China tem desafios complexos, mas previsão de 90% de chance de catástrofe não deve ser levada a sério
O novo governo chinês, na abertura da sessão anual do Congresso Nacional do Povo, fixou como objetivo da política econômica em 2014 um crescimento de 7,5%, nível necessário, segundo seus tecnocratas, para gerar 10 milhões de postos de trabalho. Mais importante do que esse número, para quem segue de perto a evolução da segunda economia do mundo, foram decisões complementares que definem o arcabouço da política econômica para os próximos anos.
Entre elas, chamam a atenção do analista um novo desenho da política fiscal e o controle ainda mais rígido do endividamento dos governos regionais. Os dois movimentos claramente na direção de um espaço maior para os agentes privados.
Para os que acreditam no modelo chinês de passagem de uma economia centrada no Estado para um híbrido de mercados privados e setor público, iniciado ainda na década de 80 do século passado, esses passos não surpreendem.
Eles seguem a direção definida por Deng Xiaoping ao propor sua imagem de que "não interessa a cor de um gato, desde que ele destrua os ratos de forma eficiente".
Hoje sabemos o que queria dizer com essa imagem da época da morte de Mao: não importa se os agentes que geram o desenvolvimento econômico são estatais ou privados, desde que o resultado final seja o crescimento da renda dos cidadãos.
Mas esse desenho de economia não encontra credibilidade na grande maioria dos analistas de mercados que continuam a olhar com muito pessimismo para o sucesso chinês das ultimas décadas.
Para eles o colapso vai ocorrer, de uma hora para outra, arrastando no seu caminho as nações emergentes que vivem da cocaína das exportações de commodities agrícolas e minerais para a China.
Ontem mesmo o "Financial Times" trouxe reportagem em que um grupo importante de analistas descreve suas expectativas sobre a origem de uma possível nova crise econômica grave. Para eles, 90% do risco está centrado na China, 42%, nos países da América Latina, e 33%, em outros emergentes.
Para o leitor ter uma boa ideia da qualidade das previsões dos chamados mercados, a pesquisa realizada pelo jornal britânico mostra que os agentes consultados associam o menor risco (13%) de uma crise aos acontecimentos futuros no espaço comum europeu. A grande maioria destes opinadores, há menos de dois anos, clamava aos céus o fim do mundo e da Europa Unida.
Por isso, aconselho a todos a não levarem a sério os 90% de chances associados a uma catástrofe da economia chinesa nos próximos anos.
Mas é importante entender que os desafios a serem vencidos na década em que os atuais governantes chineses estarão no poder são de grande complexidade. A sociedade chinesa mudou muito nos últimos anos e os novos desafios de natureza econômica e social têm hoje uma química diferente dos enfrentados, com sucesso, por Deng Xiaoping e seus sucessores.
O que tem chamado a atenção dos analistas que mais respeito é o fato de que uma nova geração de dirigentes tenha mostrado coragem de mudar o rumo do país, mesmo tendo em conta o sucesso já alcançado.
Isso não é comum em dirigentes políticos, que na maioria das vezes ficam escravos do sucesso passado e não conseguem dar um passo adiante. Vejam a reviravolta que está ocorrendo na Turquia depois que o sucesso de mais de dez anos de governo foi destruído pela incapacidade de acompanhar a evolução da sociedade e de se reinventar.
Aqui no nosso querido país também vivemos um momento importante de mudanças, principalmente na condução da economia.
O Brasil é um desses exemplos em que o sucesso continuado por um período muito grande --afinal foram 17 anos com a renda real do cidadão crescendo 4,7% ao ano-- precisa de uma corajosa mudança de rumo para consolidar os ganhos obtidos.
E qual é a principal mudança que precisa ocorrer para que uma nova década de crescimento se abra aos brasileiros? É necessária a passagem do consumo como a grande força do crescimento para um equilíbrio diferente em que os investimentos privados e os ganhos de produtividade assumam também parte importante no dinamismo da economia.
