Com a revelação do teor da gravação registrada na caixa-preta do avião em que morreu o ministro Teori Zavascki, comprovando o que já se sabia desde os primeiros testemunhos (estava chovendo muito, não havia condições de visibilidade, o experiente piloto já tentara duas vezes o pouso e decidira abortar a aterrissagem), o mistério da queda do King Air vai se desfazendo, embora as teorias conspiratórias tendam a se manter para sempre.
Ao mesmo tempo, está ficando no ar um outro mistério, também intrigante, inquietante e decepcionante. Afinal, o que o ilustríssimo magistrado foi fazer em Paraty, na companhia de um empresário que enriqueceu explorando garimpeiros miseráveis em Serra Pelada, ganhou fama no baixo mundo do Paraguai, é sócio de um banqueiro envolvido na Lava Jato e também costumava atuar como lobista?
Nesse segundo mistério, há a circunstância agravante de o ministro ter viajado sigilosamente. O fim de semana prolongado em Paraty não constava de sua agenda, a segurança do Supremo não foi comunicada, os juízes e assessores de sua equipe desconheciam o roteiro, a família não tinha sido avisada, nem mesmo a namorada de Teori Zavascki sabia da viagem ao litoral.
UMA ENORME SURPRESA – Outra agravante foi que, para encobrir a ida a Paraty, o ministro do STF mandou sua assessoria divulgar na mídia que ele havia interrompido as férias para retomar a relatoria da Lava Jato. Por isso, quando houve o acidente na quinta-feira, foi uma enorme surpresa – todos pensavam que ele estava em Brasília.
O ministro Teori Zavascki há quase um ano namorava Liliana Schneider, gerente de uma das lojas de jóias de Antonio Bernardo no Rio de Janeiro, mas não a levou a Paraty. Viajou no avião do amigo Carlos Alberto Filgueiras em companhia da massagista e dançarina Maíra Panas, de 25 anos, e da mãe dela, Maria Hilda Panas, que completara 52 anos dois dias antes.
Nota emitida pelo Hotel Emiliano diz que a massagista atendia ao empresário, que teria problemas no nervo ciático, e fora convidada a viajar com ele, acompanhada da mãe. A justificativa parece estranha, porque é sabido que não se recomenda massagem sobre a região das vértebras sem orientação médica e acompanhamento. E quem tem está com problemas no nervo ciático nem consegue viajar de avião.
PRIMEIRA VIAGEM – O comerciante Rodrigo Silva, que há um ano vivia maritalmente com a massagista, disse que Maíra jamais viajara com o empresário, a quem conhecia há seis ou sete meses: “Essa viagem estava marcada desde novembro. Iria ela, eu e alguns amigos do Carlos Alberto [Filgueiras]. Só não fomos antes por causa da agenda apertada dele”, afirmou em entrevista a Eduardo Gonçalves, da Veja, acrescentando que não viajou porque estava brigado com a mulher.
É tudo muito estranho. Sabe-se que Teori Zavascki era um homem muito fechado e discreto. Mas fica claro que o empresário Carlos Alberto Filgueiras tinha tanta intimidade com o ministro do Supremo que convidara duas mulheres estranhas para viajar com os dois. Antes da decolagem, Maira até postou uma mensagem dizendo que ia viajar com “um senhor muito chique”.
NAMORADA ARREDIA – Não há notícia de que a namorada de Zavascki, a gerente Liliana Schneider, que é gaúcha de Uruguaiana, tenha comparecido ao enterro dele em Porto Alegre. Ela está arredia, não deu entrevistas. Ao ser procurada pelo excelente repórter Chico Otávio, de O Globo, respondeu com uma lacônica mensagem, dizendo que está vivendo um “momento muito difícil”. Apenas isso.
Tudo é cercado de mistério e as teorias conspiratórias ainda fervilham, baseadas apenas no fato de se tratar do relator da Lava Jato. Se o dono do Hotel Emiliano tivesse morrido sozinho com as duas mulheres, depois do piloto Osmar Rodrigues ter arremetido duas vezes, em más condições de visibilidade, ninguém estaria falando em atentado.
Na verdade, o único mistério que resta é saber por que um homem público como Teori Zavascki se relacionava tão proximamente a um empresário de passado tortuoso, presente nebuloso e futuro duvidoso. As atenções da imprensa e da opinião pública deveriam estar voltadas para esse importantíssimo aspecto da questão, que continua solenemente desprezado pelos cultores das teorias conspiratórias.
25 de janeiro de 2017
Carlos Newton
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