Tal como Donald Trump, Roberto Justus apresentou O Aprendiz e parece querer disputar a presidência com uma proposta liberal. Vai funcionar?
Com sua declaração recente de que não descarta a possibilidade de se candidatar à presidência do Brasil em 2018, Roberto Justus deu início a uma série de discussões acaloradas entre os que vêem sua candidatura com bons olhos e os que a rejeitam por não considerá-lo bom o suficiente. O problema é que discutir abstratamente sobre as qualidades e os defeitos do Justus como candidato não faz o menor sentido. Os argumentos que estão sendo apresentados, de parte a parte, não passam de arranjos apressados e inócuos de palavras que expressam, não uma análise objetiva dos fatos, mas apenas reações emocionais (contrárias ou favoráveis) a atitudes ou opiniões por ele externadas no passado.
É bem verdade que muitas das críticas dirigidas a ele são em si mesmas justas, mas é preciso deixar claro que o tipo de coisa que se pode avaliar à esta altura do campeonato, e com base nas informações que temos, não possui qualquer relevância para uma análise política séria.
Jamais se pode julgar um agente político baseando-se apenas nos valores que ele aparenta representar. Em uma análise política, é necessário deixar as crenças subjetivas dos agentes em segundo plano e julgá-los de acordo com a substância de suas ações, com a qualidade de sua estratégia, com a composição de suas alianças e com as características de sua base de apoio.
Nenhuma dessas informações está disponível — não sabemos qual será a estratégia que ele adotará, por qual partido ele se candidatará, quais grupos o apoiarão, etc. etc. etc. — e, sem isso, não se pode formar um juízo objetivo sobre o candidato, restando-nos a possibilidade de formar uma síntese confusa, que expressa, se muito, nossas preferências subjetivas sobre a imagem pública projetada por ele no passado (ou em entrevistas recentes).
Não se esqueçam que o próprio Donald Trump, quando surgiu como candidato, era muito criticado por conservadores e republicanos com base em opiniões e atitudes passadas. Não é difícil lembrar disso, pois quase todo o mundo chegou a flertar com a idéia ridícula de que ele era um infiltrado democrata, usando para justificá-la a proximidade de Trump com políticos democratas e as opiniões confusas que ele havia expressado sobre o aborto, sobre o desarmamento, sobre a economia e sobre uma série de outras questões importantes.
É necessário, portanto, deixar essas discussões abstratas de lado e focar no que se pode saber.
A candidatura do Justus tem potencial. Ele não tem a força de personalidade do Trump e é um sujeito que ainda não demonstrou a disposição necessária para romper com a camisa-de-força verbal do politicamente correto, mas poderá surpreender positivamente se souber ajustar sua postura, cercar-se das pessoas certas, e, indo além das propostas econômicas, adotar uma estratégia e um discurso adequados ao momento atual.
E o que o momento revela é que o conservadorismo, no Brasil, é um corpo fortíssimo que não encontrou ainda uma cabeça. Para preencher esse espaço, mais do que ter o coração ao lado das massas, é preciso ter a visão estratégica necessária para conduzi-las e a compreensão de que isso não pode ser feito por uma única pessoa. Um indivíduo, por mais dotado que seja, será sempre um símbolo aglutinador, a expressão externa do grupo que o sustenta e que possibilita a execução de sua estratégia, sem a qual jamais poderá agir efetivamente na esfera política — por essa razão, qualquer pessoa que aspire se tornar a voz e a face pública da maior força política que existe hoje no Brasil terá de compreender que suas qualidades individuais não bastam.
Os valores conservadores são os valores do povo brasileiro, os valores das pessoas simples que nem sempre entendem conceitos econômicos, mas que entendem melhor do que ninguém a linguagem da ordem, da moral, dos bons costumes, e que estão cansados de ver tudo o que respeitam e reverenciam ser tratado com desprezo e escárnio pelas elites. Portanto, qualquer candidato que ousar falar em nome dessas pessoas, como o Trump ousou falar em nome do americano médio, enquanto ataca os problemas reais do país, alcançará um êxito eleitoral sem precedentes. Mas isso não basta.
Diante disso, o principal conselho a qualquer candidato que queira chegar a 2018 com chances de vencer a disputa presidencial e de exercer um bom governo, que queira repetir no Brasil o que o Trump realizou na América, (seja o Justus, seja o Caiado, seja o Bolsonaro, seja quem for), é organizar o quanto antes uma pequena operação política, que terá por finalidade, não a promoção publicitária, mas o estudo estratégico das possibilidades de ação. Foi o que fez Donald Trump quase dois anos antes da disputa que ele viria a vencer, e esse é um dos principais motivos pelos quais hoje já o chamamos de presidente.
