Brasília - O brasileiro é tido como um cara que esquece tudo muito rapidamente. Fala-se que ele tem memória curta, diria curtíssima. Não sei se isso é uma virtude ou um defeito de fábrica. Sabe-se lá. A forma de perdoar seus algozes, um vizinho ruim, um governo imprestável, um político corrupto ou um inimigo ocasional é própria da generosidade do brasileiro, uma gente honesta, bondosa e solidária. Veja um exemplo recente que envolve duas personalidades tão em evidencia nos últimos dias: o Temer insinuou que Janot, o procurador-geral da República, estaria envolvido na caixinha dos donos da JBS, que tiveram a defendê-los nos processos de leniência o procurador Marcelo Miller, braço direito de Janot e até então seu ajudante na apuração dos crimes da Lava Jato.
Menos de 48 depois, silêncio sepulcral. Ninguém fala mais nisso: o procurador envolvido, o Janot, o próprio Temer e a imprensa que não viu nessas acusações nenhuma anomalia do procurador, acusado frontalmente por um presidente da república de envolvimento com o dinheiro ilegal dos Batista. É certamente por isso que o Brasil está enxovalhado, desacreditado e expurgado do convívio das nações emergentes. Não foi à toa que a primeira ministra da Noruega, Erna Solberg, cujo país devasta a Amazônia com a exploração de bauxita, deu um puxão de orelha no Temer que botou o rabinho entre as pernas e voltou humilhado da viagem.
Pois é, não se conhece na história do país um caso de acusação tão grave de um presidente a um procurador-geral da República, que continua administrando o órgão como se nada tivesse acontecido. Trocando em miúdos, o que Temer disse sobre o Janot foi o seguinte: ele facilitou a saída do seu amigo Marcelo Miller da procuradoria para que ele integrasse um escritório de advocacia que administrou o processo de leniência da JBS dos irmãos Batista, quando coincidentemente os dois Joesley e Wesley entregavam seus cúmplices na maior roubalheira aos bancos estatais do país.
Pois bem, você pode achar que até aí nada existe de muito grave. E quando o presidente da república, em pronunciamento oficial à nação, insinua que os milhões de reais dos honorários da JBS não chegaram apenas aos bolsos do Miller? Aí a coisa muda de figura. Temer faz uma acusação grave que merece um esclarecimento mais severo ainda de Janot para evitar que o órgão se contamine por acusações que seriam levianas caso não haja prova do que ele disse.
Janot, muitas vezes tão falante, entrou em silêncio, em letargia. A nota oficial que distribuiu à imprensa não convence, não limpa a lama que foi jogada sobre a toga. E os seus auxiliares na procuradoria-geral não vão reagir? E as associações que protegem esses senhores vão ficar mudas diante de acusação tão grave? Ora, a procuradoria precisa esclarecer à população porque de uma hora para outra alguns de seus honoráveis membros, tão respeitados e acima de qualquer suspeita, estão na berlinda. Um, Ângelo Goulart Villela, está preso acusado de ser o olheiro dos Batista dentro da própria procuradoria. O outro, Marcelo Miller é suspeito de facilitar a vida da JBS, depois que deixou a procuradoria e levou com ele os segredos da Lava Jato. Janot - que se encolheu diante das insinuações de Temer - tem uma filha, Letícia, que trabalha em um escritório que defende a OAS nos acordos de leniência.
Janot se embaralha quando tenta justificar o salvo-conduto que deu aos Batista. Depois que o STF decidiu que a revisão de delação premiada só em casos excepcionais, ele disse que as delações da JBS podem ser invalidades caso fique provado que os executivos do grupo eram líderes de organização criminosa. Mas ao mesmo tempo faz essa ressalva: "Agora, neste juízo inicial (nesse caso), o que se vê é que a liderança da organização criminosa aponta para o lado oposto. São agentes públicos que operaram sobre esta questão. E o dinheiro utilizado para a propina e para gerar todos esses ilícitos, é o dinheiro público. O privado, em princípio, não tem acesso ao comando de liberação de dinheiro público”.
