É exatamente isso: ao pedir o engajamento de ministros numa mobilização junto ao Congresso Nacional para aprovar os projetos de ajuste fiscal elaborados pelo ministro Joaquim Levy, a presidente Dilma Rousseff reconheceu tacitamente a dificuldade de sua aprovação pelos deputados e senadores. Não pode haver outra interpretação para o que revelou reportagem de Natuza Nery, Valdo Cruz, Mariana Haubert e João Magalhães, publicada na edição de terça-feira da Folha de São Paulo. Claro.
Além disso, o que, no caso, significa a palavra engajamento? Representa, na verdade, um instrumento de pressão e persuasão. Jogo de influências. Logo, a presidente da República revela publicamente que a questão é difícil. Que há sérios obstáculos e que, para transpô-los necessita de uma ajuda em bloco fora dos eixos da consciência, deslocando o dilema para o terreno sinuoso das influências, através da máquina do poder. Ocorre que, não só as engrenagens estão enguiçadas, como igualmente enguiçadas estão as razões embutidas no ajuste das contas governamentais. O projeto Joaquim Levy está fracassando visivelmente.
Assim não fosse, os índices de popularidade do governo e da presidente não seriam tão baixos como estão. Além do revelado pela pesquisa do Datafolha, agora surge levantamento da MDA, encomendado pela Confederação Nacional dos Transportes, presidida pelo ex-senador Clésio Andrade, confirmando a direção dos ventos soprados pela opinião pública.
NELSON BARBOSA ESCALADO
Enquanto isso, o ministro Nelson Barbosa foi escalado pelo Planalto para, no lugar de Joaquim Levy, articular-se com as lideranças parlamentares. Pois é possível que Dilma Rousseff o considere politicamente mais capaz do que o ministro da Fazenda. O que não é difícil reconhecer, dada a inabilidade/incapacidade de Joaquim Levy, comprovada em episódios anteriores, como, por exemplo, quando admitiu uma recessão para os primeiros meses deste ano. Depois veio o caso das críticas feitas a medidas tomadas pela presidente Dilma ao longo do primeiro ciclo de seu governo, entre elas as desonerações. Guido Mantega ainda estava à frente da Fazenda no período em foco. Foi o tom coloquial o culpado.
Mas Nelson Barbosa também protagonizou as cenas principais da série sobre o novo salário mínimo, cujas regras não foram inicialmente estabelecidas até agora, embora esteja em vigor a lei sobre a matéria. Este ponto, inclusive, pretendo focalizar num próximo artigo.
AJUSTE FISCAL
Mas retornando ao ajuste fiscal, a dificuldade da aprovação encontra-se no próprio conteúdo social das propostas. Pois, vale frisar, se assim não fosse, não haveria razão para Dilma recorrer a uma equipe ministerial para representá-la nas conversações. Ela mesma teria assumido a tarefa, a qual, aliás, politicamente lhe compete, não a um grupo selecionado de ministros. No qual, aliás, não se encontra mais Aloizio Mercadante, comprovando-se assim seu enfraquecimento no primeiro escalão do Poder Executivo. Mas esta é outra questão.
O tema principal, no momento, desdobra-se entre a impopularidade da presidente, de um lado, e a dificuldade dos projetos econômicos, de outro. Uma dualidade convergente, sem dúvida. Mas existe outra, esta uma divergência que coloca a posição do próprio PT, num campo de visão, e a visão da equipe econômica no lado oposto.
Essas contradições são obstáculos difíceis de conciliar e superar.
26 de março de 2015
Pedro do Coutto
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