"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

NADA DEFINIDO POR ENQUANTO, MAS ESTAR PRONTO FOI UMA DECISÃO DIFÍCIL

 

ucho_20O verbo “desistir” jamais frequentou o meu dicionário. E nunca terá espaço onde desfilam palavras como indignação, luta, resistência, perseverança, fé, determinação e outras tantas que traduzem ao pé da letra a minha obsessão por um país melhor.

Apesar de tudo, é cada vez mais difícil viver nessa barafunda em que se transformou o Brasil.
Não bastasse essa dificuldade, enfrentar a truculência dos donos do poder é tarefa que exige não apenas coragem, mas ousadia e destemor.

O que também não me falta, mas preciso admitir que a batalha é muito difícil e extenuante. Pior é porque luto só.

Nesse exato ponto paro e penso no tempo que ainda me resta. Na melhor das hipóteses tenho mais duas décadas de vida. Considerando que o “lobista apedeuta” conseguiu destruir o Brasil em apenas dez anos, tenho mais vinte para reorganizar a vida e desfrutá-la em paz, já que ficou de pernas para o ar por causa da minha preocupação com o futuro da terra natal.
O meu desejo maior é poder fazer isso – viver o epílogo da vida – de maneira digna e sem exageros aqui mesmo, mas a luz no fim do túnel começa a rarear. Na verdade, os adversários têm intensificando a escuridão à minha volta.

Quando, nas derradeiras semanas do ano 2000, decidi voltar ao Brasil, o fiz apenas pensando em rever a família (mãe e filhos) para, na sequência, seguir rumo ao Timor Leste, onde participaria de missão humanitária. Troquei um sonho real por outro incerto e fiquei por aqui, pois entendi naquele momento que o meu País precisava de alguém que engrossasse a luta por mudanças. É exatamente isso que tenho feito nos últimos treze anos. Lutado pelo Brasil e pelos brasileiros de maneira corajosa e incondicional, deixando à beira do caminho os meus interesses pessoais.

A minha reza do cotidiano passou a ser, ainda mais, o Brasil. Na verdade, o Brasil sempre foi o meu casto relicário. Contudo, o preço que pago é descomunal. No contraponto, jamais fui tão bem acolhido em qualquer parte do planeta como na minha própria terra nos últimos anos.
Nesse período conquistei o que jamais imaginei: o respeito crescente e o carinho verdadeiro dos leitores, que com o avançar do calendário tornaram-se parte do meu dia a dia. Amigos de longa data que sequer conheci pessoalmente, mas íntimos, pelo menos em termos de coerência do pensamento.
Como sempre escrevo, digo e não canso de repetir, Deus foi absolutamente generoso ao me dar muito mais do que merecia. Concedeu-me o dom de escrever e presenteou-me com leitores fiéis. Se o Criador agiu assim por certo há uma explicação, a qual desconheço. Mas isso é assunto para outra ocasião.

Alguém há de perguntar por qual motivo narro tais fatos. Apenas porque diante da fidelidade curvo-me sem pestanejar. E não seria agora que cometeria uma traição, algo que abomino com todas as forças, não importando o terreno em que ocorra. Não estou jogando a toalha, porque esse tipo de atitude não combina com a minha personalidade, mas preciso dividir com os meus parceiros de todos os dias que decidi, depois de muito pensar e refletir, que estou pronto para fazer as malas e ultrapassar as fronteiras do País, seguindo para algum lugar dessa enorme bola chamada Terra, onde espero conseguir exercitar o jornalismo com doses mínimas de tranquilidade e sem sobressaltos.

Como cantou, um dia, o genial, querido e saudoso amigo Zé Rodrix em “Casa no Campo”, quero um lugar “onde eu possa ficar no tamanho da paz / e tenha somente a certeza dos limites do corpo e nada mais”. No Brasil tornou-se impossível ter alguma certeza, como impossível também é ter paz quando se aponta do indicador na direção dos poderosos.

Não quero nada mais do que isso, apenas isso. A única certeza que tenho é que o cerco tem se fechado cada vez mais e que estou perdendo a capacidade de enfrentamento, porque o jogo é sujo e rasteiro. De tudo tentaram contra mim, mas nada vingou.
A saída que restou aos que se incomodam com o meu jornalismo foi a asfixia financeira. E lutar contra isso só mesmo tendo o vil metal como companheiro de todas as horas. Esses detratores têm feito o que podem para inviabilizar financeiramente a minha existência e o meu trabalho. As consequências são devastadoras, mas cá ainda estou a resistir. Ultrapassei todos os limites para manter não somente o site, mas o sonho de um Brasil melhor para todos e justo com cada um.

Farei todos os esforços para ficar, porque aqui é o meu lugar, aqui é o meu país. Se as circunstâncias e o destino decidirem que a vida terá de seguir em outro lugar, farei isso sem olhar para trás, porque aqui deixarei um coração apertado, minha alma em prantos, meus sonhos bem sonhados, minhas raízes indescritíveis, amigos inenarráveis, amores indescritíveis, reticências do meu patriotismo inveterado. Mesmo assim, preciso de paz, o que há muito deixei de ter.
Escrever é uma dádiva, fazer jornalismo foi a decisão mais acertada que tomei. Faria tudo outra vez se preciso fosse… Minha intimidade com as letras, cada vez maior, fez com que a escrita se transformasse no meu vício único, do qual não quero largar. Na verdade, quero morrer dependente da escrita, mas é preciso tranquilidade para cultivar essa dependência sadia.

O meu esforço para ficar está muito claro no projeto de reestruturação do site, que avança à sombra do talento e da dedicação de parceiros competentes, do meu desejo de informar, da necessidade que tenho de inovar continuamente, mesmo que seja para fazer a mesma coisa de sempre: escrever na condição de jornalista.
Tenho muita esperança em relação à possibilidade de ficar, mas isso só será possível com alguma folga financeira. Apostei tudo o que tinha – e o que não tinha também – em um site jornalístico que se transformou em referência da informação, em trincheira dos brasileiros de bem. Abri mão de muitos prazeres, deixei de viver momentos especiais. Assisti ao contínuo vilipendio da minha família, sem, em muitos momentos, poder fazer algo capaz de virar o jogo covarde dos adversários.

A minha maior felicidade surgirá quando o Brasil for diferentemente melhor, o que posso inclusive não presenciar, pois o tempo urge. Preciso de um pouco de tranquilidade, algo que os oponentes têm tirado como se fossem punguistas da dignidade alheia. Não tem sido fácil enfrentar a batalha que diuturnamente me é imposta, mas ainda resisto com todas as forças que restam. Muito maior do que a exaustão física é o bombardeio emocional.
Manter o equilíbrio é o exercício do impossível, mas suportar tudo isso por mais algum tempo parece-me sobre-humano. Pressão contínua, ameaças repetidas, intimidações chulas, grampos telefônicos, ataques cibernéticos, processos judiciais, cerceamento da liberdade. Resumindo, coquetel do absurdo em terra dita democrática. Resisto, sim, resistirei não sei até quando.

Nesse período de agruras materiais e intimidações fui convencido por amigos a buscar fontes de financiamento, pois só dessa maneira seria possível seguir adiante. Fugi da proposta até quando pude, mas vi-me obrigado a aceitar a ideia de uma operação de captação de recursos, que ainda está muito aquém do mínimo necessário. Sou grato e sempre serei a todos que contribuíram e contribuem, sem os quais não teria chegado até aqui. Resistir e persistir são verbos presentes na minha cartilha do cotidiano, mas ainda não descobri a receita do milagre da multiplicação.

Como escrevi acima, não estou a jogar a toalha e farei muito mais que o possível para ficar, mas a escuridão que me impingem chega, em muitos momentos, a embaçar a esperança. Estou confiante nos projetos que envolvem o site, porém o êxito do projeto não depende apenas dos que nele estão empenhados. É preciso uma corrente muito maior do que a existente. Só assim será possível avançar nessa batalha sem fim.

No caso de o aeroporto mais próximo ser a única saída, ao menos estarei com a consciência tranquila por não ter traído os que sempre me dedicaram fidelidade e ajudaram a fazer do ucho.infoA MARCA DA NOTÍCIA”. Por enquanto continuo aqui, mas desde já muitíssimo obrigado a cada um.

16 de janeiro de 2014
Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, cronista esportivo, escritor e poeta.

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