A Associação Internacional dos Trabalhadores, que ficaria conhecida comoI Internacional, ou Internacional Anarquista, foi constituída em 1864, na Inglaterra, país aonde, em decorrência da Revolução Industrial, o capitalismo chegara ao seu desenvolvimento mais completo, fazendo com que os naturais conflitos entre operários e patrões ali fossem mais fortes.
A I Internacional, no entanto, só veio a ser efetivamente organizada um ano depois, na Bélgica, quando em um Congresso foram aprovados os seus Estatutos.
Em 1871, de março a maio, durante os 72 dias de existência da Comuna de Paris, Marx, em um Manifesto, conclamou os operários a “tomarem o poder”. A Comuna foi a primeira experiência histórica do chamado “poder operário”.
Em 1876, a I Internacional viria a ser formalmente dissolvida.
A partir da derrocada da Comuna e do conseqüente fim político da I Internacional, decorreram 17 anos até que, novamente, fosse fundado outro organismo de caráter internacional. Em 1871, a Alemanha entrava num processo de expansão industrial similar ao da Inglaterra 20 anos antes. Como fruto desse processo surgiram o Partido Social-Democrata Alemão, fundado por socialistas marxistas; um forte partido socialista na França; a Federação Socialista Democrática, na Inglaterra; e partidos socialistas na Bélgica, Dinamarca, Suécia, Suíça, Áustria e EUA, criando as condições para o surgimento da II Internacional. Ela foi fundada em 1889, em Paris, quando das comemorações do centenário da Revolução Francesa.
A partir da derrocada da Comuna e do conseqüente fim político da I Internacional, decorreram 17 anos até que, novamente, fosse fundado outro organismo de caráter internacional. Em 1871, a Alemanha entrava num processo de expansão industrial similar ao da Inglaterra 20 anos antes. Como fruto desse processo surgiram o Partido Social-Democrata Alemão, fundado por socialistas marxistas; um forte partido socialista na França; a Federação Socialista Democrática, na Inglaterra; e partidos socialistas na Bélgica, Dinamarca, Suécia, Suíça, Áustria e EUA, criando as condições para o surgimento da II Internacional. Ela foi fundada em 1889, em Paris, quando das comemorações do centenário da Revolução Francesa.
Logo depois, a I Guerra Mundial praticamente destruiu a II Internacional, já que seus membros, ao contrário do pacifismo que a sua direção propugnava, lutaram uns contra os outros, defendendo seus Estados nacionais. Então, já havia ocorrido uma cisão no Partido Operário Social-Democrata Russo, em 1903, quando da realização do seu II Congresso, entre bolcheviques(maioria) e mencheviques (minoria), sendo criado o Partido Bolchevique, que 14 anos depois iria tomar o Poder na Rússia.
Ainda antes do fim da guerra, em outubro de 1917, o Partido Bolchevique,ao tomar o Poder. criou as condições para que forças e partidos, à sua semelhança, fossem constituídos em vários países.
Ainda antes do fim da guerra, em outubro de 1917, o Partido Bolchevique,ao tomar o Poder. criou as condições para que forças e partidos, à sua semelhança, fossem constituídos em vários países.
Essas forças e partidos logo aceitaram as famosas 21 condições exigidas pela III Internacional, criada por Lênin em 1919 - também conhecida como Komintern ou Internacional Comunista - para que fossem reconhecidos em nível internacional. O Komintern é assim definido pelo “Pequeno Dicionário Político”, editora Progresso, Moscou, 1984: “Estado-Maior político e ideológico do movimento revolucionário do proletariado”.
A III Internacional foi fundada em março de 1919, em uma reunião realizada em Moscou na qual, afora os russos presentes, a maior parte dos“delegados” representava partidos socialistas e comunistas existentes apenas no papel ou que haviam sido criados especialmente para aquele momento. OPartido Comunista Francês, que ainda não existia, foi “representado” pelo seu único militante, um francês radicado em Moscou. Um outro, norte-americano, também residente na Rússia, falou em nome de um supostoPartido Trabalhista Socialista Americano. Cristian Rakovsky, militante doPartido Bolchevique da Ucrânia, por ser búlgaro de nascimento mas cidadão romeno, representou uma presumível Federação Revolucionária Balcânica.
No caso da Polônia, a fraude foi ainda maior. Foi “representada” por Unschlicht, segundo homem dentro da hierarquia da Cheka, sucessora da Okhrana czarista e antecessora da KGB. Resumindo: a III Internacional foi fundada por 9 pessoas que representavam a si próprias.
