AO DEPOR, LULA DISSE QUE NÃO SABIA DE NADA E CULPOU O INSTITUTO
Em depoimento à Polícia Federal no último dia 4, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou ter procurado qualquer empresa envolvida na Lava-Jato para pedir doações ao Instituto Lula, mas admitiu que funcionários do instituto, como Paulo Okamotto e Clara Ant, podem ter pedido dinheiro “a todas” as empresas. O petista foi levado a depor coercitivamente na 24ª fase da Operação Lava-Jato. A força-tarefa suspeita que Lula era um dos beneficiários dos crimes na Petrobras. Lula disse ainda, quando indagado sobre doações de campanha, que “um Presidente da República que se preze não discute dinheiro de campanha, se ele quiser ser presidente de fato e de direito ele não discute dinheiro de campanha”.
Indagado pelo delegado se procurou alguma empresa, Lula disse:
— Não, porque não faz parte da minha vida política, ou seja, eu desde que estava no sindicato eu tomei uma decisão: eu não posso pedir nada a ninguém porque eu ficaria vulnerável diante das pessoas.
Mas o ex-presidente não descartou que assessores seus possam ter mantido alguma relação com essas empresas. Lula afirmou que não conhece “ninguém que procura ninguém espontaneamente para dar dinheiro” e que, se precisa de recursos para fazer um projeto, “tem que pedir”. No depoimento, colhido no Aeroporto de Congonhas, o ex-presidente ficou irritado, ao ser questionado sobre as doações ao Instituto Lula.
EM BUSCA DE DINHEIRO
O delegado da PF pergunta se é comum as empresas procurarem espontaneamente o Instituto Lula para oferecer doações. Lula responde que não:
– Não. Aliás, eu não conheço ninguém que procura ninguém espontaneamente para dar dinheiro, nem o dízimo da igreja é espontâneo, se o padre ou o pastor não pedir, meu caro, o cristão vai embora, vira as costas e não dá o dinheiro, então dinheiro você tem que pedir, você tem que convencer as pessoas do projeto que você vai fazer, das coisas que você vai fazer. Lamentavelmente, no Brasil ainda não é uma coisa normal, mas no mundo desenvolvido isso já é uma coisa normal, ou seja, não é nem vergonha, nem crime, alguém dar dinheiro para uma fundação, aqui no Brasil a mediocridade ainda transforma tudo em coisas equivocadas.
Por mais de uma vez, o ex-presidente respondeu rispidamente as perguntas dos agentes da Polícia Federal. Um dos momentos que mais incomodou o ex-presidente foi quando questionado sobre quem era o responsável dentro do Instituto Lula por fazer o recolhimento das doações.
PF:- Quem tem essa função de pedir dinheiro em nome do instituto?
Lula: A direção do instituto, isso é feito em qualquer instituto, isso vale…
PF:- Alguma pessoa em específico?
Lula: Isso vale, não, deve ser o tesoureiro e o diretor financeiro do instituto.
PF:- Quem são?
Lula: Hoje eu acho que é o Celso Marcondes, mas isso funciona como qualquer instituto, do Fernando Henrique Cardoso, do Sarney, do Bill Gates, do Bill Clinton, do Kofi Annan.
Mais adiante, Lula continua a responder a perguntas sobre o instituto.
PF: Então é possível, por exemplo, que o próprio Paulo Okamotto ou a Clara Ant tenham pedido doações a qualquer empresa, entre elas a Camargo Correa?
Lula: É possível, é possível.
PF: Certo. O mesmo se aplica à OAS, ou seja…
Lula: A todas.
PF: Odebrecht?
Lula: A todas.
PF: Andrade Gutierrez?
Lula: Aos bancos…
PF: À UTC?
Lula: Todas, todas, todas.
PF: Queiroz Galvão…
Lula: Todas.
PF: Enfim, todas essas fizeram doações ao Instituto Lula…
Lula:- Não sei se todas fizeram.
PF: Não sabe?
Lula: Não sei, querido.
PF: Certo.
Lula: Você perguntou da, da…
PF: Camargo Correa…
Lula: Da Camargo Correa, eu disse que a imprensa já deu que a Camargo Correa tinha doado dinheiro para o instituto e disse que ela doou metade do que doou para o Fernando Henrique Cardoso, o restante…
PF: O senhor saberia dizer quem na Camargo Correa seria o interlocutor da Camargo Correa para fazer doação, ou da OAS?
Lula: Não sei. Não sei.
PF: Alguém da OAS, alguém da Andrade Gutierrez, que a gente possa verificar porque passou por essa pessoa?
Lula: Eu já disse para você que a mim não interessa discutir esses assuntos, não me interessa.
Lula interrompeu o interrogatório para ir tomar café e chegou a bater com os papéis à mesa de acordo com relatos de agentes que participaram do depoimento.
14 de março de 2016
Renato Onofre
O Globo
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