Excelente reportagem de Geralda Doca, O Globo de ontem, dia 11, revela que o governo do país está pensando em destinar mais 40 bilhões de reais no setor da construção civil para reabilitar o mercado imobiliário da queda de vendas que vem enfrentando. Nos primeiros quatro meses deste ano, por exemplo,a retração ocorreu em forte escala, inclusive com as retiradas das contas de poupança que superaram por larga margem os depósitos.
Somente no mês de abril os saques superaram os depósitos numa escala de 6,2 bilhões de reais. No mesmo período foram negociados 109 mil imóveis, enquanto no primeiro quadrimestre de 2014 as vendas atingiram 1123 mil unidades habitacionais. Ao estudar a aplicação de 40 bilhões no setor da construção, o governo pensa no mercado de empregos. É bom que se preocupe com este aspecto fundamental, porém a questão não é somente esta. Tem origem no mercado comprador.
Era evidente que, ao reduzir os prazos de financiamento das unidades habitacionais, aumentar os juros e elevar o valor das prestações em decorrência da redução dos financiamentos de 80% para a escala de 50%, o mercado comprador iria sofrer forte redução. Em artigo anterior, citei essa previsão por parte do ex-diretor da Caixa Econômica Federal, Afonso Castilho, de que tal tendência seria inevitável. Um financiamento de 50%, ao invés de 80%, de um imóvel até 750 mil reais, obrigando uma entrada bem maior, o que afasta a possibilidade de compra de substancial parcela da população interessada e adquirir um imóvel para sua residência.
O mesmo fenômeno, em outra proporção, atinge os financiamentos de casa própria no valor de 1 milhão de reais, quando os financiamentos foram reduzidos de 70 para 40% desse valor. Meu amigo Afonso Castilho, como assinalei em texto anterior a este, havia previsto a eclosão de uma crise no mercado, uma vez que as condições mais rígidas de suporte financeiro, tanto pela CEF quanto pelo Banco do Brasil, inibiriam as compras, podendo forçar a queda de preços.
Por este aspecto a crise se confirma, mas sua base encontra-se muito mais no mercado comprador do que no mercado vendedor, estendendo-se, portanto, ao setor da construção civil. Não é provável que uma injeção de recursos da poupança no setor da construção, por si só, possa se refletir em maior elasticidade do mercado comprador.
REDUZIR A INFLAÇÃO
Para enfrentar a crise é indispensável reduzir-se a taxa inflacionária, sem o que os juros dos financiamentos não poderão baixar de escala. Isso porque a inflação dos últimos 12 meses, de abril de 2014 a abril de 2015, alcança 8,2% e a TR com base no índice da FGV incorpora mais 3,5% de correção. Os juros assim passam de 12%, mas sujeitos as variações mensais registradas por esse índice. Com um mercado de emprego retraído, dificilmente o mercado imobiliário poderá ressurgir na superfície econômica do país, pois no fim de tudo a economia é impulsionada pelo consumo de massa, uma vez que não faria sentido algum um setor produzir sem que seus bens fossem comercializados na proporção dos investimentos e dos lucros normalmente auferidos.
IMPOSTOS AGREGADOS
Além desse panorama, o horizonte 2015 assinala um peso de 41% em matéria de impostos agregados aos valores da produção. Sob este prisma, pode se analisar melhor a perspectiva que se coloca na mobilidade das compras e vendas, as quais já se fazem sentir no comércio varejista. Verifica-se principalmente na Zona Sul do Rio o fechamento de grande número de lojas, sinal de que estamos ingressando numa recessão, que o ministro Joaquim Levy preferiu considerar como uma contração. O fato é que ou na recessão ou na contração, como disse o ministro Joaquim Levy, o que não se pode negar, seja qual for a palavra definidora, a existência de uma compressão de despesas que passou a dominar agora o mercado imobiliário, ao ponto de o governo federal admitir a injeção de recursos na construção civil. Porém, o problema neste caso é mais social do que financeiro.
ATENÇÃO, APOSENTADOS E PENSIONISTAS
O INSS, tomei conhecimento pelo rádio do carro, estabeleceu o prazo de até 31 de maio para que os 30 milhões de aposentados e pensionistas comprovem que estão vivos. Têm que comparecer às agências bancárias onde recebem seus vencimentos e fazer a comprovação de sua existência neste mundo.
13 de maio de 2015
Pedro do Coutto
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