Análise preliminar do áudio da cabine do avião que caiu com o ministro Teori Zavascki (Supremo Tribunal Federal) indica que houve uma desorientação espacial do piloto, segundo técnicos da Aeronáutica que investigam o caso. A conclusão final dependerá ainda de uma perícia técnica do avião, um King Air C90, sobretudo em seus dois motores. Mas, diante dos indícios coletados até o momento, a desorientação do piloto Osmar Rodrigues é a única hipótese em discussão para explicar a causa do acidente na última quinta (19), de acordo com a apuração conduzida pelo Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos).
A desorientação ocorre, por exemplo, quando o piloto perde a noção do espaço do avião em relação ao solo. Um relatório preliminar deve ficar pronto nos próximos dias.
As investigações apontam que a aeronave voava com um teto de 150 a 200 pés (45 a 60 metros de altitude) pouco antes da queda, ou seja, estava muito próxima do mar em Paraty (RJ). Nas palavras de um técnico do Cenipa, o piloto “ciscava” em busca de uma brecha que facilitasse o pouso no aeródromo da cidade.
SEM COPILOTO – Sem a ajuda de um copiloto e focado em buscar um caminho para aterrissar, o piloto teria perdido a noção de que estava tão perto da água. Sem essa referência visual, ao fazer uma curva, tocou com a asa da aeronave na água, capotando em seguida – além do ministro Teori Zavascki e do piloto, mais três pessoas que estavam a bordo morreram.
A Folha antecipou que, na gravação da cabine, o piloto menciona a chuva na região e não relata problemas na aeronave. Segundo técnicos que ouviram o áudio, o piloto Osmar Rodrigues chega a conversar com outros dois pilotos que sobrevoavam o local naquele momento – um deles o reconhece, chamando-o inclusive pelo apelido de “Mazinho”.
Antes de cair nas águas de Paraty, o avião fez uma tentativa frustrada de pouso, segundo as investigações. Num trecho da gravação, Rodrigues diz a expressão “setor Eco”, que significaria uma curva para o lado leste. Depois, utiliza a palavra “final”, quando estaria então se preparando para pousar.
SEM PÂNICO – Um barulho forte é ouvido, de acordo com os investigadores, pouco antes de a gravação ser interrompida, uma espécie de “ruptura”. Acredita-se que, neste momento, o avião tenha se chocado com o mar. Não há registros de alertas de emergência, pânico, ou algo parecido. De acordo com os técnicos do Cenipa, o áudio captou apenas o que foi dito na cabine – os ruídos de vozes dos passageiros são perceptíveis em alguns momentos, mas “inaudíveis’ tecnicamente.
Durante os 30 minutos de gravação da cabine, é possível identificar, relatam os investigadores, diálogos do piloto com a torre do Campo de Marte, com o controle aéreo de São Paulo, além da conversa com pilotos que sobrevoavam Paraty. Como não há torre de controle na cidade, os pilotos fazem pousos e decolagens de maneira visual e conversam entre eles para orientação e coordenação.
“SEM ANORMALIDADE” – Em nota divulgada nesta terça-feira (24), a Aeronáutica informou que “em uma análise preliminar” os dados extraídos do gravador de voz do avião “não apontam qualquer anormalidade nos sistemas da aeronave”.
A Aeronáutica informou, em texto distribuído à imprensa, que o arquivo de áudio “inclui não só informações de voz, mas outros sons que serão importantes para a investigação”.
“Nós analisamos sons diferentes, em que possamos identificar, hipoteticamente falando, o ruído de um trem de pouso sendo baixado, a aplicação de algum grau de flap ou outro equipamento aerodinâmico da aeronave”, afirmou, segundo o texto divulgado pela Aeronáutica, o coronel Marcelo Moreno, da divisão de operações do Cenipa.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Fica cada vez mais claro o que aconteceu em Paraty. (C.N.)
25 de janeiro de 2017
Deu na Folha
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