"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

FUTEBOL E CAÇADA


Carl Sagan explica: o futebol fascina porque ele evoca as caçadas ancestrais que permitiram ao homem sobreviver e criar a civilização. Na caçada, predominavam, ao mesmo tempo, o espírito coletivo - em que todos eram responsáveis pela vida do companheiro (a atuação em grupo era imprescindível para atingir-se o objetivo final da caçada, o abate do animal) - e o lance individual do caçador com dons e atributos privilegiados, aquele caçador que, quando tudo parecia perdido e irreversível, garantia a captura do animal, num lance de gênio, a lança certeira, o salto ágil, o olhar atento, o ouvido apurado, a manobra maliciosa.

Isto pode explicar porque o futebol mobiliza bilhões de pessoas em todo o planeta. Não fosse isto, nenhuma campanha de marketing, ou propaganda bem feita, conseguiria explicar ou manipular a paixão do homem pelo futebol. São as memórias ancestrais do ser humano.

Salto com vara é bonito? É. Bater um record olímpico é louvável? É. Mas não basta.



25 de agosto de 2016
Miriam Macedo


NOTA AO PÉ DO TEXTO

Que ficou uma crônica bonita, isso lá ficou... Mas não convence muito essa memória ancestral de caçada coletiva com o lance final da morte da presa, apoiada pelo espírito do coletivo... 
Sei não... Algum elo ficou exagerado nesta busca do imaginário que alimentou o inconsciente do homem primitivo, e que resultou na transformação do futebol em espetáculo de multidão. Fico com o marketing esportivo e os interesses de empresários que lubrificam a máquina.
O gol não representa apenas a vitória de uma equipe, mas a glória de quem o faz (e sobretudo de quem o patrocina). 
O animal abatido não pertence a equipe, mas a quem o abateu...
Observo que em alguns lances, quando o mérito maior é de quem conduziu com malabarismos e firulas e preparou toda a finalização, até a bola balançar a rede adversária, o que deu o chute final, muita vezes um verdadeiro mamão com açúcar, recebe os louros e os abraços, e fica esquecido aquele que armou e preparou o final glorioso. A foto é solitária e mostra apenas o herói consagrado com o gol... E, acrescente-se, que o valor do seu passe sobe alguns milhões.
Fico com o marketing, que alimenta o inconsciente competitivo do homem (o animal solitário que disputa a maior quantidade de alimento e a melhor fêmea) e o transforma no ideal de conquista social e riqueza.

E ao ficar com o marketing, desprezo a belíssima e poética metáfora da caçada coletiva, que elege o melhor guerreiro e finalizador  do abate do animal. 
Que me perdoe Carl Sagan, mas o pragmatismo e o dinheiro não exigem rima nem imaginação...
No mais...
m.americo

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