O estudo do neo-ateísmo nos leva obrigatoriamente ao reconhecimento de um padrão que deveria se tornar imperativo para nós: o esvaziamento do discurso alheio. Mas o que seria esse tal “esvaziamento de discurso alheio”?
Melhor do que tudo é observarmos um exemplo claro: o famoso caso do “monstro de espaguete voador”.
O fato é que, cansados de serem rebatidos com a declaração teísta dizendo “você não entendeu nada da teologia de Paul Tilich”, alguns neo-ateus resolveram criar uma sátira da religião. A ideia veio a partir de Bobby Henderson, em resposta a uma decisão do conselho educacional de Dover, Pensilvânia. O conselho queria que o design inteligente (versão “chique” do criacionismo) fosse ensinado em salas de aula.
Em uma carta aberta enviada ao conselho de educação do Kansas, Henserson dizia acreditar em um criador sobrenatural chamado Monstro de Espaguete Voador, formado por espaguete e almôndegas. A religião seria o pastafarianismo, e deveria ser ensinado nas aulas de ciência, assim como ocorre(ria) com o cristianismo.
A ideia era tirar o valor e até mesmo o sentido de muitas declarações teológicas, ou quaisquer declarações usadas para endossar a existência de Deus pelo discurso científico.
Mais do que isso, os neo-ateus estavam promovendo um esvaziamento do discurso adversário. Com métodos satíricos como esse, queriam dizer que enciclopédias inteiras de teologia não valiam nada. Para eles, tudo não passa de rodeios em torno do nada, para, com excessos de floreios, tentar vender uma ideia falsa aos seus fieis.
Você talvez se sinta tentado a perguntar: “Luciano, você realmente endossa este tipo de procedimento?”.
Sim, e direi aqui o motivo. O mesmo tipo de esvaziamento de discurso alheio que os neo-ateus fizeram em direção ao cristianismo, os cristãos poderiam fazer em relação ao humanismo secular. E vamos pisar ainda mais no acelerador: como o esquerdismo é uma variação da religião política, todo (absolutamente todo) conjunto de alegações esquerdistas deve sofrer o mesmo destino. E aí não são apenas teístas que devem se aproveitar. Todos, sejam ateus ou teístas, que rejeitem o esquerdismo, podem começar a esvaziar o discurso oponente.
Eu até acho que os cristãos pareciam sinceros ao escrever seus tratados teológicos. Parecia haver uma busca sincera de entender a “vontade de Deus”. Já quanto aos tratados esquerdistas (como toda a coleção de obras de autores marxistas) não pode receber a mesma caridade. Eram definitivamente discursos embusteiros para fornecer poder a alguns eleitos, respaldados pela submissão imperdoável de uma legião de funcionais (que realmente acreditam no esquerdismo).
Enfim, não há um argumento dizendo que nós não devemos usar a técnica de esvaziamento de discurso alheio em direção aos esquerdistas em quantidade menor que os neo-ateus fizeram em direção aos religiosos. Ao contrário, devemos começar a fazer isso urgentemente. Além de ser utilíssimo, este framework tornará nossa interação com eles muito mais divertida e prática.
A coisa é mais simples do que parece. A primeira premissa é assumir que nenhum bloco de discurso proferido pelos esquerdistas, em especial os da extrema esquerda, tem qualquer valor intelectual ou lógico. Não passa de um conjunto de fraudes intelectuais para executar alguns jogos, sempre disparando rotinas.
No passado alguns acharam essa visão exagerada. Cínica demais, até. Nada feito. Na elaboração de alguns conteúdos (para além deste site, e vocês terão novidades já na segunda-feira), a aplicação do ceticismo politico em alguns textos esquerdistas, parágrafo a parágrafo, mostra que estamos mais do que justificados a esvaziar todo e qualquer discurso desta gente.
Sendo assim, acabou a era dos “debates” com os esquerdistas. A coisa se resume a: (1) eles geram uma comunicação, (2) o resultado dessa comunicação é avaliado, (3) o conteúdo é desconstruído, ceticamente, (4) desmascaramentos são comunicados ao público adequado.
É claro que podemos ler obras como “O Capital”, de Karl Marx, e “O Capital no Século 21″, de Thomas Piketty. Mas não para abrimos um “diálogo” com os esquerdistas. Mas para entender os truques contidos em uma enormidade de páginas (feitas somente para enrolar a audiência) e saber como rebatê-los. As rebatidas devem incluir escárnio e ridicularização, além de exposições contundentes mostrando indignação, fazendo uso do shaming e de outros recursos.
Recentemente recebi a seguinte mensagem no Facebook: “Luciano, me ajude com isso. Me disseram que o nazismo é de extrema direita. Eu defendi que embora a direita esteja associada a manutenção do status quo…”.
Aí eu já o interrompi de imediato, lançando várias constatações. Dentre elas, a de que manutenção de status quo é algo que os esquerdistas fazem muito mais que direitistas. Na implementação das ideias originais do livre mercado, monarcas caíram. Na implementação das ideias originais do socialismo, tiranias se estabeleceram. Tudo com dezenas de milhões de mortos abatidos pelo seu próprio estado. Não adianta existirem 100.000 páginas fazendo teses dizendo que “direita é manutenção do status quo, mas a esquerda, por outro lado, quer a mudança”, que, sem provas, nem uma linha desta conversa fiada pode ser aceita.
A esse amigo, disse: “Me desculpe. Você ainda está na fase de atribuir algum valor ao lixo produzido pela esquerda, tratando-o como conteúdo intelectual a ser debatido. Eu não sou a melhor pessoa para te ajudar, pois minha experiência me mostrou que é bem melhor estar na fase do esvaziamento do discurso desta gente”.
Com o amparo do ceticismo político, o esvaziamento do discurso alheio gasta a maior parte do tempo explicando (em direção à plateia) os truques adversários, em linguagem simples, sem perder tempo com papo furado desnecessário (que só serve para afetar negativamente a comunicação de suas ideias), expondo comportamentos patéticos, denunciando encenações, conscientizando pessoas a se imunizarem dos truques e, enfim, ajudando a colocar o esquerdismo (em especial o socialismo) na lata de lixo da história.
27 de março de 2015
Luciano Henrique
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