Carmen Lins
O jornalista Paulo Alberto Monteiro de Barros, que passou a assinar Artur da Távola na “Última Hora” depois de voltar do exílio, era político, crítico musical e de televisão, apresentador de programas e também um excelente cronista. Neste texto, dedicado à atriz Glória Menezes, Artur da Távola assinala que “cabelo branco não é enfeite”. Eu acho lindo mostrar uma cabeça inteira de cabelos brancos. Tenham um bom sábado.
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CABELOS BRANCOS
Artur da Távola
CABELOS BRANCOS
Artur da Távola
Sempre achei cabelo branco bonito. Recordo algumas pessoas que deixaram seus cabelos brancos ocuparem seu verdadeiro lugar e biografia: a poetisa Adélia Prado, uma amiga querida e sumida (ela se esconde), a escritora Rachel Jardim, algumas figuras femininas européias. E homens também. Ainda me recordo dos belos cabelos brancos desse grande jornalista – e depois senador, que foi o Pompeu de Souza, pessoa querida, ou,desde logo, o professor Antônio Gomes Pena, que foi meu mestre nos anos 50 e, no século vinte e um continua bonito com seus cabelos brancos. Ou o presidente da Academia Brasileira de Letras, o ótimo poeta Ivan Junqueira, que, igual ao pai dele, cultiva um belo cabelo branco.
Quando defendo minha teoria sobre a beleza dos cabelos brancos, a maioria das mulheres discorda e cai em cima de minha acanhada opinião. “Não!“, dizem iradas, “temos o dever de manter um rosto jovem. O cabelo branco envelhece muito!”. Calo-me.
Aí vejo a atriz Glória Menezes, que já teve a coragem há alguns anos de aparecer careca no vídeo (cabelo totalmente raspado), dar um “baile” de delicadeza, beleza ,doçura e interpretação, juntamente (no “baile” de interpretação) com Raul Cortez, em Senhora do Destino. Como está bonita a Glória com aquele cabelo branco! Chega a comover. Um rosto não envelhecido, ornado com a cabeleira branca bem penteada, é das imagens mais belas possíveis em uma mulher. Qualquer cor de tintura que os figurinistas porventura houvessem escolhido para a personagem da “baronesa”, jamais a deixaria tão bela e convincente.
NÃO É ENFEITE – Cabelo branco não é enfeite: é título. Comprova uma existência que se realiza e, segura de si, não mais precisa de artifícios, tudo isso numa sociedade em que o artifício passou a ser moda, a ser marketing, na qual moças de 20 anos já estão a mexer no busto, algumas, coitadas, de modo horrível, a colocar mamões endurecidos, supostamente sensuais.
Cabelo branco é a aceitação sadia do tempo, da vida, da idade, esse privilégio de quem, por muito viver, sabe compreender, perdoar, abrir mão de qualquer forma de inveja dos mais jovens, ser quem é, com humildade e segurança.
Glória Menezes: nunca mais tire esse cabelo branco, e, com licença do Tarcisio Meira, seja por sua atuação, seja pelo cabelo branco, aceite um beijo carinhoso deste seu admirador.
15 de janeiro de 2017
Artur da Távola
Artur da Távola escreveu que a gente pode ter o maior amigo que já morreu há 100 anos. Pois, Artur da Távola morreu em 2007, se não me engano. Mas é um grande amigo que tenho e que adoro. Esta crônica combina com meus cabelos brancos.
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