Isso não preocupou Lenin, pois afinal o Partido Bolchevique, que então detinha todo o poder, não fora, também, criado por apenas 20 militantes, em 1903? E o POSDR - Partido Operário Socialista Democrático Russo, não fora criado em 1898 também por apenas 9 pessoas?
Como curiosidade, registre-se que o PCB foi fundado em março de 1922 também por 9 pessoas.
Isso não preocupou Lenin, pois afinal o Partido Bolchevique, que então detinha todo o poder, não fora, também, criado por apenas 20 militantes, em 1903? E o POSDR - Partido Operário Socialista Democrático Russo, não fora criado em 1898 também por apenas 9 pessoas?
Como curiosidade, registre-se que o PCB foi fundado em março de 1922 também por 9 pessoas.
O Komintern estava, assim, criado.
As teses de Lênin lidas nessa reunião de fundação, denunciavam e rejeitavam o “falso socialismo” da II Internacional e definiam como principal tarefa “a conquista de maioria nos sovietes nos países onde o poder soviético não tenha ainda prevalecido”. Dessa forma, o padrão russo foi oferecido ao mundo inteiro, muito embora, naquela época, a fraseologia da III Internacional fosse ininteligível aos comunistas dos demais países. Afinal, onde existiam organizações de sovietes, a não ser na Rússia?
Assim, tendo por padrão a estrutura orgânica da III Internacional, e por seu influxo direto, surgiram todos os partidos comunistas do mundo e, sob sua égide foi concretizado o sonho de Marx e Engels: uma organização mundial destinada a ganhar para o comunismo todas as nações, e uma vasta e vaga nebulosa, denominada pelo vocabulário do Komintern de “amplas massas”.
Em troca da adesão ao Komintern, este outorgava aos partidos comunistas de todo o mundo a patente de revolucionários, numa relação periferia-centro que logo ficaria conhecida como Movimento Comunista Internacional.
Essa foi a origem dos vínculos que, por 70 anos, os comunistas da União Soviética mantiveram com todos os partidos comunistas do mundo. Todos iriam trabalhar e atuar quotidianamente, aplicando de forma atávica os esquemas impostos pelo Komintern e, posteriormente, quando este foi dissolvido, em 1943, os esquemas impostos pelo Kominform e pelo Movimento Comunista Internacional, politicamente subordinados, orientados e financiados pelo Partido Comunista da União Soviética, através do seu Departamento Internacional.
Com uma existência efêmera, em fevereiro de 1921 foi criada em Viena, Áustria, pelos partidos socialistas que deixaram a II Internacional e eram hostis à III, a chamada Internacional 2 1/2.
No decurso de todos estes anos, até novembro de 1989, quando o povo alemão derrubou o Muro de Berlim, a organização manteve-se sempre a mesma e a metodologia de ação conservou toda a sua vigência. Só se produziram ajustes na estratégia e táticas políticas.
Para Lênin, que dirigiu a Revolução Bolchevique, o Komintern tinha como objetivo “lutar por todos os meios possíveis para a derrubada da burguesia internacional e para a criação de uma revolução mundial soviética, como etapa de transição à completa abolição do Estado”. Nesse contexto, a ditadura revolucionária do proletariado era o único caminho possível para “libertar a humanidade dos horrores do capitalismo”.
Recorde-se que, segundo o marxismo-leninismo, a “contradição histórica essencial” é a que opõe o capitalismo ao socialismo, e que o capitalismo em sua fase imperialista, bem como a contraposição entre os dois sistemas,“conduz o mundo para o socialismo”.
Essa “condução ao socialismo” não é, todavia, uma marcha fatal, mecânica e inexorável, independente da ação dos homens. Para que essa possibilidade se converta em realidade, torna-se necessária uma “ação consciente” das classes sociais revolucionárias, tanto em nível nacional como em escala mundial. Nesse sentido, a concepção marxista da História é inerente à aceitação da tese de que para passar do capitalismo ao socialismo deve-se produzir, obrigatoriamente, uma “ruptura revolucionária”.
Essa “ruptura revolucionária” terá que existir, mesmo nos casos excepcionais, nunca ocorridos, de que se chegue ao socialismo pela via pacífica e, inclusive, pela parlamentar. A “ruptura revolucionária” se expressa, fundamentalmente, na transformação da propriedade burguesa em propriedade social.
