"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

POR QUE VOCÊ DEVE DEFENDER A FAMÍLIA TRADICIONAL




A família patriarcal tradicional está sendo atacada por todos os meios de comunicação. Alguém já pensou em como seria o mundo SEM ela?

Entre todas as propostas extremistas e radicais que estão sendo aventadas nestes tempos de país (e mundo) dividido, nenhuma pode ser mais sectária do que a defesa da mais antiquada e rejeitada instituição ultrapassada a ser imolada no altar revolucionário: a família tradicional.

Em tempos de Natal, em que a família toda se reúne para celebrar a alegria de ser uma família, de ter um Salvador que entrou no tempo histórico e em dar presentes, fazer um jantar conjunto e celebrar, numa ritualística que é considerada pela esquerda como nitidamente nazista, devemos lembrar da professora de filosofia petista Marilena Chaui, que afiançou, a jovens de um colégio rico de São Paulo, que é risível que se defenda a família nuclear, pois ela seria uma invenção do século XIX dos capitalistas para ganhar dinheiro.

A visão de extremíssima esquerda é também comungada por Monalisa Perrone, apresentadora da Rede Globo, que vê o risco de ascensão do extremismo político-sectário radical beirando o terrorismo de supremacistas brancos de extrema-direita quando alguém defende a família:

O dog whistle da Rede Globo foi atendido prontamente pela militância do eixo Marilena-Monalisa: neste Natal, as páginas de extrema-esquerda, obedientes à Rede Globo, aceitaram o chamado e lembraram aos companheirinhos no Facebook que o intuito do Natal era estragar almoços e jantares familiares, e não tornar alguém feliz.


Mas será que algum dos universitários progressistas voltando das performances no DCE ao convívio familiar, tão empenhados em garantir que “estudaram História” (justamente graças à família, que o fez ir chorando para a escola, e agora chora de volta com o resultado), garantindo que são “instruídos” contra seus obscurantistas avós, sabem mesmo do que estão falando?

Quando a professora de filosofia petista Marilena Chaui afirma que

“O papai e a mamãe é a mesma coisa [que um déspota]… Isso que nós entendemos que é o pai e a mãe e os filhos, e tem que acrescentar avô e avó, tio e tia, primo prima, isso é uma invenção do capitalismo do final do século XVIII e durante o século XIX.”

…noves fora mais algo a agradecer ao capitalismo, este grande inventor, um Professor Pardal histórico, será que algum aluno que ri por Marilena chamar de “bestas” quem define a família como “natural e eterna” sabe, afinal, do que a petista está falando? Antes de o capitalismo chegar, será que as pessoas nasciam de algo diferente do que pai e mãe? Era uma máquina? Uma grande célula-mãe? Uma abelha-rainha humana? Será que nenhum dos científicos estudantes críticos e ultra-racionais questionou Chaui sobre tal mister, já que se sabe que nenhum saberia responder tal pergunta (ou não estaria tendo tal palestra), ou a peer pressure e a vontade de rir com a manada cala um auditório inteiro?

Ora, na era hipersexualizada do progressismo, talvez paradoxalmente seja exatamente quando é necessário explicar para jovens como o ser humano se reproduz. Como há muitos sites com vídeos demonstrativos do processo à remanescência na internet, pode-se focar apenas no aspecto histórico.


No Império Romano, por exemplo, a forma de organização social dos escravos não era pela família nuclear tradicional. Quando os senhores de escravos precisavam renovar o estoque, todos os homens eram forçados a praticar a doce agonia do coito com todas as mulheres, elas engravidavam e os escravinhos futuros nunca sabiam quem eram seus pais (por um fator razoavelmente lógico, sabiam das mães). Sem ter quem lhes defendesse, já que não possuíam família e eram filhos-de-ninguém, só tinham como destino serem mão-de-obra eterna dos donos de escravos, sem escapatória.

Formas semelhantes e coletivistas de agremiação são encontradas no mundo inteiro, do Japão eternamente feudal aos tlatlacotin astecas, variando de organizações escravocratas completas a modelos de vassalagem (o que já implica que, afinal, Marilena Chaui está errada, pois famílias nucleares são, sim, organizações abundantes e globais durante a história).

A novidade imposta pela forma conhecida como patriarcado é, justamente, retirar a coletivização dos guerreiros, que serviam ao Estado e satisfaziam sua libido com mulheres que nunca veriam mais gordas, esfacelar a sociedade imperial colocando um contrapeso religioso a ela e, emulando aquele casal do marido carpinteiro que, sem vaga em hospedagem, acabou tendo um filho numa manjedoura (ou seja, no celeiro), acabar com a sociedade de três classes notada por Georgius Dumézil para instituir uma sociedade em que a família é anterior ao Estado. Como só bestas crêem que seja uma verdade “natural e eterna”.

Assim, no patriarcado, o homem não pode mais esvaziar seus fluídos inconsequentemente, se tornando o pater familias que terá de prover, proteger e ser responsável, até mesmo quando está em guerra ou caçando, pela sua ninhada. Por isso um patriarcado, e não um matriarcado, como aventado por feministas que levaram As Brumas de Avalon a sério demais: o homem se torna aferrado aos seus atos no patriarcado. Sem ele, é um completo irresponsável. O patriarcado serve para proteger as mulheres, e não os homens.

Antes da Igreja, da vassalagem e da ordem social do medievo (oratores, bellatores e laboratores), os filhos pertenciam ao Estado. A família nuclear cria uma tradição em que o Estado é que deve obedecer às famílias. Sem o patriarcado, inclusive, o conceito de “representatividade política”, tão caro à modernidade, não faria o mais ínfimo sentido. Cada casinha e barraco contém em si uma pequena monarquia, sagrada dentro de seus muros. Os filhos nascem protegidos, e não em um orfanato coletivo.


