"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 14 de agosto de 2016

VERBA DO FUNDO PARTIDÁRIO (RECURSOS PÚBLICOS) PAGA A MORDOMIA DOS POLÍTICOS



Charge do Dum (dumilustrador.blogspot.com)


















Criado em 1965 durante a ditadura para bancar a autonomia financeira dos partidos, o Fundo Partidário se tornou a grande fonte de renda das legendas, e hoje financia os mais diversos tipos de despesas. De pilha alcalina e cola em bastão a fretamento de aeronaves e programas de TV; de mel orgânico e chocolate Sonho de Valsa a salários de dirigentes; e de lavagem de tapete e pagamento de pedágio a garrafas de vinho e pesquisas eleitorais de interesses político-partidários de parlamentares da sigla.
A diversidade de gasto foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral, na prestação de contas dos quatro partidos com maior bancada na Câmara — PMDB, PT, PSDB e PP —, critério de distribuição do recurso.
Quanto maior a bancada, mais verba. O Fundo é dinheiro público, vindo de dotação orçamentária, multas e penalidades eleitorais. Na maioria dos casos, é, no mínimo, 90% da receita de um partido num ano. O total às siglas deu salto nos últimos anos, de R$ 200 milhões em 2010 a R$ 867,5 milhões em 2015.
CONFIRA OS GASTOS – No PT, há gastos com aluguel de edifício da sede em Brasília, aluguel de aeronave, pagamento de salário de dirigentes do partido, pilha alcalina, cola bastão, chocolate Sonho de Valsa, mel orgânico etc.
O PMDB banca acompanhamento de mídias sociais (Twitter, Facebook, internet), aluguel de aeronave, locação de vans para eventos promocionais do partido, compra de maçã Disney, biscoito Forno Mágico etc.
No PSDB, há fretamento de aeronave, pagamento de advogados (incluindo ações contra Dilma Rousseff no TSE), produção e filmes de propaganda política, gastos com convenção partidária, compra de camisas.
E o PP usa recursos públicos para pagar pesquisas com fins político-partidários para alguns parlamentares do partido, locação de tendas, jantar de confraternização, garrafas de vinho, enquetes em redes sociais, serviço de lavagem de tapete etc.
SEM RESTRIÇÕES – O Fundo paga despesas do dia a dia dos partidos, como conta de luz, salário de funcionários, produtos de limpeza, aluguel, condomínio e IPTU das sedes, e Correios. E custos maiores, como aluguel de aviões, hospedagens e passagens internacionais. Fretamento de aeronaves é despesa comum. O PT pagou R$ 508 mil em seis aluguéis de avião, de trechos diversos. O PSDB gastou R$ 271 mil em aeronaves, em três oportunidades em 2015.
Pela legislação, 20% do Fundo são destinados às fundações ligadas aos partidos, o braço político e doutrinário da legenda, que promovem cursos e difundem sua ideologia.
No PP, a Fundação Milton Campos realiza pesquisas que beneficiam poucos filiados. Vice-presidente da fundação, o senador Gladson Cameli (AC) organizou uma delas a R$ 120 mil, para aferir a popularidade da presidente afastada, Dilma Rousseff, mas, principalmente, as chances de Cameli concorrer ao governo.
“Percebemos que o nome de Gladson ainda aparece forte para o governo do estado. Eles percebem ainda que ele é o candidato que tem mais força para derrotar os Viana (de políticos do PT). Mas ele precisa se redimir antes, ou eles poderiam dar uma chance para outro político que não tivesse suposto envolvimento com corrupção”, conclui a pesquisa no capítulo “Primeiras impressões em relação à sucessão de governo”.
SALÁRIO DE VACCARI – O PMDB usa parte do Fundo para medir sua audiência nas redes sociais. O site do partido, no início de 2015, registrava 54.956 seguidores no Twitter, além de monitoramento de Facebook, com 40.005 curtidas, e YouTube. Ao custo de R$ 27,5 mil mensais. O PT usa o Fundo para pagar salários de dirigentes e funcionários, pouco mais de uma centena. A prestação de contas do início de 2015 exibe que o salário do ex-tesoureiro João Vaccari era de R$ 17,5 mil.
Uma das notas do PP apresentada ao TSE registra consumo de quatro garrafas de vinho, despesa de R$ 360, num jantar em hotel em Canela (RS), em 26 de fevereiro do ano passado. A conta foi paga pela fundação do partido, com verba do Fundo. Procurada pelo GLOBO na última quinta, a fundação respondeu que houve erro no faturamento do hotel e que o contrato não autorizava faturamento de bebida alcoólica. “Entramos em contato com o hotel, que reconheceu o erro e prontamente efetuou o depósito à Fundação Milton Campos”, restituição feita na última sexta-feira.
DENTRO DA LEI – O PT respondeu que sua prestação de contas está de acordo com a legislação. O PSDB confirmou que os gastos foram realizados com recursos do Fundo. Sobre as pesquisas, o PP respondeu que a lei autoriza sua realização para obter dados para projetos de pesquisa, doutrinação ou educação política. “E foi exatamente o que foi feito. São pesquisas qualitativas sobre a percepção da administração, além da imagem de lideranças”.
Advogado do PMDB, Marcelo Nascimento, disse que a prestação de contas do partido foi aprovada com ressalvas e que a legenda tem apresentado as explicações para cada uma delas.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – É por isso que o Brasil já tem 35 partidos e há outros 34 em formação.  Quando a Justiça Eleitoral encontra graves irregulares, exige explicações. Se for constatado desvio de dinheiro, não há maiores punições. O TSE costuma cobrar apenas uma multa, que o partido paga… com recursos do próprio Fundo Partidário, e a festa continua(C.N.)


14 de agosto de 2016
Evandro Éboli e Juliana Castro
O Globo

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