Segundo as leis do desenvolvimento das forças produtivas, imaginadas por Marx, seria inevitável a eclosão do socialismo. Os partidos comunistas, em última instância, apenas cumpririam o papel de aceleradores da História.
De conformidade com esse raciocínio de Marx quanto ao papel dos partidos políticos e a inevitabilidade do surgimento do socialismo, lutar pelo socialismo seria o mesmo, portanto, que lutar para antecipar o nascer do sol ou o cair da noite.
Todavia, o fato de que a contradição entre socialismo e capitalismo seja inelutável, não significa que ela tenha que ser dirimida, necessariamente, através de um conflito armado. A vitória do socialismo sempre foi vislumbrada pelos comunistas como perfeitamente compatível com a coexistência pacífica.
A “luta pela paz e pelo desarmamento”, desenvolvida fundamentalmente nos países da Europa Ocidental, na década de 70, foi um elemento essencial aos objetivos estratégicos do MCI, pois a coexistência pacífica nunca foi entendida pelos comunistas como um compromisso conciliador que conduzisse ao imobilismo. Ela sempre supôs a continuidade da luta ideológica, com a manutenção da luta de classes nas arenas internacional e nacionais.
Foi essa a doutrina do marxismo-leninismo, que serviu de base aos partidos comunistas de todo o mundo.
Após a morte de Lênin, em janeiro de 1924, o Komintern sofreu idêntica evolução à que ocorreu, na mesma época, no PC Soviético. O Komintern, uma instituição concebida por Lênin para ser o estado-maior da revolução internacional, para universalizar a Revolução Bolchevique, ao longo dos anos passou a assumir um caráter cada vez mais burocrático, intervindo sistematicamente nos partidos filiados. Passou a enviar agentes clandestinos e homens de confiança a todas as partes em missões de Inteligência e a recomendar ações. Em suma, o centralismo bolchevique disseminou seu espírito por todo o mundo.
Nada melhor para mostrar a subordinação em que caíram os partidos-irmãos em relação ao Partido Comunista da União Soviética, que a primeira derrota de Trotsky, em 1924, após a morte de Lênin, para a “troika” formada por Stalin, Zinoviev e Kamenev. Essa derrota provocou expurgos nos partidos comunistas europeus.
Etiquetas arbitrárias às quais o partido soviético já se acostumara, como “neomenchevismo”, “trotskismo, “zinovievismo”, “direitismo”, “esquerdismo” e “social-democratismo”, ganharam significado universal, passando a ser utilizadas dentro de todos os partidos comunistas do mundo.
Os líderes dos partidos-irmãos passaram a ser simples sinais na aritmética política russa, peões manipulados pelas manobras de Stalin, fazendo com que toda a aristocracia internacional do comunismo ficasse integrada ao sistema político de Moscou, tornando-se, pela absoluta falta de autonomia, enclaves políticos soviéticos em suas respectivas sociedades, partidos-irmãos em miniatura, com a diferença de que o Estado do qual emanava sua autoridade não era o deles e sim o da “pátria do socialismo”.
Essa obsessão imitativa ficou conhecida pelo nome de “bolchevização”, uma ideologia compartilhada, onde a política passou a ser traduzida nos termos de uma linguagem simultaneamente sagrada e fictícia, separando constantemente os amigos dos inimigos. O Komintern, copiando o partido soviético, passou a ser também uma espécie de clero, destinado, como tal, a ser acreditado piamente.
A força do bolchevismo, assim como o comunismo, não provinha do que ele era, mas do que poderia vir a ser, dependendo da imaginação de cada um.
Inicialmente, a Revolução Bolchevique elegeu o imperialismo como o seu inimigo. Um inimigo, portanto, abstrato e sem rosto. Com a chegada de Hitler ao poder, na Alemanha, em 1933, esse inimigo ganhou um rosto e permitiu que Stalin o singularizasse como o inimigo principal, unindo o comunismo ao antifascismo e inscrevendo a União Soviética na linha de frente das nações democráticas em luta contra o fascismo representado pela Itália e Alemanha. Sem dúvida, uma jogada de mestre, coroada com a tática da formação de “Frentes Populares”, definida pelo Komintern em julho de 1935 e imposta aos partidos comunistas de todo o mundo. Então, Luiz Carlos Prestes, embora não pertencesse ainda ao PCB, já era membro do Komintern. Um fato, sem dúvida, inusitado.
