"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 3 de julho de 2017

GEDDEL ERA O CONTATO DA J&F COM TEMER, ANTES DE LOURES, SEGUNDO DELATORES

OPERAÇÃO ‘CUI BONO?’
JOESLEY AFIRMA QUE EX-MINISTRO NEGOCIAVA SILÊNCIO DE CUNHA E FUNARO

GEDDEL FOI PRESO NA BAHIA NESTA SEGUNDA-FEIRA, 03, NO ÂMBITO DA OPERAÇÃO ‘CUI BONO?’ (FOTO: VALTER CAMPANATO/ABR)


O ex-ministro Geddel Viera Lima, preso nesta segunda-feira, 3, pela Polícia Federal era o contato dos delatores da J&F com o presidente, Michel Temer (PMDB), antes do homem da mala, o ex-assessor da Presidência Rodrigo Rocha Loures (PMDB-RJ).

É o que afirmaram os donos da J&F e o lobista do grupo Ricardo Saud, aos investigadores da Procuradoria Geral da República (PGR), em acordo de delação premiada.

“O presidente Michel Temer eu conheci há 5 ou 6 anos, ele já como vice-presidente, quem apresentou ele foi o ex-ministro Wanger Rossi, nomeado por ele”, contou o dono da J&F Joesley Batista. “Ao longo desses cinco anos eu mantive relacionamento direto com ele, nunca teve intermediário, sempre através de… ele me ligava, eu ligava para ele, me mandava mensagens, eu fiz várias visitas a ele, seja no escritório, na Panamericana, seja lá no Jaburu ou no outro escritório de advocacia que ele tem em São Paulo”, afirmou.

“Até o dia que ele virou presidente da República. Daí para frente, o então ministro Geddel, que eu já conheço de longa data, me procurou e me disse que a continuidade do contato com o presidente se daria através dele, por motivos óbvios da agenda do presidente Michel”, contou o delator, ouvido no dia 7 de abril, na PGR.

“Assim a gente se relacionou através do Geddel. As minhas demandas, as questões que eu necessitava em relação ao governo, eu passava através do Geddel, até que o ministro Geddel caiu e eu fiquei sem interlocução.”

O delator disse ter falado ainda algumas vezes com Geddel até ele passar a ser investigado. “Quando ele passou a ser investigado, eu também como investigado não pude mais falar com Geddel, pela proibição da Justiça, foi onde eu procurei o Rodrigo Rocha Loures perguntando para ele, dizendo que queria tomar um café com ele.”

“Quem é Rodrigo Rocha Loures?”, quis saber o procurador Sérgio Bruno.

“É um suplente de deputado, ele é suplente do ministro da Justiça, o (Osmar) Serraglio (PMDB-PR). Quando ele assumiu o ministério ele passa a ser deputado. Mas quando liguei para ele estava ainda no Palácio, é assessor da Presidência.”

Geddel foi preso na Bahia, por ordem do juiz federal da 10ª Vara, Vallisney de Oliveira, no âmbito da Operação ‘Cui Bono?’ – que apura fraudes na Caixa Econômica Federal (CEF).

A ordem decorre de pedido feito pela Procuradoria da República, no Distrito Federal. A prisão é de caráter preventivo e tem como fundamento elementos reunidos a partir de informações fornecidas em depoimentos recentes do doleiro Lúcio Bolonha Funaro, do empresário Joesley Batista e do diretor jurídico do grupo J&F, Francisco de Assis e Silva, sendo os dois últimos, em acordo de colaboração

Planalto

Geddel era o contato do Planalto para tentar comprar o silêncio do operador de propinas do PMDB Lúcio Bologna Funaro, ligado ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Tanto os delatores da J&F como Funaro entregaram aos investigadores provas dos contatos feitos pelo ex-ministro.

“Geddel Viera Lima era uma pessoa que fazia a interface entre Joesley e o Palácio (do Planalto). Segundo Joesley, fala com Geddel era o mesmo que falar com Michel Temer”, registra a delação de Francisco Assis, diretor jurídico da J&F.

O delator disse ainda que o antecessor do homem da mala nos contatos com o Planalto teria dito que Temer escalou o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, “para cuidar do processo de Lúcio Funaro junto ao STF”. O operador de propinas está preso desde julho de 2016 e em tratativas para uma delação premiada.

No pedido enviado à Justiça, os procuradores afirmaram que Geddel tem agido para atrapalhar as investigações. O objetivo de Geddel seria evitar que o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o próprio Lúcio Funaro firmem acordo de colaboração com o Ministério Público Federal. Para isso, segundo os investigadores, tem atuado no sentido de assegurar que ambos recebam vantagens indevidas, além de ‘monitorar’ o comportamento do doleiro para constrangê-lo a não fechar o acordo.

A compra do silêncio de Cunha e Funaro, segundo Joesley Batista, foi o tema principal que o levou ao Palácio do Jaburu, no dia 7 de março, para conversar com Temer e gravar a conversa para provar que a ordem vinha do Planalto.

O encontro foi marcado por intermédio de Loures. Nele, teria ficado que o homem da mala passaria a cumprir a função antes desempenhada por Geddel.

Cui Bono

Com a prisão de Geddel, passam a ser cinco os presos preventivos no âmbito das investigações da Operação Sépsis Cui Bono – ambas decorrentes da Lava Jato.

Já estão detidos os ex-presidentes da Câmara, Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves, o doleiro Lúcio Funaro e André Luiz de Souza, todos apontados como integrantes da organização criminosa que agiu dentro da Caixa Econômica Federal (CEF). No caso de Cunha, Alves e Funaro, já existe uma ação penal em andamento. Os três são réus no processo que apurou o pagamento de propina em decorrência da liberação de recursos do FI-FGTS para a construção do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro. Além deles, respondem à ação, Alexandre Margoto e Fábio Cleto. (AE)



03 de julho de 2017
diário do poder

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