"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

PALAVRAS INCORPORADAS E PALAVRAS ABANDONADAS

Eu sei, sou um chato, mas a cada vez que leio ou escuto um atentado ao idioma tenho reações alérgicas, principalmente se for praticado por alguém que vive dele, como Claudio Humberto, um craque na arte de informar, mas que, volta e meia tropeça feio na flor do Lácio.
 
Hoje ele me sai com essa em seu blog: “Em diálogo áspero, Barbosa acusou-o de fazer ‘chincana’, a serviço dos mensaleiros”.
De onde Claudio Humberto foi tirar essa tal “chincana”?
Eu tenho certeza que “chicana” é uma das primeiras coisas que um estudante de Direito aprende a escrever, a falar corretamente e a usar. Significa, de uma maneira geral, “abuso dos recursos, sutilezas e formalidades da justiça”. Mesmo entre aspas como, no caso da frase do Claudio, “chincana” é uma grossa besteira que me remete a Galvão Bueno - outro que vive das palavras, mas, volta e meia, assassina uma -, o inventor da palavra “chincane” - que ele pronuncia “xinquêin” -, já que em uma discussão de alto nível em torno da origem da palavra, ele cismou que uma curva dupla criada para formar um obstáculo em uma pista de automobilismo ou em uma estrada tinha algo a ver com “gincana” e não com o termo de origem francesa “chicane” criado no Século XV.
Ainda bem que o dicionário Houaiss, campeão em incorporar besteiras ao vocabulário ainda não “assimilou” a versão galvanizada de chicana, senão seria difícil alguém acreditar em mim.
Aliás e a propósito, Ruy Castro, em seu artigo de hoje na Folha, “Dentro e fora da legalidade”, fala sobre o assunto e eu me atrevo a discordar da sua frase final que afirma que “o problema de uma língua não está nas palavras que ela incorpora, mas nas que são abandonadas e morrem a cada dia”.
Vejam, por exemplo, o que aconteceu com “desapercebido” - adjetivo que significa originalmente “que não está preparado; sem munições, provisões; desaparelhado, desmunido” -, vocábulo que o Houaiss simplesmente resolveu aceitar como sinônimo de “despercebido”, sob a alegação que “os parônimos desapercebido e despercebido foram objeto de censura purista, acoimados de falsa sinonímia, mas o emprego desses vocábulos como sinônimos por autores de grande expressão tornou a rejeição inaceitável”.
Eu só queria que alguém me citasse quais foram os “autores de grande expressão” que usaram “desapercebido” no lugar de “despercebido”. Paulo Coelho? José Sarney? Emir Sader? Certamente vocês nunca vão ler essa besteira em um Machado de Assis.
Outra do Houaiss: “leiautar” - quiuspariu! -, significando “fazer o leiaute de”. Pombas!, já não temos “esboçar”, “delinear”, “projetar”?...
Que Ruy me desculpe, mas são justamente os léxicos, com essa incorporação indiscriminada de qualquer jargão inventado por grupos socioculturais ou profissionais, que causam a substituição, o abandono e a morte das palavras da dita norma culta.
 
18 de novembro de 2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário