E eles vêm animadíssimos para ficar na casa do amigo, da ex-namorada... Ninguém quer perder a Copa no Brasil
Sem querer desanimar meu leitor habitual --se é que ele existe--, mas já desanimando, começo a me dar conta de que sou eu a Velhinha de Taubaté, Eremildo, o Idiota e sabe lá quantas outras virgens iludidas que vegetam por aí como zumbis. Apenas existindo, consumindo oxigênio, sem conseguir diferenciar o que é peito do que é a carne escura na hora de destrinchar o frango assado.
Andava reconfortada pelo fato de que, sendo caro demais o pernoite nos hotéis tapuias durante a Copa, a gringolândia não iria se aventurar a tomar um avião para vir ser assaltada do outro lado do mundo.
Fui perceber o quanto estava enganada durante o Carnaval, passado em Nova York, no qual me entretive desfilando no bloco das ofertas da Bloomingdale's, quero dizer, na ala das baianas do MoMA, do Guggenheim e do Lincoln Center.
Fiquei sabendo pelo motorista do táxi, pelo garçom e até pelos ursos que hibernam no Central Park (mentira) que meio mundo pretende vir ao Brasil em junho passar uma temporada na casa do amigo que mora em Belo Horizonte, do ex-colega de faculdade que trabalha na Petrobras ou da namorada cearense. A fuzarca está armada.
Visse que animação. Mal sabem eles que tem gente por aqui fazendo até novena na esperança de que nada ocorra de mais grave... Alô, controladores de voo! Já estamos tratando de garantir que, durante a Copa, ninguém irá trabalhar pressionado, não é mesmo? Alô, nobres engenheiros responsáveis pelos cálculos das estruturas dos estádios! Falem agora ou calem-se para sempre! Ainda está em tempo de revelar ao Folhaleaks aquele errinho que anda lhe tirando o sono.
Eu sei, eu sei. Oscilo entre a passividade lobotomizada e a paranoia mirabolante. Mas melhor uma neurótica viva do que uma mula morta, é o que eu sempre digo.
Na Quarta de Cinzas fui à operadora de celular repor um chip perdido. Cheguei antes de a loja abrir e dei de cara com uma fila. Puxei papo. Foi só o que tinha tido o celular furtado na Sapucaí contar sua história que outras seguiram. O atendente da loja confirmou. "Depois de fim de ano e Carnaval sempre há filas de compra de aparelho para repor o roubado". Imagino que na Índia, Costa Rica, Malásia, Vietnã, Croácia e Ucrânia aconteça o mesmo. Não? Será? O que você acha?
Também odeio quem fala mal como se não fizesse parte desta geleia de jabiraca de país, como se vivesse suspenso em uma redoma blindada. Mas ainda estou me esforçando para atingir os níveis de otimismo do Ronaldo e do Nizan.
E a tarefa ficou mais tenebrosa ainda depois de passar pelo aeroporto André Franco Montoro, com suas esteiras de malas da época do avião à lenha e o indefectível táxi para voltar para casa a preço de cocaína pura.
Por falar em droga, o Conselho Internacional de Controle de Narcóticos divulgou estudo dizendo que o consumo de cocaína dobrou nos últimos dez anos no Brasil e que estamos entre os que mais consomem no cosmos.
Imagino que gostemos tão mais da droga do que os outros países pela facilidade em obtê-la, por sermos rota de tráfico e pelas disparidades que tornam tanto o consumo quanto o tráfico atraentes a uma camada menos favorecida e escolarizada. Mas, além destes fatores, há entre nós e ela uma atração fatal.
Veja: a cocaína é a droga do eu, nós somos um dos países em que mais se realizam cirurgias plásticas e mais se gasta, em termos proporcionais, com aparência. Por excelência, o demônio ralado é a droga da superficialidade. Bem, um de nossos mais famosos produtos de exportação é a depilação da virilha. O outro são as telenovelas e o terceiro é o Michel Teló.
