeis. Não está garantida a estabilização da dívida do governo, fundamental para que os juros continuem a cair e permaneçam em patamares menos extorsivos.
Mesmo que o PIB cresça 3% neste ano, prognóstico que se torna mais crível, restará muito para recuperar o terreno perdido houve queda de 6,9% no biênio 2015-16.
Mais difícil será manter um dinamismo perene, o que depende de reformas em áreas tão diversas como tributos, abertura econômica e reforma do Estado.
03 de fevereiro de 2018
Editorial Folha de SP
O crédito bancário volta a dar sinais de vida, depois de longo período de paralisia. Apesar de o volume total emprestado a empresas e famílias ter fechado o ano passado com pequena queda, de 0,6%, existem dados que indicam um princípio de retomada.
O fluxo de novas concessões passou a crescer, com queda da inadimplência e dos juros, rompendo o ciclo perverso que estrangulou o setor privado e aprofundou a recessão de 2014-16.
As pessoas físicas lideraram o processo, com alta de 8,4% nas novas operações. A queda da inflação protegeu a renda das famílias e facilitou a expansão do consumo.
Os juros médios ainda são altíssimos 32%, em média, e 55% se forem desconsideradas as modalidades direcionadas por lei, como habitação. Entretanto as taxas caíram entre dez e 20 pontos percentuais ao longo de 2017.
A novidade mais recente se dá nos financiamentos para empresas, que enfim romperam o torpor. No último trimestre, houve alta de 16%, a indicar tanto uma recuperação da demanda quanto a maior disposição dos bancos.
Pode-se afirmar que tende a crescer neste ano o volume de crédito na economia que caiu de 55,7% do Produto Interno Bruto ao final de 2015 para 47,1% no passado. O retorno estará mais ancorado nas instituições privadas, que voltam a ganhar participação de mercado.
Enquanto isso, os bancos públicos, sobretudo o BNDES, reduzem operações. O fenômeno é de certa forma natural, na medida em que o banco de desenvolvimento tem foco em financiar o investimento de longo prazo, modalidade que leva mais tempo para reagir às condições econômicas.
De todo modo, as consultas ao BNDES ao menos estão em expansão, o que prenuncia aumento dos desembolsos mais adiante.
A melhora do crédito se soma a outros indicadores positivos, em especial quanto à confiança geral da população. A pesquisa mais recente do Datafolha indica o menor pessimismo com a economia em três anos. Ou, vale dizer, desde o início da crise.
Ainda são elevadas as parcelas dos brasileiros para os quais vai aumentar o desemprego (47%) e a inflação (55%). A evolução benigna das duas variáveis tende a reduzir tais percentuais.
A superação do ciclo recessivo, porém, avança em bases frágeis. Não está garantida a estabilização da dívida do governo, fundamental para que os juros continuem a cair e permaneçam em patamares menos extorsivos.
Mesmo que o PIB cresça 3% neste ano, prognóstico que se torna mais crível, restará muito para recuperar o terreno perdido houve queda de 6,9% no biênio 2015-16.
Mais difícil será manter um dinamismo perene, o que depende de reformas em áreas tão diversas como tributos, abertura econômica e reforma do Estado.
03 de fevereiro de 2018
Editorial Folha de SP
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