Com o aperto do cerco de investigações em várias frentes sobre si e seus familiares, em especial nas operações Lava Jato e Zelotes, o ex-presidente Lula decidiu reforçar sua defesa: contratou o criminalista Nilo Batista para seu time de advogados. Nas palavras de aliados, Lula “tomou consciência de que algo mais grave pode acontecer”. Nesta semana, por exemplo, veio à tona que o delator Nestor Cerveró o citou diretamente em um negócio investigado na Lava Jato.
Até aqui, Lula vinha adotando a tática de mostrar-se como perseguido por setores do Judiciário e pela imprensa, os quais, na sua retórica, querem minar eventual nova candidatura dele à Presidência.
O petista não abandonará o discurso, mas chamou Batista para adensar tecnicamente sua defesa nos casos em que vem sendo citado.
Nilo Batista foi governador do Rio de Janeiro em 1994 – era vice de Leonel Brizola (PDT) quando o pedetista se afastou do cargo para concorrer à Presidência – e é considerado um dos principais criminalistas do Estado.
TRABALHANDO DE GRAÇA
Em 2003, Lula cogitou convidá-lo para assumir uma vaga no Supremo Tribunal Federal, mas acabou optando por Cezar Peluso, por sugestão do então ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos.
À Folha, Batista disse que está trabalhando de graça para Lula. Especula-se que os honorários dos advogados da Lava Jato variem entre R$ 3 milhões e R$ 5 milhões, mas alguns figurões chegam a cobrar R$ 15 milhões pelo trabalho.
Segundo Batista, sua estratégia será “mostrar movimentos processuais e as hipóteses fantasiosas” utilizadas para “criminalizar” o petista.
“Há um esforço para a criminalização do ex-presidente”, disse o advogado, que preferiu não atribuir a prática a nenhuma pessoa ou órgão. “Não quero fulanizar.”
PRISÃO DE LULA
Integrantes da cúpula do PT, por sua vez, reconhecem que recorrer a um criminalista experiente foi uma maneira de tentar evitar “o ambiente criado para a prisão de Lula” que identificam.
Auxiliares da presidente Dilma Rousseff também comemoraram a decisão, vista por eles como a profissionalização da defesa do petista, ainda tido no Planalto como principal fiador do governo.
SUGESTÃO
A contratação de Batista, que se junta aos advogados Cristiano Zanin Martins e Roberto Teixeira, foi sugestão do deputado federal Wadih Damous (PT-RJ), amigo de Lula e que tem coordenado as iniciativas jurídicas do PT, no Congresso, em defesa do governo.
A primeira atuação do criminalista no caso foi acompanhar o depoimento que Lula deu à Polícia Federal na quarta-feira (6), em um inquérito da Operação Zelotes.
O que mais preocupa o ex-presidente é a citação a seu filho caçula, Luis Cláudio Lula da Silva, dono da LFT Marketing. Segundo a investigação, a empresa recebeu R$ 2,4 milhões do escritório Marcondes & Mautoni, que fazia lobby para empresas automotivas.
SOB INVESTIGAÇÃO
Lula não é acusado em nenhum dos processos em que seu nome aparece. Mas é investigado pela Procuradoria da República no Distrito Federal sob suspeita de favorecer a Odebrecht, que pagou palestras e viagens do petista a países onde fez obras financiadas pelo BNDES.
Na Lava Jato, Cerveró disse que foi indicado por Lula para cargo na BR Distribuidora em reconhecimento pela contratação da Schahin Engenharia. O negócio, segundo Cerveró, serviu para quitar empréstimo de R$ 12 milhões, no Banco Schahin, que saldou dívidas do PT.
Lula nega a versão, afirma que nunca tratou “com qualquer pessoa sobre supostos empréstimos ao PT” e que Cerveró foi indicado pelo PMDB.
16 de janeiro de 2016
Marina Dias
Folha
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