A apresentadora Hebe Camargo, se viva, diria que Janot é uma gracinha, quando acha que os Batista não são os chefes do crime organizado e responsáveis pelos saques bilionários nos bancos estatais. Ora, doutor Janot, para existir o corrupto tem que existir o corruptor.
Essa delação colorida dos Batista ainda vai dar muitos panos pra manga.
01 de julho de 2017
jorge oliveira
Menos de 48 depois, silêncio sepulcral. Ninguém fala mais nisso: o procurador envolvido, o Janot, o próprio Temer e a imprensa que não viu nessas acusações nenhuma anomalia do procurador, acusado frontalmente por um presidente da república de envolvimento com o dinheiro ilegal dos Batista. É certamente por isso que o Brasil está enxovalhado, desacreditado e expurgado do convívio das nações emergentes. Não foi à toa que a primeira ministra da Noruega, Erna Solberg, cujo país devasta a Amazônia com a exploração de bauxita, deu um puxão de orelha no Temer que botou o rabinho entre as pernas e voltou humilhado da viagem.
Pois é, não se conhece na história do país um caso de acusação tão grave de um presidente a um procurador-geral da República, que continua administrando o órgão como se nada tivesse acontecido. Trocando em miúdos, o que Temer disse sobre o Janot foi o seguinte: ele facilitou a saída do seu amigo Marcelo Miller da procuradoria para que ele integrasse um escritório de advocacia que administrou o processo de leniência da JBS dos irmãos Batista, quando coincidentemente os dois Joesley e Wesley entregavam seus cúmplices na maior roubalheira aos bancos estatais do país.
Pois bem, você pode achar que até aí nada existe de muito grave. E quando o presidente da república, em pronunciamento oficial à nação, insinua que os milhões de reais dos honorários da JBS não chegaram apenas aos bolsos do Miller? Aí a coisa muda de figura. Temer faz uma acusação grave que merece um esclarecimento mais severo ainda de Janot para evitar que o órgão se contamine por acusações que seriam levianas caso não haja prova do que ele disse.
Janot, muitas vezes tão falante, entrou em silêncio, em letargia. A nota oficial que distribuiu à imprensa não convence, não limpa a lama que foi jogada sobre a toga. E os seus auxiliares na procuradoria-geral não vão reagir? E as associações que protegem esses senhores vão ficar mudas diante de acusação tão grave? Ora, a procuradoria precisa esclarecer à população porque de uma hora para outra alguns de seus honoráveis membros, tão respeitados e acima de qualquer suspeita, estão na berlinda. Um, Ângelo Goulart Villela, está preso acusado de ser o olheiro dos Batista dentro da própria procuradoria. O outro, Marcelo Miller é suspeito de facilitar a vida da JBS, depois que deixou a procuradoria e levou com ele os segredos da Lava Jato. Janot - que se encolheu diante das insinuações de Temer - tem uma filha, Letícia, que trabalha em um escritório que defende a OAS nos acordos de leniência.
Janot se embaralha quando tenta justificar o salvo-conduto que deu aos Batista. Depois que o STF decidiu que a revisão de delação premiada só em casos excepcionais, ele disse que as delações da JBS podem ser invalidades caso fique provado que os executivos do grupo eram líderes de organização criminosa. Mas ao mesmo tempo faz essa ressalva: "Agora, neste juízo inicial (nesse caso), o que se vê é que a liderança da organização criminosa aponta para o lado oposto. São agentes públicos que operaram sobre esta questão. E o dinheiro utilizado para a propina e para gerar todos esses ilícitos, é o dinheiro público. O privado, em princípio, não tem acesso ao comando de liberação de dinheiro público”.
A apresentadora Hebe Camargo, se viva, diria que Janot é uma gracinha, quando acha que os Batista não são os chefes do crime organizado e responsáveis pelos saques bilionários nos bancos estatais. Ora, doutor Janot, para existir o corrupto tem que existir o corruptor.
Essa delação colorida dos Batista ainda vai dar muitos panos pra manga.
01 de julho de 2017
jorge oliveira
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