Inicialmente, a Revolução Bolchevique elegeu o imperialismo como o seu inimigo. Um inimigo, portanto, abstrato e sem rosto. Com a chegada de Hitler ao poder, na Alemanha, em 1933, esse inimigo ganhou um rosto e permitiu que Stalin o singularizasse como o inimigo principal, unindo o comunismo ao antifascismo e inscrevendo a União Soviética na linha de frente das nações democráticas em luta contra o fascismo representado pela Itália e Alemanha. Sem dúvida, uma jogada de mestre, coroada com a tática da formação de “Frentes Populares”, definida pelo Komintern em julho de 1935 e imposta aos partidos comunistas de todo o mundo. Então, Luiz Carlos Prestes, embora não pertencesse ainda ao PCB, já era membro do Komintern. Um fato, sem dúvida, inusitado.
Giorgy Dimitrov, búlgaro, Secretário-Geral do Komintern, passou, então, de funcionário desse órgão à posição de herói do antifascismo. Através das “Frentes Populares” o comunismo mudou de face, passando a ser definido não pelo que era, mas pelo que contrapunha a Hitler e ao fascismo, em geral. A violência do nazismo e a estratégia das “Frentes Populares” decidida em Moscou pelo Komintern polarizaram a relação direita x esquerda ao redor do fascismo e do comunismo, cristalizando por longo tempo os sentimentos e as idéias.
A partir daí, o termo “fascista” passou a ser empregado a torto e a direito para qualificar os anticomunistas e até os não-comunistas. O “fascista”, a partir de então, passou a ser a razão de ser do comunista, e a “revolução proletária” tornou-se, assim, em meados da década de 30, a “vanguarda da democracia” contra o fascismo. Genial, pois todos os adversários daRevolução Bolchevique e do comunismo passaram a ser, oficialmente,“fascistas”. Quem criticasse Stalin estaria, automaticamente, a favor de Hitler. O que, certamente, hoje espanta os historiadores, foi a credulidade mundial, na época, diante dessa fábula.
A atitude perante a União Soviética, à Revolução Bolchevique, a Stalin e ao comunismo passou a ser o que distinguia um comunista de um “fascista”.
Todavia, a esquerda estava longe de ser majoritariamente comunista, e a direita comportava apenas um minúsculo número de fascistas de verdade. Enquanto a esquerda via-se reunida na “Frente Popular”, de inspiração comunista, a direita nutria simpatia, se não pelo fascismo, pelo menos pelo anticomunismo ativo dos regimes fascistas.
Todavia, a esquerda estava longe de ser majoritariamente comunista, e a direita comportava apenas um minúsculo número de fascistas de verdade. Enquanto a esquerda via-se reunida na “Frente Popular”, de inspiração comunista, a direita nutria simpatia, se não pelo fascismo, pelo menos pelo anticomunismo ativo dos regimes fascistas.
A teoria básica da “Frente Popular” baseou-se num silogismo contra o qual era difícil e quase impossível alguém se posicionar: se Stalin está contra Hitler, se é hostil ao fascismo, por que seu regime deveria ser combatido? A maioria não vislumbrou que o fascismo e o comunismo nada mais eram que irmãos siameses.
Curiosamente, durante a II Guerra Mundial, no entanto, Stalin, no período de setembro de 1939 a junho de 1941, foi o principal aliado de Hitler, e de junho de 1941 a maio de 1945 o seu principal inimigo.
O Pacto assinado em 23 de agosto de 1939, por Molotov e Ribbentrop, Ministros do Exterior da URSS e da Alemanha, inaugurou uma aliança entre os dois países. Logo no mês seguinte, setembro, URSS e Alemanha invadiram e dividiram a Polônia e, em outubro os três países bálticos - Letônia, Estônia e Lituânia - foram virtualmente incorporados à União Soviética, já que a Alemanha, que tradicionalmente os “protegia”,concordou com essa situação. Tudo isso constava de um protocolo secreto, anexo ao Pacto.
Enquanto a França e a Inglaterra declaravam guerra à Alemanha, logo depois a URSS anexava a parte oriental da Finlândia, a Bessarábia e a Bulkovina do Norte.
Com esse Pacto, o anticomunismo não pôde mais servir de argumento aos simpatizantes do fascismo, assim como o antifascismo também cessou de ser utilizado pelo comunismo. Com isso, a tática da “Frente Popular”, aprovada em julho de 1935 pelo Komintern, que passara a servir de parâmetro a todos os partidos comunistas do mundo contra o fascismo, desmoronou.
