Um dos erros mais comuns, em análises econômicas, é comparar as dívidas públicas do Brasil e de outras nações desenvolvidas, como o Japão, que aparentemente estaria em situação muito pior, em relação ao PIB japonês. Acontece que é inviável tentar esse tipo de comparação entre duas economias de qualidades e quantidades completamente opostas, como Brasil e Japão.
O Japão opera com superávit no balanço de pagamentos internacional (balanço de todas as riquezas que entram e saem do país), da ordem de US$ 800 bilhões ao ano, como ocorreu em 2015. Ou seja, sua economia, principalmente a indústria, é uma poderosa bomba de sucção de capital, que a cada ano extrai do mundo cerca de US$ 800 bilhões e injeta no país este espantoso volume de recursos.
Já o Brasil opera com déficit no balanço de pagamentos internacional da ordem de US$ 90 bilhões ao ano, em dados de 2015, fora outras perdas indiretas.
ÀS AVESSAS – A economia brasileira funciona ao contrário, como uma bomba de sucção de capital “invertida”, que a cada ano retira da economia nacional cerca de US$ 90 bilhões e os injeta na economia internacional. Assim, da nossa produção, capitalizamos muito pouco a cada ano.
Outra enorme diferença: o capital internacional controla menos de 20% da economia japonesa. No Brasil controla cerca de 65%. Nos setores industriais mais dinâmicos e rentáveis controla mais de 80%.
Somente estamos bem nas reservas internacionais, é isso que está nos garantindo. O Japão tem US$ 1,255 trilhão, em dados de 2016, e o Brasil ainda acumula US$ 375 bilhões.
OUTRA DIFERENÇA – A dívida pública do Japão está em cerca de 250% do PIB, mas é toda em iene (moeda japonesa) e 100% detida por japoneses. Já a dívida pública brasileira, que está em aproximadamente 70% do PIB, tem 55% em mãos de capitais internacionais, sendo 25% diretamente e outros 30% indiretamente. Isso faz uma diferença enorme em termos de dependência de terceiros.
Resumindo: o Japão produz, muito mais do que consome, enquanto o Brasil consome mais do que produz. Por isso, em termos de comparação econômica, o que vale para um país pode não valer para o outro
14 de agosto de 2016
Flávio José Bortolotto
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