O avanço da supremacia dos valores éticos, na organização das sociedades, não foi fruto da ação de multidões nas ruas. A reflexão de pessoas eruditas encontrou a formula para a institucionalização do ideal democrático que, então, apresentado ao povo, possibilitou a progressiva vitória das teses propostas. Não serão essas multidões que hoje percorrem as ruas, de forma desorganizada e algumas vezes violenta, que farão evoluir o atual estagio da democracia.
A crise global que assola a humanidade transtornou a lógica, inverteu a moral, acabou com a virtude da honestidade intelectual. O que se vê, lê ou ouve é uma grande confusão de várias informações sendo transmitidas a cada instante. As informações são recebidas por pessoas que, passivamente, as interiorizam sem ter a capacidade de exercer uma atitude critica sobre as mensagens que recebe. Assim não procedem por não terem sido formadas intelectualmente para este necessário e permanente exercício da liberdade e da responsabilidade social. Consolidam-se, assim, afirmações consideradas como “politicamente corretas” que, por serem simplistas agradam ao povo destituído de capacidade critica e passam a ser verdades que governam a formação da opinião publica. Por não serem contestadas essas falsas proposições tornam-se verdades. As regras de convivência foram criadas, ao longo dos últimos séculos, tendo outros referenciais éticos como fundamentos - valores necessariamente estáveis no tempo que conformaram as atuais instituições, leis e práticas sociais. A democracia, fórmula humana ideal para presidir o necessário viver coletivo, com suas naturais divergências, começa a se transformar numa ditadura da maioria. A maioria de votos deve presidir decisões objetivas, mas não a validade dos históricos valores éticos que regem a vida social.
Pouco a pouco está se cristalizando duas grandes classes sociais, em todo o mundo: os que detêm conhecimentos e os que não detêm nenhum ou apenas escassos e confusos conhecimentos.
Essas pessoas são iguais? Sim, são iguais em dignidade que precisa ser devidamente atendida nas democráticas formas do conviver coletivo. No entanto, são distintas na maneira de participar da sociedade em função do seu nível de conhecimentos. O pressuposto da divisão do trabalho na organização e funcionamento do complexo mundo contemporâneo impõe esta reflexão. Tal fato concreto é reforçado e esclarecido pelos desníveis entre as pessoas, os naturais ou os impostos pela desigualdade de acesso às boas escolas e universidades. Aqui está uma enorme questão a ser considerada, pois os problemas por ela trazidos estão se avolumando com o potencial de, inclusive, conduzir a humanidade à extinção, como é o caso da questão do aquecimento da atmosfera. Uma decisão política adotada, por força de uma eventual maioria ignorante, poderá levar a uma terrível catástrofe planetária.
A maioria de votos não é critério de verdade ou de adequação da proposta política vencedora às necessidades de atendimento das exigências da dignidade da pessoa humana. Tal discernimento, nos tempos atuais, não pode ser realizado por pessoas sem um mínimo de competente formação intelectual que os capacitem à escolher os melhores representantes, no sistema da democracia representativa, ou para optarem entre propostas políticas complexas no sistema da democracia participativa.
Precisamos ser intelectualmente honestos e corajosos e enfrentar esta questão – não podemos nos omitir escondidos atrás de frases demagógicas que não respondem a questão proposta. O que fazer? Várias alternativas se apresentam. Desde as teses autoritárias e excludentes dos mal formados intelectualmente, até o deixar tudo como está apenas com a preocupação de investir globalmente no processo educacional e esperar que, em algumas décadas, os povos passem a optar com maior qualidade de discernimento. O que se esquece, com esta forma de pensar, é que, além do escasso tempo disponível para o encaminhamento de soluções para vários graves problemas, o sistema capitalista dominante – responsável pelas extraordinárias conquistas da Civilização Ocidental e também pelas maiores injustiças sociais - é extremamente sensível em perceber as mutações sociais e hábil em se adaptar às novas formas do viver em sociedade. O sistema liberal, para não correr o risco de perder sua posição de dominação política, já começou a manipular, com grande sucesso, o conhecimento e a informação. Nada irá mudar se a maioria do eleitorado, devidamente condicionada e instrumentalizada pelo sistema capitalista, continuar garantir a vitória de candidatos incompetentes, demagogos e corruptos. A cidadania bem formada, as elites dos povos, que vivem tranqüilos, muitas vezes ignorando o vil papel a que se prestam de suportes do sistema iníquo, exercendo em seu nome o poder político e empresarial, precisam ser alertados para a gravidade do momento. Sacudam a irresponsável e confortável letargia e assumam seu papel histórico de protagonistas do projeto de um mundo mais justo.
Resta lutar pelo sucesso da urgente e difícil proposta de conscientização e da consequente imediata ação das elites, acreditando que, no tempo de uma geração, a maioria dos povos bem formados intelectualmente estará à frente dos destinos do planeta. Tudo seria fruto de decisão política a ser tomada agora, colocando a questão da educação integral de qualidade em primeiro plano, com todas as necessidades decorrentes desta opção atendidas. Tudo começaria pela eleição de competentes e honestos dirigentes políticos das nações sendo feita por aqueles cidadãos e cidadãs que, hoje, detenham um mínimo de formação intelectual, (com nível do ensino médio no caso brasileiro), e a profunda e honesta convicção dos eleitos da responsabilidade histórica que têm de salvar o ideal democrático, com o sacrifício temporário da não participação total do povo na construção do seu destino. É uma dramática e quase impossível decisão que se faz necessária, apesar de ser lógica e moralmente correta. Com a atual configuração social – com eleitores de escassa formação intelectual sendo facilmente manipulados pelos demagogos e corruptos donos do poder - nunca iremos construir uma verdadeira sociedade democrática e justa.
