Em depoimento prestado como parte de sua delação premiada na Operação Lava Jato, o lobista Fernando Antonio Soares Falcão, o Baiano, contou ter mantido reuniões em Buenos Aires com dois ex-homens fortes de governos argentinos para forçar que uma empresa controlada pela Petrobras, a Transener, fosse vendida para uma empresa argentina. Por esse negócio bem sucedido, disse Baiano, ele e o então diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, receberam US$ 300 mil cada um em “vantagem indevida”.
Por volta de 2006, a Petrobras decidiu vender sua participação acionária na Transener, empresa responsável pela instalação de linhas de transmissão de alta tensão de energia elétrica na Argentina.
O negócio estava acertado com um fundo dos EUA, mas Baiano e outro lobista brasileiro, Jorge Luz, começaram a trabalhar para que a empresa fosse vendida à argentina Electroingeniería. Baiano disse que Luz foi contratado por essa empresa e o procurou para ter acesso a Cerveró.
COM CERVERÓ
Baiano contou à Procuradoria-Geral da República ter indagado a Cerveró como poderia barrar a venda da Transener aos americanos. O ex-diretor da Petrobras teria dito que era uma tarefa “muito difícil”, pois o negócio já estava acertado, mas que poderia ser evitado caso o governo argentino fosse contrário à venda sob alegação de risco à segurança nacional.
Baiano disse então ter mantido reuniões com Roberto Dromi, que no governo de Carlos Menem (1989-1999) atuou como “superministro” das privatizações, e seu filho, Nicolas, e com o então ministro de Planejamento, Investimento e Serviços nas gestões de Néstor e Cristina Kirchner (2003-2015), Julio De Vido.
As declarações de Baiano contradizem De Vido. Logo após a Folha ter revelado, no último dia 18, as primeiras citações de Baiano aos ex-ministros, De Vido afirmou em uma rede social que “não conhece e nunca viu” Baiano e Luz, embora tenha reconhecido que trabalhou para a Transener permanecer sob controle de argentinos.
DOIS ENCONTROS
Baiano, no entanto, contou aos investigadores ter estado duas vezes com De Vido. A primeira em um almoço em um “casarão anexo ao hotel” Four Seasons de Buenos Aires e outra na casa de um dos sócios da Electroinginiería, Gerardo Ferreyra, um ex-militante do grupo de esquerda armada ERP (Exército Revolucionário do Povo) e amigo de Carlos Zannini, homem forte do governo Cristina Kirchner.
No primeiro almoço, que segundo Baiano foi pago pela Electroingeniería, ele estava acompanhado de Cerveró, Dromi, Nicolas e Ferreyra. Segundo o delator, De Vido “era uma pessoa de muita intimidade com Roberto Dromi e principalmente com Ferreyra”. Baiano explicou que “não pode afirmar” que De Vido tenha recebido “comissões”, mas sobre Dromi disse “acreditar que sim”, pois “foi ele quem trouxe o negócio e certamente não trabalhou de graça”.
O delator disse ter mantido “diversas reuniões” com Dromi, que teria dito ser capaz de “intervir junto ao governo argentino para que este negasse a aprovação da venda da Transener”.
NEGÓCIO FECHADO
O lobista disse que Dromi contou a Cerveró que o então ministro De Vido “estava ciente das tratativas que estavam sendo feitas” por ele “junto à Petrobras para que o negócio fosse direcionado para a Electroingeniería”.
Em 2007, a Petrobras de fato vendeu sua participação acionária na Transener para a Electroingeniería por cerca de US$ 54 milhões.
Além das “comissões” de US$ 600 mil, Baiano disse que Jorge Luz fez pagamentos ao “pessoal do PMDB” no Brasil responsável pela manutenção de Cerveró na diretoria da Petrobras, como os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Jader Barbalho (PMDB-PA), mas não soube dar detalhes de como isso teria ocorrido.
31 de dezembro de 2015
Rubens Valente e Márcio Falcão
Folha
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