Sem querer desanimar meu leitor habitual --se é que ele existe--, mas já desanimando, começo a me dar conta de que sou eu a Velhinha de Taubaté, Eremildo, o Idiota e sabe lá quantas outras virgens iludidas que vegetam por aí como zumbis. Apenas existindo, consumindo oxigênio, sem conseguir diferenciar o que é peito do que é a carne escura na hora de destrinchar o frango assado.
Andava reconfortada pelo fato de que, sendo caro demais o pernoite nos hotéis tapuias durante a Copa, a gringolândia não iria se aventurar a tomar um avião para vir ser assaltada do outro lado do mundo.
Fui perceber o quanto estava enganada durante o Carnaval, passado em Nova York, no qual me entretive desfilando no bloco das ofertas da Bloomingdale's, quero dizer, na ala das baianas do MoMA, do Guggenheim e do Lincoln Center.
Fiquei sabendo pelo motorista do táxi, pelo garçom e até pelos ursos que hibernam no Central Park (mentira) que meio mundo pretende vir ao Brasil em junho passar uma temporada na casa do amigo que mora em Belo Horizonte, do ex-colega de faculdade que trabalha na Petrobras ou da namorada cearense. A fuzarca está armada.
Visse que animação. Mal sabem eles que tem gente por aqui fazendo até novena na esperança de que nada ocorra de mais grave... Alô, controladores de voo! Já estamos tratando de garantir que, durante a Copa, ninguém irá trabalhar pressionado, não é mesmo? Alô, nobres engenheiros responsáveis pelos cálculos das estruturas dos estádios! Falem agora ou calem-se para sempre! Ainda está em tempo de revelar ao Folhaleaks aquele errinho que anda lhe tirando o sono.
Eu sei, eu sei. Oscilo entre a passividade lobotomizada e a paranoia mirabolante. Mas melhor uma neurótica viva do que uma mula morta, é o que eu sempre digo.
Na Quarta de Cinzas fui à operadora de celular repor um chip perdido. Cheguei antes de a loja abrir e dei de cara com uma fila. Puxei papo. Foi só o que tinha tido o celular furtado na Sapucaí contar sua história que outras seguiram. O atendente da loja confirmou. "Depois de fim de ano e Carnaval sempre há filas de compra de aparelho para repor o roubado". Imagino que na Índia, Costa Rica, Malásia, Vietnã, Croácia e Ucrânia aconteça o mesmo. Não? Será? O que você acha?
Também odeio quem fala mal como se não fizesse parte desta geleia de jabiraca de país, como se vivesse suspenso em uma redoma blindada. Mas ainda estou me esforçando para atingir os níveis de otimismo do Ronaldo e do Nizan.
E a tarefa ficou mais tenebrosa ainda depois de passar pelo aeroporto André Franco Montoro, com suas esteiras de malas da época do avião à lenha e o indefectível táxi para voltar para casa a preço de cocaína pura.
Por falar em droga, o Conselho Internacional de Controle de Narcóticos divulgou estudo dizendo que o consumo de cocaína dobrou nos últimos dez anos no Brasil e que estamos entre os que mais consomem no cosmos.
Imagino que gostemos tão mais da droga do que os outros países pela facilidade em obtê-la, por sermos rota de tráfico e pelas disparidades que tornam tanto o consumo quanto o tráfico atraentes a uma camada menos favorecida e escolarizada. Mas, além destes fatores, há entre nós e ela uma atração fatal.
Veja: a cocaína é a droga do eu, nós somos um dos países em que mais se realizam cirurgias plásticas e mais se gasta, em termos proporcionais, com aparência. Por excelência, o demônio ralado é a droga da superficialidade. Bem, um de nossos mais famosos produtos de exportação é a depilação da virilha. O outro são as telenovelas e o terceiro é o Michel Teló.
07 de março de 2014
Barbara Gancia, Folha de SP
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