"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

O ERRO IDEOLÓGICO DE FHC



A desgraça do Brasil é que temos visto sucessivos governos esquerdistas buscando sua utopia às custas dos brasileiros de bem, que são roubados, vilipendiados, submetidos à tirania burocrática mais vil.

Não sei se se pode falar em “erro ideológico”, mas não encontro outra expressão para designar a persistência do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de reafirmar suas crenças socialistas e distributivistas ao tempo em que faz críticas aos governos do PT, a quem chama de lulopetismo, certamente uma forma de descaracterizar a gênese do PT, supostamente contaminada pelo personalismo de Lula. A fé na igualdade que FHC carrega é cega e estúpida e incompatível com a realidade, mas ele certamente morrerá abraçado com ela. Não beijará a cruz na hora derradeira. O ex-presidente voltou à carga no artigo Certo e Errado, publicado no Estadão.
O virtuosismo sofista de FHC se ressalta no artigo ao buscar apoio em dois soldados de sua corriola, um vivo e um morto. Citou a entrevista de José de Souza Martins às páginas amarelas da revista Veja, que disse que a visão dicotômica do PT se deve à sua suposta origem católica. Ora, essa é uma perversão de conceitos. O PT, se teve apoio de setores católicos na origem, foi daqueles setores que abraçaram o marxismo e, portanto, não mais eram católicos. Mais apoios teve entre os integrantes das esquerdas revolucionárias. Estas sempre viram o mundo de forma dicotômica, é da essência dos partidos revolucionários dizer que os membros do partido são os redentores do povo, os bons, os que têm o sentido da história, e os demais, inclusive o povo, são os maus que precisam ser ou reformados ou exterminados.
Esse mundo em preto e branco é típico dos revolucionários que pregam a igualdade e a sua implantação por diferentes formas. FHC pensa exatamente assim, embora esteja treinado para fazer discurso apaziguador “democrático”, tolerante. Essencialmente não há diferença de programa entre FHC e o PT.
O outro autor a que apela, morto, é Sérgio Buarque, que aqui se torna veículo para o sociólogo exibir sua erudição suposta, tomando dele de empréstimo a expressão “atrasado” para impingir ao PT, como se isso fosse algum conceito e explicasse alguma coisa. Ora, todo o socialismo é o atraso ele mesmo, a derrocada espiritual, o descenso civilizacional, a negação as coisas naturais ao homem. É a tentativa de inventar o “homem novo” e, ao fazê-lo, construir o inferno na terra que faz de alguém socialista. É a veia de salão de FHC quase preconceituosa contra o PT. No fundo, a crítica ao PT é a crítica de todos os líderes do PSDB: a da competência técnica para governar supostamente portada pela socialdemocracia ante a notória incompetência administrativa do PT.
Ora, o PT é apenas mais coerente e mais urgente na perseguição da sua utopia, daí porque o desastre aparece mais rápido e mais nitidamente nos seus governos. Em favor de si FHC tem o Plano Real, sim, mas esse é um ponto fora da curva. No seu governo tivemos a gênese das políticas compensatórias do PT, a vã tentativa de fazer reforma agrária ao tempo em que a população já nem mais estava nos campos, fez crescer imensamente e rapidamente a carga tributária, uma verdadeira herança maldita. O Plano Real foi apenas um pingo de sensatez num mar de insensatez socialista que foi o governo de FHC, os dois.
Daí FHC poder fazer a sua magna conclusão: “cabe aos políticos de oposição, na luta ideológica, continuar a desmantelar as fortalezas do atraso.” Ou seja, a ele mesmo e a sua corriola, que são a oposição consentida e aceita por todos os socialistas que se aboletaram no poder. Por isso FHC pode ensinar:

Erros que não remetem à divisão esquerda/direita, mas se explicam pelo atraso na compreensão da política econômica e pelo interesse em manter o poder e os bolsos dos partidos e de alguns de seus dirigentes recheados com dinheiro alheio, dinheiro do povo. ”

Entenda-se: não é errado ser de esquerda, é certo ser de esquerda, mas não da esquerda aloprada e incompetente que é o PT. É o discurso do autoengano mais sonso que já vi escrito por FHC.
Diga-se de uma vez: a desgraça do Brasil é que temos visto sucessivos governos esquerdistas buscando sua utopia às custas dos brasileiros de bem, que são roubados, vilipendiados, submetidos à tirania burocrática mais vil e impedidos de construir de forma livre seu próprio destino. FHC é o grande arquiteto dessa tragédia nacional. O PT sempre foi seu filho dileto. FHC passou a faixa de presidente a Lula com a maior satisfação, embora os brasileiros despertos soubessem que seria um passo errado em direção a um oclocracia, como se revelou. Não porque Lula era o atraso, mas porque representava o passo adiante em direção ao “verdadeiro” socialismo.
O cinismo ideológico de FHC chega a ser comovente e quase convincente. Contudo, a utopia da igualdade já está suficientemente desmascarada para seduzir quem pode pensar por si mesmo. FHC, nesse sentido e no plano teórico mais geral, é um grande mentiroso. E se acha o tal da cocada preta. Daria dó tal pretensão se não tivesse tido o poder de cometer tanta maldade contra os brasileiros e, pior, ter condições de voltar ao poder para repeti-las.

15 de fevereiro de 2016
nivaldo coredeiro
www.nivaldocordeiro.net

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