"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 14 de março de 2016

A VOZ DAS RUAS E O PANORAMA VISTO DA PONTE



A manifestação deste domingo é histórica, não pode ser desprezada


















O título, claro, está inspirado da peça famosa de Arthur Miller e a palavra ponte, confesso, me ocorreu em face de imagem usada pelo vice Michel Temer no encerramento da convenção nacional do PMDB. A reportagem de Júnia Gama, Andre de Souza e Simone Iglésias, em O Globo, focalizou bem o trecho em que ele afirmou que não é hora de levantar muros, mas sim de construir pontes. Que pontes seriam essa a que ele se refere? Só poderiam ser com o PSDB e outros partidos, menos com o PT, simplesmente porque a ponte com o PT já está construída desde a aliança de 2010.
Assim, a ponte imaginada por Temer representou um sinal evidente de distanciamento do governo. Aliás, o que se confirmou no curso da Convenção, na medida em que atribuiu-se ao Diretório Nacional, no prazo de 30 dias, a iniciativa de decidir se a legenda deixa ou não o esquema de governo. Parece que sim, apesar de possuir seis ministros de seus quadros. Entretanto, resolveu bloquear a aceitação da sétima pasta, que seria a da Aviação Civil.
Os fatos, no entanto, me fizeram mudar de ideia quando vi, através da GloboNews, as maciças manifestações contrárias à presidente Dilma, ao governo de modo geral e ao ex-presidente Lula em particular, ao mesmo tempo em que todas elas consagravam o apoio ao juiz Sérgio Moro, à Operação Lava-jato, a um combate arrasador contra a corrupção. Com isso, as condições políticas se alteraram ainda mais, ampliando o balanço dos alicerces que restam ao Palácio dom Planalto.
BLINDAGEM DE LULA
Tão forte foram as manifestações que tornaram a meu ver impossível qualquer solução de governo capaz de blindar o ex-presidente Lula contra as ações que se desenvolvem contra ele em duas esferas da Justiça.
Primeiro, pelo vendaval da opinião pública, o que já seria suficiente. Mas também porque a tentativa de blindagem, nomeando-o para um Ministério, teria eficácia discutida. Examinando-se o artigo 102 da Constituição Federal, verifica-se que os ministros de Estado possuem foro privilegiado, em decorrência da prática de crimes comuns ou de responsabilidade. Entretanto, as acusações voltadas contra Lula focalizam o período anterior ao de sua possível nomeação, portanto é discutível se sua investidura fosse capaz, juridicamente, de retornar ao passado para lhe conceder a perspectiva de ser julgado pela Corte Suprema.
UM NOVO HORIZONTE
Na verdade ele foi julgado ontem pela voz fortíssima das ruas e das praças brasileiras. A onda de rejeição levou-o a uma situação de gravíssimo impasse político para ele e para sua sucessora, Dilma Rousseff. Vejam só os leitores como é a política e as observações que se fazem em torno dela.
Pensei em escrever hoje numa direção, porém a intensidade dos fatos conduziu-me a outros caminhos. O projeto de ponte com o futuro continua, nem poderia deixar de ser assim, mas o panorama visto da ponte passou a ser outro. A política e a existência humana são assim. Vamos aguardar a abertura de novos horizontes, porque o atual, visto da Esplanada do poder, foi detonado e evaporou pelos ares da revolta popular. Tarefa difícil, para Dilma Rousseff será reconstruí-lo. Tudo vai depender do povo do país.

14 de março de 2016
Pedro do Coutto

Nenhum comentário:

Postar um comentário