Em 1939 a URSS invadiu a Polônia, e em 1945 a “libertou”, embora nos dois casos ela a tenha ocupado, e no segundo mais completamente que no primeiro. Em abril de 1940, o Exército Vermelho massacrou 5 mil oficiais poloneses na floresta de Katyn, crime por muitos anos atribuído, por Stalin, aos nazistas. Somente em 14 de outubro de 1992, após o fim da União Soviética, Boris Yeltsin tornou público o texto da decisão que deu origem a esse e a outros massacres, assinado por Stalin em 5 de março de 1940, ordenando o fuzilamento de 26 mil poloneses internados na União Soviética após a agressão contra a Polônia em setembro de 1939.
Com a assinatura do Pacto URSS/Alemanha, os militantes comunistas de todos os quadrantes ficaram estupefatos, mas agüentaram firmes, sem recuar do preço a pagar, pois, afinal, era esse o preço da revolução proletária. A partir de então, no Ocidente, toda e qualquer crítica à URSS ficou, por definição, banida, pois enveredar por esse caminho seria fazer uma concessão ao fascismo. Uma tática genial!
Apesar do Pacto, Hitler invadiu a URSS em 22 de junho de 1941, fato que, paradoxalmente, levaria Stalin de volta ao campo democrático, ao lado da Inglaterra, França e, depois, os EUA. Então, o antifascismo, posto de lado em agosto de 1939, fez sua volta triunfal em junho de 1941. Pouco importou aos partidos comunistas europeus que essa reviravolta tenha sido tornada inevitável por Hitler e não, livre e soberanamente, decidida por Stalin.
A partir de maio de 1945, com o fim da guerra, a URSS, em nome do antifascismo, passou a exportar e instalar, na Europa Oriental, sociedades de tipo soviético e o comunismo passou a ser louvado pelos intelectuais da Europa Ocidental, ao passo que na Europa Oriental ele era apenas o disfarce da opressão soviética. As nações da Europa Oriental perderam até seus nomes, passando a ser referidas, no repertório soviético, como “democracias populares”, “campo socialista” ou simplesmente “Leste-Europeu”, não passando de meras referências na caminhada do socialismo soviético mundial.
Stalin, ao suceder Lênin, conquistou o poder pela astúcia e pela força bruta, eclipsando seus rivais com seu formidável poder, antes de reduzí-los pelo assassinato e pelo exílio, ou pelos dois juntos, como no caso de Trotsky. O partido único, a ideologia bolchevique, o terror e a polícia política foram heranças leninistas. Ele as uniu num sistema de governo que coroou com o extermínio de seus compatriotas camponeses, acusados de “pequeno-burgueses”. Em seguida, graças ao heroísmo do seu povo, ganhou a guerra, o que conduziu ao fortalecimento de um poder totalitário, transformou a URSS num império e numa superpotência, e conseguiu conferir à idéia comunista um prestígio sem precedentes.
Diz-se que a diferença entre Lênin e Stalin é a de que Lênin matou todos os seus inimigos e Stalin matou os inimigos e os amigos.
Após a morte de Stalin, em 1954, as medidas adotadas por Nikita Kruschev, que o sucedeu, compondo uma “troika”, da qual em pouco tempo os dois outros - Melenkov e Kaganovitch - seriam alijados, atingiram todo o comunismo internacional. Os acontecimentos desses anos no mundo comunista prefiguram, em menor escala, o roteiro do desmoronamento do comunismo, 36 anos depois. No ápice do sistema, em Moscou, o estado-maior político tentou reformar o regime herdado de Stalin, eliminando o terror dentro do partido e as coerções militares, reduzindo o medo e libertando ou reabilitando as vítimas do terror.
No entanto, na Europa Oriental, nem as oligarquias stalinistas e nem a própria idéia comunista iriam sobreviver facilmente a essas mudanças de rumo.
Os primeiros sinais de “desestalinização” puseram em perigo todo o arcabouço comunista. Na Alemanha Oriental, em junho de 1953, eclodiu, desde Kronstadt, a primeira grande revolta popular contra o comunismo. Nos dias que se seguiram, os tanques soviéticos acabaram com a insurreição. Em seguida, em junho de 1956 - logo após o “terror” de Stalin ter sido condenado por Nikita Kruschev-, foi em Poznan, Polônia; em outubro de 1956, foi a Hungria, em 1968, a Checoslováquia, e em 1970, novamente a Polônia. Em 24 de fevereiro de 1956, o famoso “discurso secreto” de Kruschev, no XX Congresso do PCUS, foi, para os historiadores das idéias comunistas, provavelmente o texto mais importante escrito neste século.
