O jornalista Mário Filho foi o maior entusiasta da construção do Maracanã. Liderou uma campanha pela obra com energia militante e fervor patriótico. “Acreditar no estádio é acreditar no Brasil”, martelava, nas páginas cor de rosa do saudoso “Jornal dos Sports”. Depois de morto, o irmão de Nelson Rodrigues emprestaria o nome ao templo do futebol. O colosso de concreto foi rebatizado de estádio Mário Filho, embora os torcedores continuassem a chamá-lo de Maracanã — ou simplesmente Maraca.
O palco que consagrou os dribles de Garrincha e os gols de Pelé e Zico não existe mais. Depois de sucessivas reformas, foi desfigurado a pretexto de atender aos desejos da Fifa. Uma coalizão de políticos e cartolas rasgou as leis de tombamento, demoliu a marquise histórica e conseguiu encolher até o gramado.
O preço dos ingressos disparou, e o estádio perdeu o título de maior do mundo, a não ser em superfaturamento. O custo da reforma começou em R$ 700 milhões e chegou à incrível cifra de R$ 1,2 bilhão.
ELEFANTE BRANCO – As operações Lava Jato e Calicute ajudam a explicar os motivos. De acordo com as investigações, o ex-governador Sérgio Cabral cobrou pedágio de 5% sobre o valor total da obra. O Tribunal de Contas do Estado, que fez vistas grossas, é suspeito de embolsar propina de 1%.
Se a desgraça não era pouca, ficou ainda maior depois da Olimpíada. Quando a festa acabou, o comitê da Rio-2016 entregou o estádio em ruínas, com o campo esburacado, vidros quebrados e um desfalque de 7.000 cadeiras na arquibancada. A Odebrecht quer devolver o elefante branco ao Estado, que não tem dinheiro nem para pagar salários de médicos e professores.
Abandonado e sem luz, o Maracanã agora é alvo de uma onda de saques. A última vítima foi o busto de Mário Filho, roubado nesta segunda (9). Pensando bem, ele não merecia continuar lá para ver o que fizeram com o estádio.
12 de janeiro de 2017
Bernardo Mello Franco
Folha
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