Mas desde que Herbert Marcuse definiu que a revolução viria dos sexualmente frustrados, os socialistas, que sempre aboliram e perseguiram o hedonismo e o homossexualismo, abraçaram a ambos e os incentivaram, fazendo com que muitos filhos da “burguesia”, ao finalmente chegar à faculdade, fossem inundados justamente com propaganda de sexo livre (e pansexual), e passassem a ter nojinho de beijar a vovó na testa no Natal, por ser uma figura do patriarcado em um dia do obscurantismo.

E aonde é que Marilena Chaui quer chegar? Não de volta ao Império Romano, naturalmente, mas à sociedade sem classes e sem família do socialismo. Se o discurso econômico calcado em “proletários” não faz mais sentido nem mesmo para um militante do PSTU (geralmente filho de classe alta, estudante de cinema e passando férias em Londres e Nova York desde os 2 anos de idade), o discurso contrário à família, a “superestrutura” que encobre a infraestrutura (o capital), está mais forte em 2016 do que já foi em qualquer outro momento na história. Para quem acredita que a ideologia comunista está morta, basta meia hora de Rede Globo.

Como já comentamos na questão do aborto, o experimento “pós-família” foi introduzido já nos primeiros momentos da Revolução Russa. Orlando Figes, o maior estudioso no mundo do cotidiano soviético (vide Sussurros: A vida privada na Rússia de Stalin), conta o experimento:

Como viam os bolcheviques, as famílias eram o maior obstáculo à socialização das crianças. “Por amor a criança, a família a torna um ser egotista, encorajando-a a ver-se como o centro do universo”, escreveu a pensadora educacional soviética Zlata Lilina. Teóricos bolcheviques concordavam com a necessidade de substituir esse “amor egotista” pelo “amor racional” de uma “família social” mais ampla. O ABC do comunismo (1919) vislumbrava uma sociedade futura na qual os pais deixariam de utilizar a palavra “eu” em referência a um filho, pois se importariam com todas as crianças na comunidade. (…)

Pais falavam com filhos e filhas como “camaradas”. Crianças eram deixadas à mercê do que o Estado soviético decidisse fazer com elas, geralmente em espécies de orfanatos coletivos enquanto seus pais trabalhavam. Confirmando o que foi proposto por Karl Marx, os filhos seriam criações coletivas, todos comendo em barracões de fábricas, sem privacidade e quartos separados na hora de dormir. Acabou-se o patriarcado e o obscurantismo do “ópio do povo”.

Para se entender aonde Marilena Chaui e os lampejos contra a família patriarcal de eleitores do Bolsonaro vão chegar, vale também ler o primeiro capítulo de Fuga do Campo 14, de Blaire Harden, que conta a história de Shin Dong-hyuk, único sobrevivente conhecido por escapar do mais fechado e temido campo de concentração da Coréia do Norte.


Sem família nuclear, o Estado norte-coreano, esquerdista, progressista e nãobatedordepanela despreza obscurantismos como a tradição e o pátrio poder. Na Introdução do livro, “Nunca ouviu a palavra amor”, descobrimos que a mãe de Shin era filha de alguém que, algum dia, sonhou em criticar o regime. Como até a terceira geração é punida em trabalhos em campos de concentração, Shin nasceu de um “cruzamento”, quando os soldados que vigiavam os campos (eles próprios espécies de prisioneiros) esvaziavam-se do vazio da existência com as internas.

Shin nunca viu o pai. Sem laços com a mãe, ambos competiam pela escassíssima comida que lhes davam em troca de seu trabalho de 16 a 18 horas por dia. Shin roubava a comida da mãe quando podia, sendo espancado às lágrimas da progenitora quando ela descobria que não tinha o que comer (o que pode ser lido do capítulo 2, “O menino que roubava o almoço da mãe”, até o 4, “Filho da puta reacionário”). O trabalho dos dois envolvia tarefas como limpar latrinas – não com ferramentas ou panos, mas diretamente com as mãos. Shin, sendo filho do Estado, era espancado também por seu professor e, logicamente, pelos guardas. Nunca ouviu falar de que há um lugar fora da Coréia do Norte. Aliás, de que há algum lugar além do Campo 14.

Ninguém possui família. Muito menos Natal. Não há poder que desafie o Estado. Não há religião, avó carola achando feio que a tia seja mãe solteira e nem pai eleitor do Bolsonaro. Não há patriarcado: Shin pôde viver tranquilamente a sua vida como estudante do que o Estado quer que ele estude, sem saber de nada sobre o mundo, sem a horrenda figura opressora do macho-provedor, aquele que faz a esquerda invocar Sigmund Freud para tentar nos levar das trevas extremistas de uma América para as luzes progressistas de uma Coréia do Norte.

Novamente, cabe a pergunta: algum dos adolescentes rindo de quando Marilena Chaui fala com nojo “daquilo que chamamos papai e mamãe” por acaso parou pra pensar no que é a vida fora do patriarcado? Buscou referências na história, inclusive na história atual? Sabe exatamente o que está defendendo? Ou basta ter nojinho de que a família, esta pequena monarquia, vê com certa aversão homossexuais, mesmo que não os saia espancando por aí, como os socialistas faziam e, alguns, ainda fazem?

Responder tal questionamento após alguma reflexão (e não apenas por reflexo, o que é o oposto) é o que explica se você deve dar um beijinho na testa da sua vovó ou se deve ouvir Monalisa Perrone norte-coreanizando na Rede Globo e saber se Marilena Chaui ri com você ou da sua cara.




28 de dezembro de 2016
flávio morgenstem
senso incomum
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