Reportagem de Severino Mota, Folha de São Paulo de 10 de março, destaca afirmações feitas pelo ex-diretor da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, quando anunciou em seu processo de delação premiada que as doações eleitorais são uma falácia, uma fantasia, portanto; nunca existiram. O que existia, na prática, eram investimentos de empresas, um tipo de adiantamento para cobrir as comissões ilegais através de aumento de preços das obras públicas contratadas e dos equipamentos vendidos por fornecedores.
Perfeita a explicação, excelente o trabalho do repórter que demonstrou sensibilidade para captação do aspecto essencial, talvez o mais importante de toda a trama que abalou a estatal. Na verdade, os desembolsos feitos pelo sistema empresarial envolvido no esquema nada têm de doação. Esta palavra, no caso, não passa de uma fantasia, uma pílula dourada para tentar um encaminhamento aparentemente lógico às transações entre corruptos, corruptores, intermediários, doleiros e encarregados da lavagem do dinheiro.
Até que enfim aparece alguém que traduz claramente o desenrolar de toda a farsa montada, iluminando-a nitidamente. Se na vida, de modo geral, tem-se por princípio que, fora da escala familiar, ninguém dá nada a ninguém, seria absurdo esperar o contrário da parte dos que detêm parcelas substanciais de capital em suas mãos. Não são doações. São investimentos, constituem a chave através da qual abrem-se as portas para a corrupção de forma ampla e, no caso em tela, para a sequência interminável de assaltos colossais à economia da Petrobras, portanto à estrutura econômica do próprio país.
SEM JUSTIFICATIVA
Dessa forma, como tentar justificar o que concretamente ocorreu? Não há como. Sobretudo quando um ex-gerente da estatal, Pedro Barusco, propõe, sozinho, devolver 97milhões de dólares subtraídos da empresa. E, analisando-se de antemão o processo global dos roubos praticados, o assalto do qual foi protagonista, não foi certamente de 97 milhões de dólares. Esta foi a propina que recebeu. E quanto, na realidade, terão embolsados aqueles que lhe efetuaram os pagamentos? Algumas vezes mais, partindo-se do conceito acentuado por Paulo Roberto Costa de que as doações constituíam uma farsa efetivamente, lançando uma nuvem sobre os investimentos que representavam, atravessando o campo da legalidade para a ilegalidade.
Além de tudo isso, desvendando-se a cortina da fantasia, surge o panorama da sonegação de impostos. Sim. Porque os roubos contra a Petrobras não resultaram em abatimento de seus deveres para com o Imposto de Renda, Por exemplo. Os ladrões (corruptores e corrompidos) não eram taxados em escala alguma. Mas indiretamente a Petrobras era, pois as subtrações contra si não lhe davam direito a reduzir tributo algum.
A diferença da conta era paga pelos acionistas, a começar pelo sócio majoritário, o Tesouro nacional. E, na sequência, podemos colocar a população brasileira, todos nós, portanto. Pois quando surge em meio à tormenta uma doação que Paulo Roberto Costa afirma que, só ela, atingiu 30 milhões de reais, estarrece projetar-se tal episódio numa escala tão inevitável quanto gigantesca. Nunca tantos roubaram tanto de todos nós.
13 de março de 2015
Pedro do Coutto
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