Aconteça o que acontecer com o chamado processo de paz sírio, a guerra à distância entre Washington e Moscou continuará. A EUA-think-tankelândia, enlouquecida pelo descomedimento, pela confiança excessiva, pelo orgulho exagerado, pela presunção, pela arrogância ou pela insolência e pelo exagero, não sabe ver de outro modo o mundo.
Também para os neoconservadores e neoliberais excepcionalistas, o único fim possível para a guerra é a repartição do território da Síria. O sistema de Erdogan passaria a mão no setor norte. Israel passaria a mão nos ricos campos de petróleo das Colinas do Golan. E agentes à distância da Casa de Saud passariam a mão no deserto ocidental.
A Rússia literalmente bombardeou todos esses elaboradíssimos planos reduzindo-os a cinzas, porque o passo seguinte, depois de retalharem a Síria, seria Ancara, Riad – com Washington, mais uma vez, a “liderar pela retaguarda”, obrando para implantar uma Autopista Jihadista, diretamente até o norte do Cáucaso e para a Ásia Central e Xinjiang (já há pelo menos 300 uigures (turcomenos) alistados no ISIS/ISIL/Daesh.) Quando tudo o mais falha, nada como uma Autopista Jihadista cravada como punhal no corpo da integração da Eurásia.
MAR DE PETRÓLEO
No Front chinês, nem todas as mais ‘criativas’ provocações que o Império do Caos venha a inventar conseguirão desviar Pequim dos objetivos traçados para o Mar do Sul da China – a vastíssima bacia cheia até a tampa de petróleo e gás ainda não explorados, e via naval preferencial para entrar e sair da China. Pequim vai-se inevitavelmente configurando, ela mesma, para 2020, como formidável potência naval.
Washington pode fornecer $ 250 milhões em “ajuda” militar para Vietnã, Filipinas, Indonésia e Malásia para os próximos dois anos, mas é praticamente irrelevante. Sejam quais forem as ideias “criativas” do império, em todos os casos têm de levar em consideração, por exemplo, o DF-21D, “carro transporte e disparador” de mísseis balísticos, com alcance de 2.500 km e capazes de transportar ogivas nucleares.
No front econômico, Washington-Pequim continuam como território por excelência de guerra por procuração. Washington promove a Parceria TransPacífico ou o pivoteamento comercial da OTAN para a Ásia? É sempre tarefa de Sísifo, porque as doze nações-membros têm de ratificar o acordo, e não é só nos EUA que há Congresso extremamente hostil.
CONTRAGOLPE CHINÊS
Contra esse malabarismo de uma bola só dos EUA, Xi Jinping, por sua vez, serve-se de estratégia complexa, de três pinças: o contragolpe chinês à Área de Livre Comércio do Pacífico Asiático ; o projeto imensamente ambicioso “Um Cinturão, uma Estrada”; e os meios para financiar um tsunami de projetos, o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, contragolpe chinês ao Banco Mundial e ao Banco de Desenvolvimento da Ásia, controlado por EUA-Japão.
Para o Sudeste Asiático, por exemplo, os números já dizem tudo. Ano passado, a China era o principal membro da Associação das Nações do Sudeste Asiático, com $367 bilhões. Esse valor crescerá exponencialmente com o projeto “Um Cinturão, uma Estrada” – que absorverá $ 200 bilhões em investimento chinês até 2018.
UMA EUROPA SOMBRIA
A perspectiva para a Europa é nada menos que sombria. O pesquisador franco-iraniano Farhad Khosrokhavar foi dos raros capazes de identificar o xis do problema. Um exército jihadista de reserva por toda a Europa continuará a alimentar-se de batalhões de jovens excluídos nas empobrecidas cidades do interior. Não há qualquer evidência de que neoliberais conservadores da UE venham em futuro próximo a promover políticas socioeconômicas capazes de criar novas políticas de inclusão, capazes de extrair dos guetos essas massas excluídas e miserabilizadas.
A via de escape continuará a ser uma versão viral de salafismo-jihadismo, incansavelmente vendida por espertalhões especialistas em “relações públicas” como se fosse alguma espécie de ‘resistência’, e única contraideologia que o mercado oferece. Khosrokhavar definiu-a como uma “neo-Umma” – “efervescente comunidade de miseráveis que jamais existiu na história”, mas que agora está abertamente convocando qualquer jovem europeu, muçulmano ou não, afligido por qualquer tipo de crise de (qualquer) identidade.
Paralelamente, já a caminhos de 15 anos de uma infindável guerra dos neoconservadores contra estados independentes no Oriente Médio, o Pentágono superturbinará uma expansão sem limites de algumas de suas bases já existentes – de Djibouti, no Chifre da África, a Irbil no Curdistão Iraquiano – convertidas em “pólos de expansão”.
PÓLOS DE EXPANSÃO
Da África Sub-saariana ao Sudoeste da Ásia, esperem um boom de “pólos de expansão”, todos prazerosamente cheios de Forças Especiais; a operação foi descrita como “essencial” pelo líder supremo do Pentágono, o secretário de Defesa Ash Carter:
“Porque ninguém pode prever o futuro, esses pólos regionais – de Moron, Espanha, a Jalalabad, Afeganistão – garantirão presença avançada para responder a vários tipos de crise, terroristas e outros tipos. Os pólos regionais permitirão resposta unilateral a crises, operações de contraterror ou ataques contra alvos de alto valor.”
Aí está tudo: o Excepcionalistão Unilateral em ação contra qualquer um que ouse desafiar os
Da Ucrânia à Síria, e por toda a região do Oriente Médio e Norte da África, a guerra à distância entre Washington e Moscou, com apostas cada vez mais e mais altas, não diminuirá. E tampouco diminuirá o desespero imperial quanto à irreversível ascensão chinesa. Com o Novo Grande Jogo ganhando velocidade, e com a Rússia fornecendo às potências eurasianas Irã, China e Índia sistemas de mísseis de defesa muito superiores a tudo que o ocidente tem, podem todos começar a se acostumarem com a nova normalidade: Guerra Fria 2.0 entre Washington e Pequim-Moscou.
(artigo enviado por Sergio Caldieri)
(artigo enviado por Sergio Caldieri)
31 de dezembro de 2015
Pepe Escobar
RT
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