Uma invulgar crise de valores mobiliza o Brasil e toda a sociedade civil visando a uma radical reforma do seu modelo, para a descorrupção acelerada, construção de princípios éticos e a decência nos negócios em geral.
O estatismo empresarial acabou sufocando a crença, a credibilidade e a própria confiança. Duas das maiores empresas que amealhavam os grandes investimentos, Petro e Vale, por razões bem conhecidas hoje, infernam prejuízos monstruosos e com isso empurram o movimento do mercado para uma crise jamais vista.
Evidente que esses detratores do dinheiro público, agasalhados no poder político e na sombra do poder econômico, não merecem apenas uma responsabilização criminal, mas sim administrativa e fundamentalmente
de ordem cível, colocando a mão no bolso para ressarcimento dos danos causados ao Erário.
Ninguém fala nada com nada na atual conjuntura cuja moeda norte americana decola para a casa dos 4 reais, e o pobre plano real já está morto e enterrado. Somente aqueles que não enxergam desafiam a lógica, ao lado de uma irreversível inflação também provocada pela alta do dólar.
Não há saída a curto ou médio prazo e se não debelarmos a chaga da corrupção muito menos a longo prazo. Isso porque o capitalismo que vivenciamos é pródigo nos seus favorecimentos e franciscano na sua visão de valores corporativos incorporados à regra mínima de tutela da sociedade civil.
A magistratura deve encarar de frente essa situação e revolucionar como disse o querido Papa Francisco, ao completar o segundo ano na cadeira de Pedro, os valores em voga no desfalecido País, mediante a criação do Conselho Nacional da Magistratura, órgão a ser composto por um Ministro do STF, um Ministro do STJ, um Ministro do TST, dois desembargadores (um federal e outro estadual), totalizando cinco membros, eleitos pelos seus pares, com vocação de planejamento da entidade, ergonomia e otimização dos serviços e, o mais importante, eleições no propósito de subida às cortes superiores do País.
O clima de propina tornou fragilizada uma grande Nação que não pode se acostumar a permanecer em berço esplêndido ou pressupor que terá forças e reservas cambiárias para suportar a gravíssima crise a qual preocupa, invariavelmente, todos os setores. Inclusive a CNBB acaba de divulgar uma nota com relação ao momento delicado do Brasil e sua preocupação com os movimentos de rua e os desagrados da população.
Nenhuma sociedade por mais próspera que seja consegue se levantar sem um programa de união nacional, sem revitalizar suas linhas ética e moral, pois que a corrupção a qual campeia no Brasil, sem dúvida alguma, dilacera todo o esqueleto da pátria e causa a destruição suprema de valores.
A recuperação do País depende sobretudo do compromisso da classe política, da visão didática dos empresários e da junção da sociedade civil empunhando a bandeira de um novo Brasil, sem as amarras do fel de arroubos violentos contra a democracia e suas instituições.
Não há pior crime do que a corrupção o qual afeta serviços públicos, impacta nos negócios e gera para os investidores o sentimento mais nefasto de se tratar de um País da impunidade no qual grassa tanta mediocridade que o próprio Rui Barbosa, de tanto ver triunfar as nulidades há mais de século atrás, tinha vergonha de ser honesto.
Enquanto os dirigentes da Nação não tiverem vergonha de serem corruptos o Brasil não endireitará.
13 de março de 2015
Carlos Henrique Abrão, Doutor em Direito pela USP com Especialização em Paris, é Desembargador no Tribunal de Justiça de São Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário