Chacrinha, o maior pensador brasileiro, dizia que veio para confundir, não para esclarecer.
A poesia de Pasternak faz o caminho inverso, parte de temas cerebrais e obscuros para a simplicidade pastoral.
Pasternak revela em sua autobiografia parcial, Safe Conduct (escrita em 1931) que foi Mayakovsky, o homem e a sua poesia, quem implodiu sua visão de mundo e seu mundo. Implodiu não, Mayakovsky foi uma bomba atômica na cabeça meandrosa transbordando de filosofia germânica (ou seja, merda) de Pasternak. Pasternak confessa seu tributo e sua adoração ao imponente mestre (“Todo frescor da pilha de estrume/ de onde toda vida e todas as causas emanam”, Março). Mayakovsky incorporava a própria poesia na sua pessoa, ou sua pessoa na poesia (“Eu, tão imenso/ E por ninguém querido”, Poema dedicado a mim mesmo). Seus recitais inesquecíveis e antológicos causavam a admiração até mesmo do fleumático e inescrutável Andrei Bely – revelada por indefiníveis movimentos no escanteio da alma. Curiosamente o sidekick de Mayakovsky, o brilhante Khlebnikov, que muitos acreditavam que não existia ou que ele não era ele mesmo; foi o poeta que inspirou, entre outros, Martinho da Vila (Você ri alto e baixo risos risíveis/Sorri risos com sorrisos) não despertou nenhuma admiração de Pasternak, apenas estranhamento cujo mérito era-lhe inacessível. Pasternak termina sua autobiografia narrando o suicídio de Mayakovsky levado ao desespero pela perseguição dos comunistas e por um amor muito pesado para carregar nas costas (“Não tenho pressa. Não preciso/ te acordar ou perturbar com telegramas ou trovões”, Nota de suicídio).
11 de janeiro de 2016
in selva brasilis
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