Artigos - Terrorismo
Ao revelar no Dossiê os “Fundamentos Doutrinários” que nortearam os militares na Guerrilha do Araguaia, Azambuja terminou por produzir o primeiro manual antiguerrilha brasileiro -- pelo menos é o primeiro documento sobre o tema preparado para se tornar público.
O Professor Azambuja talvez seja o analista de inteligência mais experiente ainda em atividade no País. Está nos serviços de informações militares desde 1967. Mesmo aposentado, continuou trabalhando no ramo.
Nunca entrou em ação armada, mas organizou um dos mais completos arquivos do País sobre os partidos socialistas e as organizações marxistas que atuaram no Brasil desde 1922. Suas especialidades são o movimento comunista internacional e o Partido Comunista Brasileiro, o PC; chegou a participar na condição de militante do Congresso do partido que criou o PPS, em janeiro de 1992, votando pelo fim da velha sigla comunista.
Escreve regularmente, assinando o codinome, artigos sobre temas militares e políticos para revistas militares e para jornais de grande circulação nacional.
Chegou a publicar um artigo nos Cadernos de Debates, do PCB, defendendo a revisão do comunismo. Nas Forças Armadas, corre o mito de que teria a maior rede pessoal de informantes já montada no Brasil, boa parte ainda infiltrada nas organizações socialistas. Esteve em missões no exterior, por toda a América Latina e Europa.
Mesmo entre os militares, poucos já o viram pessoalmente ou conhecem sua verdadeira identidade. Nos tempos da Guerrilha do Araguaia, não participou diretamente das ações na selva. Mas foi um dos analistas de informações que, entre outras tarefas, desvendou a verdadeira identidade de alguns dos guerrilheiros.
Na seqüência, idealizou, pesquisou e escreveu um longo trabalho sobre a história e a atuação do PC do B, ainda hoje utilizado como referência pelos órgãos de informações militares. Por mais de duas décadas correu nos meios militares a lenda de que seria o Capitão Aza, personagem de programa infantil da TV Tupi nas décadas de 60 e 70.
Não é. Um dia será possível revelar sua verdadeira identidade. Acredito, contudo, que isso seja um detalhe de menor importância. O relevante não é saber quem é o professor Azambuja, mas sim o que ele tem de relevante a acrescentar à História.
O Professor Azambuja, codinome de um dos militares responsáveis pela organização e redação final do Dossiê Araguaia, durante a confecção do trabalho terminou por criar o seu próprio manual antiguerrilha. Foi incorporado ao Dossiê, já como primeiro capitulo, batizado de “Fundamentos Doutrinários”, onde se faz uma longa dissertação, de 26 páginas, sobre o tipo de guerra que encontraram no Araguaia (“Guerra Irregular”, classificaram), a definição do inimigo que combateram (“Rebeldes”), as táticas empregadas por esse inimigo (“Fustigação”), as vantagens e desvantagens que eles tinham sobre as forças oficiais e, por fim, o modus operandi que as “Forças Contra-Rebeldes” deveriam empregar para combater e aniquilar os “rebeldes”.
Ao revelar no Dossiê os “Fundamentos Doutrinários” que nortearam os militares na Guerrilha do Araguaia, Azambuja terminou por produzir o primeiro manual antiguerrilha brasileiro -- pelo menos é o primeiro documento sobre o tema preparado para se tornar público.
Para elaborá-lo, ele se baseou em documentos secretos ou reservados das Forças Armadas, que na ocasião apresentaram os “fundamentos doutrinários” aos militares que deveriam combater a guerrilha. Também se baseou nos fundamentos da guerra popular prolongada, escrito por Mao Tse-Tung, na Teoria do Foco Guerrilheiro, de Régis Debray, e no Minimanual do Guerrilheiro Urbano, de Carlos Marighella. Naturalmente, a redação foi em grande parte fruto do próprio imaginário que o autor tinha (e que ainda tem) sobre quem eram os inimigos que os militares combateram –e como deveriam aniquilá-los. Chamo a atenção para um trecho:
“Esse é o principal problema que o Estado de Direito enfrenta ao combater o inimigo na Guerra Irregular. No Estado de Direito existem dois tipos de pessoas: o cidadão correto e o criminoso. O terceiro tipo de pessoa, aquele que conduz uma Guerra Irregular, não existe. Aqueles que promovem uma Guerra Irregular não conhecem quaisquer obrigações, pois nada os submetem à obediência da lei civil e nada há que os submetam às leis da guerra. Em contraposição, o Estado de Direito é submetido em todos esses aspectos. (...)
Em suma, a Guerra Revolucionária é uma guerra suja e nela são empregados todos os meios. Até mesmo os legais”.
(Dezembro de 2004).
08 de janeiro de 2014
Hugo Studart
Nenhum comentário:
Postar um comentário