- Lista divulgada pela Interpol inclui Pizzolato e o médico Roger Abdelmassih
O ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, condenado a 12 anos e sete meses de prisão no julgamento do mensalão, está numa lista que não para de crescer: a dos procurados pela polícia e pela Justiça brasileiras no exterior.
A cada ano, o número das chamadas difusões vermelhas publicadas pelo Brasil tem aumentado cerca de 20%, segundo o Escritório Central da Interpol no país.
As difusões vermelhas são publicadas sempre que um país pede ajuda à Interpol para encontrar um foragido, de qualquer nacionalidade. São avisos de alerta, para que polícias dos 190 países que integram a organização internacional procurem os fugitivos.
Em novembro de 2013, o número de brasileiros procurados pela Justiça brasileira no exterior era de 320, segundo o Escritório Central da Interpol no Brasil, comandado pela Polícia Federal.
O Brasil não era o único país a buscar brasileiros: 133 eram procurados a pedido de outros países, elevando esse número a 453. E o número de estrangeiros foragidos e cuja prisão o Brasil desejava era de 277.
A Interpol no Brasil não informou se o aumento anual de 20% das difusões vermelhas se deve ao crescimento de brasileiros ou estrangeiros procurados. Mas disse que a elevação não significa que está mais fácil fugir para outro país.
— O aumento não significa que mais brasileiros fogem para o exterior, mas (que está havendo) a maior divulgação dos canais da Interpol ao Judiciário brasileiro. Na medida em que os juízes passam a conhecer as possibilidades da Interpol, a tendência é que mais difusões sejam publicadas — disse o delegado da PF Luiz Eduardo Navajas, chefe do Escritório Central da Interpol no Brasil.
Em fevereiro de 2010, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) expediu instrução normativa determinando que, se houver suspeita de que o procurado fugiu para o exterior, os juízes brasileiros devem incluir a observação no mandado ou ordem de prisão.
Assim, a PF é informada e os dados do foragido, incluídos na lista da Interpol.
Navajas não considera altos os números de brasileiros e estrangeiros procurados pelo Brasil no exterior, devido à “dimensão do país”:
— Se formos considerar a existência de cerca de 300 mil mandados de prisão em aberto no Brasil, entendemos que poderemos ampliar ainda mais a publicação de difusões vermelhas. Para efeito de comparação, os Estados Unidos têm cerca de 603 difusões vermelhas publicadas, a França, 53 e a Inglaterra, 42.
Na lista de procurados pelo Brasil há foragidos há mais de 13 anos. Segundo Navajas, a difusão vermelha mais antiga publicada pelo país, ainda em vigor, é de um espanhol buscado desde 1999 por homicídio e evasão de divisas. O brasileiro procurado há mais tempo é acusado de falsificação de documentos e evasão de divisas; teve a difusão vermelha publicada em 2003. Seus nomes não foram divulgados.
Além de Pizzolato, os integrantes mais famosos são o deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) e seu filho Flávio Maluf, e o médico Roger Abdelmassih. Os Maluf foram incluídos a pedido da Promotoria de Nova York. Em 2007, a Justiça americana ordenou a prisão deles por conspiração, auxílio na remessa de dinheiro ilegal para Nova York e roubo de dinheiro público em São Paulo. Caso Maluf saia do Brasil, pode ser preso. Condenado a 278 anos por estuprar pacientes em sua clínica de reprodução assistida em São Paulo, Abdelmassih está foragido desde janeiro de 2011.
Entre os crimes, homicídio, tortura e abuso sexual
De falsificação de documento de viagem e certidão de nascimento a homicídio, lavagem de dinheiro e abuso sexual de menores: é variada a lista de crimes cometidos por brasileiros procurados pela Interpol. Há até pessoas presas.
A maioria dos 453 brasileiros procurados no exterior frequentou pouco ou nada as páginas dos jornais.
O maranhense Uel Leite de Souza, de 65 anos, está preso desde 2007 na Argentina, por associação para o tráfico de drogas, segundo o seu advogado, Illio Boschi Deus. Condenado pela Justiça argentina a oito anos de prisão, ele responde a processo na 2ª Vara Criminal Federal de Curitiba por tráfico de entorpecentes. Segundo o advogado, ele é acusado de pilotar um avião com uma tonelada de cocaína, a pedido da quadrilha do traficante Fernandinho Beira-Mar. Foi preso quando pousou a aeronave em Campo Mourão (PR). Alegou que achava estar transportando produtos agrícolas.
Segundo Illio Deus, a extradição dele foi negada pelos argentinos até que ele termine de cumprir pena.
A Interpol não informou a razão de o nome de Uel ainda constar na lista, apesar de ele estar preso. Segundo a Polícia Federal, o nome de cada acusado integrante da lista é checado pelo menos a cada cinco anos, e a Justiça é consultada para saber se ainda há interesse em manter o nome.
Estão na lista de procurados o baiano Milton Ferreira dos Santos, de 41 anos, e a capixaba Vilma Cristina de Oliveira, de 39, acusados de tráfico de seres humanos.
Condenados no Brasil em 2008, eles teriam enviado brasileiras de quatro estados para a Espanha, para atuar numa rede de prostituição.
O paranaense Cassiano Aparecido Batistioli, de 22 anos, é procurado pela Justiça brasileira por homicídio e tentativa de homicídio. Em 2011, teria matado uma traficante de drogas e atirado na filha dela, de 12 anos.
Com dupla nacionalidade argentina e brasileira, o tenente-coronel Antônio Arrechea Andrade, de 84 anos, é procurado por autoridades da Argentina por ter cometido crimes na ditadura naquele país, como tortura e homicídio.
Apenas uma parcela dos brasileiros procurados em outros países aparece no site da organização. Segundo a Polícia Federal, a página na internet mostra no máximo 160 pessoas de cada nacionalidade, por uma limitação do sistema. Além disso, segundo o Escritório Central da Interpol no Brasil, há muitas difusões vermelhas que não podem constar do site público da Interpol “por se tratarem de alvos sensíveis”.
08 de janeiro de 2014
O Globo
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