27 de setembro de 2016
Eurico Borba, 75, aposentado, escritor, mora em Ana Rech, Caxias do Sul, RS.
A crise global que assola a humanidade transtornou a lógica, inverteu a moral, acabou com a virtude da honestidade intelectual. O que se vê, lê ou ouve é uma grande confusão de várias informações sendo transmitidas a cada instante. As informações são recebidas por pessoas que, passivamente, as interiorizam sem ter a capacidade de exercer uma atitude critica sobre as mensagens que recebe. Assim não procedem por não terem sido formadas intelectualmente para este necessário e permanente exercício da liberdade e da responsabilidade social. Consolidam-se, assim, afirmações consideradas como “politicamente corretas” que, por serem simplistas agradam ao povo destituído de capacidade critica e passam a ser verdades que governam a formação da opinião publica. Por não serem contestadas essas falsas proposições tornam-se verdades. As regras de convivência foram criadas, ao longo dos últimos séculos, tendo outros referenciais éticos como fundamentos - valores necessariamente estáveis no tempo que conformaram as atuais instituições, leis e práticas sociais. A democracia, fórmula humana ideal para presidir o necessário viver coletivo, com suas naturais divergências, começa a se transformar numa ditadura da maioria. A maioria de votos deve presidir decisões objetivas, mas não a validade dos históricos valores éticos que regem a vida social.
Pouco a pouco está se cristalizando duas grandes classes sociais, em todo o mundo: os que detêm conhecimentos e os que não detêm nenhum ou apenas escassos e confusos conhecimentos.
Essas pessoas são iguais? Sim, são iguais em dignidade que precisa ser devidamente atendida nas democráticas formas do conviver coletivo. No entanto, são distintas na maneira de participar da sociedade em função do seu nível de conhecimentos. O pressuposto da divisão do trabalho na organização e funcionamento do complexo mundo contemporâneo impõe esta reflexão. Tal fato concreto é reforçado e esclarecido pelos desníveis entre as pessoas, os naturais ou os impostos pela desigualdade de acesso às boas escolas e universidades. Aqui está uma enorme questão a ser considerada, pois os problemas por ela trazidos estão se avolumando com o potencial de, inclusive, conduzir a humanidade à extinção, como é o caso da questão do aquecimento da atmosfera. Uma decisão política adotada, por força de uma eventual maioria ignorante, poderá levar a uma terrível catástrofe planetária.
A maioria de votos não é critério de verdade ou de adequação da proposta política vencedora às necessidades de atendimento das exigências da dignidade da pessoa humana. Tal discernimento, nos tempos atuais, não pode ser realizado por pessoas sem um mínimo de competente formação intelectual que os capacitem à escolher os melhores representantes, no sistema da democracia representativa, ou para optarem entre propostas políticas complexas no sistema da democracia participativa.
Precisamos ser intelectualmente honestos e corajosos e enfrentar esta questão – não podemos nos omitir escondidos atrás de frases demagógicas que não respondem a questão proposta. O que fazer? Várias alternativas se apresentam. Desde as teses autoritárias e excludentes dos mal formados intelectualmente, até o deixar tudo como está apenas com a preocupação de investir globalmente no processo educacional e esperar que, em algumas décadas, os povos passem a optar com maior qualidade de discernimento. O que se esquece, com esta forma de pensar, é que, além do escasso tempo disponível para o encaminhamento de soluções para vários graves problemas, o sistema capitalista dominante – responsável pelas extraordinárias conquistas da Civilização Ocidental e também pelas maiores injustiças sociais - é extremamente sensível em perceber as mutações sociais e hábil em se adaptar às novas formas do viver em sociedade. O sistema liberal, para não correr o risco de perder sua posição de dominação política, já começou a manipular, com grande sucesso, o conhecimento e a informação. Nada irá mudar se a maioria do eleitorado, devidamente condicionada e instrumentalizada pelo sistema capitalista, continuar garantir a vitória de candidatos incompetentes, demagogos e corruptos. A cidadania bem formada, as elites dos povos, que vivem tranqüilos, muitas vezes ignorando o vil papel a que se prestam de suportes do sistema iníquo, exercendo em seu nome o poder político e empresarial, precisam ser alertados para a gravidade do momento. Sacudam a irresponsável e confortável letargia e assumam seu papel histórico de protagonistas do projeto de um mundo mais justo.
Resta lutar pelo sucesso da urgente e difícil proposta de conscientização e da consequente imediata ação das elites, acreditando que, no tempo de uma geração, a maioria dos povos bem formados intelectualmente estará à frente dos destinos do planeta. Tudo seria fruto de decisão política a ser tomada agora, colocando a questão da educação integral de qualidade em primeiro plano, com todas as necessidades decorrentes desta opção atendidas. Tudo começaria pela eleição de competentes e honestos dirigentes políticos das nações sendo feita por aqueles cidadãos e cidadãs que, hoje, detenham um mínimo de formação intelectual, (com nível do ensino médio no caso brasileiro), e a profunda e honesta convicção dos eleitos da responsabilidade histórica que têm de salvar o ideal democrático, com o sacrifício temporário da não participação total do povo na construção do seu destino. É uma dramática e quase impossível decisão que se faz necessária, apesar de ser lógica e moralmente correta. Com a atual configuração social – com eleitores de escassa formação intelectual sendo facilmente manipulados pelos demagogos e corruptos donos do poder - nunca iremos construir uma verdadeira sociedade democrática e justa.
27 de setembro de 2016
Eurico Borba, 75, aposentado, escritor, mora em Ana Rech, Caxias do Sul, RS.
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