Até pouco tempo, deputados e senadores recebiam o chamado auxílio-paletó. O agrado era depositado todo fim do ano, como se fosse um presente de Natal. Alegava-se que suas excelências precisavam de ajuda para comprar ternos, traje obrigatório na vida parlamentar.
Sérgio Cabral, o ex-governador do Rio, parece ter criado sua própria versão do benefício. Ela poderia ser chamada de Bolsa Ermenegildo Zegna. Enquanto o Estado caminhava para a falência, o peemedebista torrou R$ 258 mil para se vestir com roupas da grife italiana.
As compras foram pagas em dinheiro vivo, segundo documentos reunidos pela Lava Jato. Os investigadores afirmam que Cabral usou “produto do crime” para renovar o guarda-roupa. Ele é acusado de cobrar propina nas obras do Complexo Petroquímico do Rio, um dos projetos mais ambiciosos da Petrobras.
FIGURINO – O ex-governador começou a investir nos ternos italianos em 2011. Em julho do ano seguinte, fez sua maior aquisição: R$ 89.950, quitados “por meio de 11 (onze) operações bancárias de depósito em dinheiro, fracionadas em valores inferiores a R$ 10.000,00 (dez mil reais)”.
O objetivo do parcelamento, segundo os procuradores, era “ocultar a origem e a natureza criminosa dos valores oriundos dos crimes”. Toda compra acima de R$ 9.999,99 precisa ser informada ao Coaf, órgão do Ministério da Fazenda que fiscaliza movimentações suspeitas.
A grife preferida de Cabral é citada 83 vezes na denúncia que o acusa de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no petrolão. No mês passado, os policiais que visitaram seu apartamento encontraram uma vasta coleção de ternos da marca. As etiquetas eram personalizadas com o nome do político e a inscrição “su misura” (sob medida, em italiano).
Desde que se mudou do Leblon para Bangu 8, o peemedebista foi obrigado a adotar um novo estilo. Agora só é visto em trajes na cor verde, com a assinatura da grife Seap.
22 de dezembro de 2016
Bernardo Mello Franco
Folha
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