UMA BOA SURPRESA – O mais interessante de tudo isso é que Temer está se saindo bem. Apesar da “interinidade”, é preciso reconhecer que a situação já melhorou sensivelmente. O dólar despencou, a balança comercial exibe fortes superávits, a Bolsa subiu, até a indústria mostra sinais de recuperação, embora o conjunto da obra ainda seja sinistro, devido ao gigantesco déficit primário e ao aumento progressivo da dívida pública, que em poucos anos chegará a 80% do PIB.
Temer logo será confirmado na Presidência, poderá até fazer alguns acertos no Ministério, mas sem maior alcance, porque a equipe econômica inteira pertence a Henrique Meirelles e o resto é de propriedade dos partidos da base aliada.
AMEAÇA DE CASSAÇÃO – A maior dificuldade é que Temer está sob ameaça de cassação e o problema vem se complicando paulatinamente. Até fevereiro de 2018, confirme já afirmamos aqui na Tribuna da Internet, o ministro Gilmar Mendes, atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral e amigo de Temer, pode até segurar a onda, como dizem os jovens. Mas depois da saída de Mendes, a situação tende a se complicar no TSE.
O fato concreto é que os processos propostos pelo PSDB na Justiça Eleitoral já reúnem provas robustas para cassar o registro da chapa Dilma/Temer. Como a jurisprudência é adversa, vai ser difícil ele se safar, e o próprio Temer, professor de Direito Constitucional, tem plena consciência disso. Por isso, é preciso empurrar os processos para a gaveta mais próxima. Se forem a julgamento, as chances de Temer continuar na Presidência são rarefeitas.
Se contar com a boa vontade do TSE, poderá até concluir o mandato e entregar a faixa presidencial em 1º de janeiro de 2019. Por enquanto, nem adianta sonhar com uma reeleição em 2018. A não ser que quatro dos sete ministros votem a favor do desmembramento das campanhas de candidatos a presidente e a vice, optando por uma decisão antijurídica, meramente casuística e desavergonhada. E isso não é nada fácil de conseguir.
MEIRELLES DISPUTARÁ – Outro fato da maior importância, a ser levado em consideração, é que Henrique Meirelles é candidatíssimo à sucessão presidencial em 2018, pelo PSD. O atual ministro da Fazenda não pensa em outra coisa e já se prepara para concorrer.
Meirelles terá grandes chances na eleição, porque uma expressiva parcela do eleitorado não suporta mais os políticos e demonstra predileção por um candidato independente, sem vínculo com os partidos. Foi por isso que Lula, em 2010, alijou Meirelles da política. O então presidente do Banco Central ia se desincompatibilizar para disputar o governo de Goiás pelo PSD, para depois tentar a Presidência. Lula então prometeu a Meirelles o Ministério da Fazenda no governo Dilma, dizendo que isso lhe daria maior visibilidade para tentar a Presidência em 2014, e ele acreditou. Como se sabe, Lula não cumpriu o acordo e deixou Meirelles no sereno.
NOVOS TEMPOS – Agora tudo mudou, Lula não apita mais nada e Meirelles se tornou uma espécie de primeiro-ministro do governo Temer. É claro que muitas águas ainda vão rolar, mas o futuro da política depende diretamente do desempenho da atual equipe econômica.
De toda forma, Meirelles está mostrando serviço, os resultados começam a aparecer e certamente ele terá apoio incondicional do mercado para disputar a Presidência em 2018, Com muita grana e muita chance, será um candidato fortíssimo. Quanto a Temer, ainda depende de tantas variáveis que é total perda de tempo falar em candidatura à reeleição. Por enquanto, o quadro é esse, e o resto é folclore, como diz nosso amigo Sebastião Nery
14 de agosto de 2016
Carlos Newton
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