22 de dezembro de 2016
Filipe G.Martins
senso incomum
Com sua declaração recente de que não descarta a possibilidade de se candidatar à presidência do Brasil em 2018, Roberto Justus deu início a uma série de discussões acaloradas entre os que vêem sua candidatura com bons olhos e os que a rejeitam por não considerá-lo bom o suficiente. O problema é que discutir abstratamente sobre as qualidades e os defeitos do Justus como candidato não faz o menor sentido. Os argumentos que estão sendo apresentados, de parte a parte, não passam de arranjos apressados e inócuos de palavras que expressam, não uma análise objetiva dos fatos, mas apenas reações emocionais (contrárias ou favoráveis) a atitudes ou opiniões por ele externadas no passado.
É bem verdade que muitas das críticas dirigidas a ele são em si mesmas justas, mas é preciso deixar claro que o tipo de coisa que se pode avaliar à esta altura do campeonato, e com base nas informações que temos, não possui qualquer relevância para uma análise política séria.
Jamais se pode julgar um agente político baseando-se apenas nos valores que ele aparenta representar. Em uma análise política, é necessário deixar as crenças subjetivas dos agentes em segundo plano e julgá-los de acordo com a substância de suas ações, com a qualidade de sua estratégia, com a composição de suas alianças e com as características de sua base de apoio.
Nenhuma dessas informações está disponível — não sabemos qual será a estratégia que ele adotará, por qual partido ele se candidatará, quais grupos o apoiarão, etc. etc. etc. — e, sem isso, não se pode formar um juízo objetivo sobre o candidato, restando-nos a possibilidade de formar uma síntese confusa, que expressa, se muito, nossas preferências subjetivas sobre a imagem pública projetada por ele no passado (ou em entrevistas recentes).
Não se esqueçam que o próprio Donald Trump, quando surgiu como candidato, era muito criticado por conservadores e republicanos com base em opiniões e atitudes passadas. Não é difícil lembrar disso, pois quase todo o mundo chegou a flertar com a idéia ridícula de que ele era um infiltrado democrata, usando para justificá-la a proximidade de Trump com políticos democratas e as opiniões confusas que ele havia expressado sobre o aborto, sobre o desarmamento, sobre a economia e sobre uma série de outras questões importantes.
É necessário, portanto, deixar essas discussões abstratas de lado e focar no que se pode saber.
A candidatura do Justus tem potencial. Ele não tem a força de personalidade do Trump e é um sujeito que ainda não demonstrou a disposição necessária para romper com a camisa-de-força verbal do politicamente correto, mas poderá surpreender positivamente se souber ajustar sua postura, cercar-se das pessoas certas, e, indo além das propostas econômicas, adotar uma estratégia e um discurso adequados ao momento atual.
E o que o momento revela é que o conservadorismo, no Brasil, é um corpo fortíssimo que não encontrou ainda uma cabeça. Para preencher esse espaço, mais do que ter o coração ao lado das massas, é preciso ter a visão estratégica necessária para conduzi-las e a compreensão de que isso não pode ser feito por uma única pessoa. Um indivíduo, por mais dotado que seja, será sempre um símbolo aglutinador, a expressão externa do grupo que o sustenta e que possibilita a execução de sua estratégia, sem a qual jamais poderá agir efetivamente na esfera política — por essa razão, qualquer pessoa que aspire se tornar a voz e a face pública da maior força política que existe hoje no Brasil terá de compreender que suas qualidades individuais não bastam.
Os valores conservadores são os valores do povo brasileiro, os valores das pessoas simples que nem sempre entendem conceitos econômicos, mas que entendem melhor do que ninguém a linguagem da ordem, da moral, dos bons costumes, e que estão cansados de ver tudo o que respeitam e reverenciam ser tratado com desprezo e escárnio pelas elites. Portanto, qualquer candidato que ousar falar em nome dessas pessoas, como o Trump ousou falar em nome do americano médio, enquanto ataca os problemas reais do país, alcançará um êxito eleitoral sem precedentes. Mas isso não basta.
Diante disso, o principal conselho a qualquer candidato que queira chegar a 2018 com chances de vencer a disputa presidencial e de exercer um bom governo, que queira repetir no Brasil o que o Trump realizou na América, (seja o Justus, seja o Caiado, seja o Bolsonaro, seja quem for), é organizar o quanto antes uma pequena operação política, que terá por finalidade, não a promoção publicitária, mas o estudo estratégico das possibilidades de ação. Foi o que fez Donald Trump quase dois anos antes da disputa que ele viria a vencer, e esse é um dos principais motivos pelos quais hoje já o chamamos de presidente.
22 de dezembro de 2016
Filipe G.Martins
senso incomum
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