O novo governo chinês, na abertura da sessão anual do Congresso Nacional do Povo, fixou como objetivo da política econômica em 2014 um crescimento de 7,5%, nível necessário, segundo seus tecnocratas, para gerar 10 milhões de postos de trabalho. Mais importante do que esse número, para quem segue de perto a evolução da segunda economia do mundo, foram decisões complementares que definem o arcabouço da política econômica para os próximos anos.
Entre elas, chamam a atenção do analista um novo desenho da política fiscal e o controle ainda mais rígido do endividamento dos governos regionais. Os dois movimentos claramente na direção de um espaço maior para os agentes privados.
Para os que acreditam no modelo chinês de passagem de uma economia centrada no Estado para um híbrido de mercados privados e setor público, iniciado ainda na década de 80 do século passado, esses passos não surpreendem.
Eles seguem a direção definida por Deng Xiaoping ao propor sua imagem de que "não interessa a cor de um gato, desde que ele destrua os ratos de forma eficiente".
Hoje sabemos o que queria dizer com essa imagem da época da morte de Mao: não importa se os agentes que geram o desenvolvimento econômico são estatais ou privados, desde que o resultado final seja o crescimento da renda dos cidadãos.
Mas esse desenho de economia não encontra credibilidade na grande maioria dos analistas de mercados que continuam a olhar com muito pessimismo para o sucesso chinês das ultimas décadas.
Para eles o colapso vai ocorrer, de uma hora para outra, arrastando no seu caminho as nações emergentes que vivem da cocaína das exportações de commodities agrícolas e minerais para a China.
Ontem mesmo o "Financial Times" trouxe reportagem em que um grupo importante de analistas descreve suas expectativas sobre a origem de uma possível nova crise econômica grave. Para eles, 90% do risco está centrado na China, 42%, nos países da América Latina, e 33%, em outros emergentes.
Para o leitor ter uma boa ideia da qualidade das previsões dos chamados mercados, a pesquisa realizada pelo jornal britânico mostra que os agentes consultados associam o menor risco (13%) de uma crise aos acontecimentos futuros no espaço comum europeu. A grande maioria destes opinadores, há menos de dois anos, clamava aos céus o fim do mundo e da Europa Unida.
Por isso, aconselho a todos a não levarem a sério os 90% de chances associados a uma catástrofe da economia chinesa nos próximos anos.
Mas é importante entender que os desafios a serem vencidos na década em que os atuais governantes chineses estarão no poder são de grande complexidade. A sociedade chinesa mudou muito nos últimos anos e os novos desafios de natureza econômica e social têm hoje uma química diferente dos enfrentados, com sucesso, por Deng Xiaoping e seus sucessores.
O que tem chamado a atenção dos analistas que mais respeito é o fato de que uma nova geração de dirigentes tenha mostrado coragem de mudar o rumo do país, mesmo tendo em conta o sucesso já alcançado.
Isso não é comum em dirigentes políticos, que na maioria das vezes ficam escravos do sucesso passado e não conseguem dar um passo adiante. Vejam a reviravolta que está ocorrendo na Turquia depois que o sucesso de mais de dez anos de governo foi destruído pela incapacidade de acompanhar a evolução da sociedade e de se reinventar.
Aqui no nosso querido país também vivemos um momento importante de mudanças, principalmente na condução da economia.
O Brasil é um desses exemplos em que o sucesso continuado por um período muito grande --afinal foram 17 anos com a renda real do cidadão crescendo 4,7% ao ano-- precisa de uma corajosa mudança de rumo para consolidar os ganhos obtidos.
E qual é a principal mudança que precisa ocorrer para que uma nova década de crescimento se abra aos brasileiros? É necessária a passagem do consumo como a grande força do crescimento para um equilíbrio diferente em que os investimentos privados e os ganhos de produtividade assumam também parte importante no dinamismo da economia.
07 de março de 2014
Luiz Carlos Mendonça de Barros, Folha de SP
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