Como agora, naquela época, a palavra-de-ordem da maioria dos comunistas foi a de “uma volta a Lênin”. Aliás, agora, os comunistas mostram-se mais radicais, pois passaram a pregar “uma volta a Marx” e ao Manifesto Comunista, ou seja, uma volta ao século XIX.
O grande problema de Kruschev ao preparar seu discurso deve ter sido, sem dúvida, descobrir o que dizer sem envolver os sucessores de Stalin – um deles era ele próprio -, nem o partido e nem o regime. O segredo do discurso esteve em sua dosagem: romper, mas continuar; revelar, porém ocultar; sacrificar o terror para conservar todo o resto. Kruschev batizou de “culto à personalidade” o mal que condenou, pois como construir uma sociedade socialista sob o poder absoluto de uma só pessoa? Seria uma contradição intolerável... se permanecesse oculta. Mas Kruschev, em seu discurso secreto, negou-a. O que Kruschev não explicou foi o que tornou possível que esse “culto” se desenvolvesse.
Em abril de 1956, Kruschev decidiu dissolver o Kominform. Suas tarefas, todavia, foram passadas ao Departamento Internacional do PCUS até o seu fenecimento, em 1991.
A morte de Stalin, seguida da “desestalinização”, deu espaço a forças centrífugas pelo duplo efeito do afrouxamento - e não o fim - do terror e de certa margem de manobra no interior da ideologia. Sob Kruschev, a URSS“evoluiu” de um Estado totalitário para um Estado policial. O comunismo, no entanto, nunca mais seria como antes, e começava a sua recauchutagem, que pareceu interminável, até o fim dos regimes comunistas, cerca de 30 anos depois.
No que diz respeito à América Latina, em 1925, logo depois da fundação do Komintern, foi instalado em Buenos Aires o “Bureau Sul-Americano” do Komintern - que ficou conhecido como “BSA” -, com a tarefa de coordenar as atividades dos partidos comunistas na região. Nesse sentido, o papel do Partido Comunista Argentino, como correia de transmissão da política do Komintern, passou a ser decisivo, uma vez que o PCA já possuía contatos com dirigentes da Internacional, em Moscou, que eram os que, de fato, dirigiam o PC Argentino.
Nessa época, o Partido Comunista Argentino era o mais importante da América Latina. Já contava, em 1923, com cerca de 3.300 militantes.
Em 1928, o “Bureau Sul-Americano” passou a ter existência legal na Argentina e a refletir as forças e precariedades do Komintern na região. Abolchevização, ou seja, a aplicação irrestrita das 21 condições leninistas e a adesão incondicional à União Soviética, “pátria do socialismo”, era a condição essencial para que qualquer Partido Comunista fosse admitido como membro do Komintern.
Em 1928, o “Bureau Sul-Americano” passou a ter existência legal na Argentina e a refletir as forças e precariedades do Komintern na região. Abolchevização, ou seja, a aplicação irrestrita das 21 condições leninistas e a adesão incondicional à União Soviética, “pátria do socialismo”, era a condição essencial para que qualquer Partido Comunista fosse admitido como membro do Komintern.
O Partido Comunista Brasileiro, fundado em 1922, logo em seu Congresso de fundação aceitou essas condições, como escreveu Astrojildo Pereira em seu livro “A Formação do PCB” (editado em Lisboa em 1976). Tanto é assim, que nesse Congresso assumiu a denominação de “Partido Comunista do Brasil, Seção Brasileira da Internacional Comunista”.
Segundo o comunista argentino Luis Sommi, enviado do PC Argentino aoKomintern, em fins de 1934 a III Conferência Comunista Latino-Americana, realizada em Moscou, aprovou a deflagração, no Brasil, de um movimento armado. Nesse sentido, a Conferência respaldou a constituição da ANL - Aliança Nacional Libertadora, que pouco depois, em julho de 1935, viria a ser criada e serviria como uma organização de fachada do Partido Comunista Brasileiro.
William Waak autor do livro “Camaradas”, editado em 1993, assinala que a Intentona Comunista seria impossível de ser explicada sem levar em conta a personalidade carismática de Prestes, então membro do Comitê Executivo do Komintern. Baseado em dados inéditos, pesquisados nos arquivos do PCUS e do Komintern, em Moscou, William Waak demonstrou que a Intentona Comunista teria sido mais uma ação do “prestismo” do que do comunismo.
13 de março de 2015
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