"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 14 de agosto de 2016

BEN CARSON ATACA HILLARY CLINTON AO CITAR SAUL ALINSKY. MAS É PRECISO TOMAR CUIDADO


Conhecido por seu trabalho como neurocirurgião, Ben Carson participou da Convenção Nacional Republicana e desmascarou Hillary Clinton. Segundo ele, Trump é uma pessoa a ser admirada por ter criado empregos e valorizar as pessoas humildes que buscam o trabalho.

Em seguida, Carson citou um dos ídolos de Hillary Clinton, o autor político Saul Alinsky, que em 1971 escreveu a obra “Rules for Radicals”. No prefácio, Alinsky fazia uma referência à Lúcifer, que seria o primeiro radical da história, por lutar pelo seu próprio reino.

Carson questionou: “Quer dizer que nós podemos eleger alguém para presidente que tem como modelo de conduta alguém que louvou Lúcifer?”.

Assista o vídeo:

Vale um alerta essencial.

A citação de Alinsky é realmente polêmica e até ofensiva aos religiosos. Porém, mesmo que o autor seja um esquerdista, sua obra “Rules for Radicals” deveria ser reconstruída por boa parte da direita, pois a maioria das dicas ali contidas são moralmente neutras, ou seja, ficam na mesma categoria que um revólver, uma faca ou um barbeador elétrico. Essas coisas não são “malignas” em si, mas podem ser utilizadas para finalidades macabras.

Um revólver pode ser utilizado para assassinar uma pessoa em um assalto, como também para proteger alguém de ser morto por um assaltante. Logo, o problema está no conteúdo moral de um ato, não na técnica utilizada.

Como se fossem técnicas, estas são as 13 regras para táticas, de Saul Alinsky, que tem ajudado a média dos esquerdistas norte-americanos (e ultraesquerdistas do Brasil) a terem duas ou três vezes mais agilidade mental que a média dos direitistas:

Poder não é apenas o que você tem, mas o que o inimigo pensa que você tem.

Nunca vá além da experiência de sua comunidade.

Sempre que possível, fuja da experiência do seu inimigo.

Faça o inimigo sucumbir pelo seu próprio livro de regras.

O ridículo é a arma mais poderosa do ser humano.

Uma boa tática é uma que a sua comunidade aprecia.

Uma tática que se arrasta por muito tempo se torna um obstáculo.

Mantenha a pressão, com diferentes táticas e ações, e utilize todos os eventos do período para o seu propósito.

A ameaça geralmente é mais aterrorizante que a coisa em si.

A maior premissa para táticas é o desenvolvimento de operações que irão manter uma pressão constante na oposição.

Se você produzir um efeito excessivamente negativo e profundo no oponente isso poderá se voltar contra você.

O preço de um ataque bem sucedido é uma alternativa construtiva.

Escolha o alvo, congele-o, personalize-o e polarize-o.


Não há nada de imoral em seguir as 13 regras acima. Por isso é preciso tomar muito cuidado com a abordagem de Carson. Tudo bem que ele fez um ataque à Hillary para obter o frame da associação a Lúcifer. Aliás, se associar a Lúcifer talvez tenha sido um erro técnico de Alinsky, em uma época em que a disciplina de controle de frame nem existia (Erving Goffman definiu o método em 1974, apenas). Então, tudo bem zoar com Hillary pela associação ao frame de Alinsky. Mas deve-se tomar cuidado para não rejeitarmos os métodos do autor, que deveriam ser moralmente obrigatórios para todos os interessados em guerra política.

Por exemplo, a regra 13 é aquela que o PT utiliza ao definir alvos como “o Cunha”, “o Aécio” ou “a Marina”, centralizando seus ataques em indivíduos claramente identificáveis, ao invés de abstrações. Ou mesmo quando o PT afirma “tenho (x) votos para o impeachment” (sempre blefando), a partir do entendimento de que “poder não é que você tem, mas o que seu inimigo pensa que você tem”. E daí por diante.

Sem aceitar estas regras subconscientemente, a maioria dos direitistas parece criancinha ao se defrontar com um esquerdista que as assimilou. Me lembro que durante o impeachment várias pessoas chegavam apavoradas em meu Facebook, após o PT divulgar “tenho (x) votos para o impeachment” (quando nunca tinham). Eu dizia, todas as vezes: “Que parte da regra tática dizendo que ‘poder não é o que você tem, mas o que o seu adversário pensa que você tem’ você não entendeu?”. Era preciso de muita, muita paciência, pois muitos não haviam assimilado o básico de Alinsky.

Assim, muito cuidado: nada de tomar as palavras de Carson como uma diretiva psicológica que nos diria “quero ficar longe de Alinsky”. É preciso abandonar o maniqueísmo infantil e começar a entender que precisamos adotar boas técnicas para a guerra política. Nisto, Alinsky tem muito a nos ensinar. É difícil praticar uma maldade maior do que deixar que apenas a esquerda tenha os métodos alinskianos em mãos.


14 de agosto de 2016
luciano henrique

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