"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 26 de dezembro de 2015

"OS ÚLTIMOS CINCO ANOS FORAM UM DESASTRE", DIZ DELFIM NETTO


Delfim Netto acha que a situação só tende a piorar





















O economista Antonio Delfim Netto tem hoje bem menos contato com Dilma Rousseff do que no início do primeiro mandato da presidente. Conhecendo-a bem e do alto da longa experiência na vida pública, ele traça um dilema em sua perspectiva pessimista para a economia brasileira: “Estamos indo para o buraco. Os últimos cinco anos foram um desastre”, disse o professor emérito da Universidade de São Paulo em entrevista a “O Financista”.
Para Delfim Netto, Dilma persistiu no erro do excesso de intervenção na economia e recusou o mercado como um ajudante no processo de desenvolvimento. “O que estamos vivendo é uma desintegração do mercado financeiro equivalente à de 1928 a 1930. Depois de 2012, realmente a coisa ficou muito ruim e foi piorando. Agora, o desastre do desastre foi em 2014 quando ela ‘de-li-be-ra-da-men-te’ fez um déficit de 6% e um pulo na dívida pública para se reeleger.”
Na visão dele, uma substituição de Joaquim Levy no comando do Ministério da Fazenda é absolutamente irrelevante. “Pode ser o maior gênio do mundo. Sem o suporte das reformas estruturais, constitucionais, o Brasil não vai sair de onde está.”
O Brasil está pagando um preço pela desordem política?
Eu acho que só tem uma saída para a Dilma: assumir a sua responsabilidade, preparar as quatro ou cinco reformas constitucionais, submetê-las ao Congresso e ir para a rua para convocar o povo a colocar o Congresso no córner e aprovar. Eu acho que, como não vai ser aprovado, ela não faz força. Então não tem solução.
A sociedade também não tolera mais impostos…
E outra coisa. Não adianta vir com essa história. Ninguém vai dar mais impostos. Se não souberam usar no passado como é que vão usar no futuro. É muito simples. Então me parece o seguinte: este problema revela uma desintegração da política. Não há menor dúvida de que o Brasil é um país fantástico onde existe uma presidência de coalizão que nem preside e nem coaliza. O governo tem dez partidos que não lhe têm a menor fidelidade. E cada partido não tem a fidelidade dos seus deputados. É a mais completa esculhambação. E que piorou com as reformas e está piorando com as intervenções de poderes externos no Congresso. Com a política desorganizada não há economia que funcione.

Então o que se trata é o seguinte: sem o reestabelecimento de uma ordem política capaz de dar ao Executivo aquele mínimo de poder para administrar o país, nós vamos para o buraco. Estamos indo para o buraco.
Os últimos cinco anos foram um desastre. O Brasil vem sendo posto fora do mundo desde 1990. Se você olhar o PIB relativo do país, não o absoluto, temos nos afastado e, ainda mais, dos emergentes de renda superior. Em 1990, a renda média do Brasil era 120% acima da renda média dos em desenvolvimento. Hoje é 6%. Pioramos dramaticamente. Nos últimos cinco anos, o Brasil cresceu 5%. É igual a população praticamente. O mundo cresceu 18% e os emergentes, excluindo o Brasil, cresceram 28%. O Brasil está sendo posto fora do mundo.
Comenta-se muito sobre a troca do ministro Joaquim Levy pelo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa. Isso é repetir o que já não deu certo esperando um resultado diferente?
Nelson Barbosa é um profissional competente. Pode não pensar como outros pensam. É de uma outra escola. Agora, imaginar que o Nelson Babosa vai fazer besteira… Isso, na minha opinião, é não ter lido o que ele escreve. É preciso ver com muito cuidado essa história de “fulanizar” as coisas. O Levy é um sujeito absolutamente brilhante, honesto e correto. Desse ponto de vista eu não vejo diferença entre os dois. Sobre a forma de ver o mundo seguramente há uma diferença muito profunda. Não diria nem que uma é melhor do que a outra, mesmo porque nenhum dos dois vai ter condição de fazer nada.
Faz sentido pensar em um perfil mais político?
Não é questão de um perfil mais político. O ideal seria se a Dilma decidisse.
A Dilma deveria bancar o ajuste…
É lógico. Não é só o ajuste… Ela tem que bancar a mudança constitucional que vai abrir o espírito animal dos empresários. Não tem equilíbrio fiscal em recessão. Não tem. E o programa do Levy nunca foi só fazer o equilíbrio fiscal. É que os adversários impuseram ao Levy essa agenda. O Levy, desde o início, está defendendo reformas constitucionais. Eu tenho absoluta certeza que o Nelson faria a mesma coisa. Não tem mais chantilly… Agora tem que ir para o bolo mesmo. Não adianta mais tentar enganar. Isso não vai funcionar. Estamos juntando o pé com a cabeça. A situação é ruim, a perspectiva é muito pior. Você precisa é mudar a expectativa, a perspectiva. Enquanto o Brasil acreditar que a relação dívida x PIB não tem limite, não vai acontecer nada a não ser o pior.
Vamos, então, relegar o futuro para 2018?
Em 2011, ela fez um governo primoroso e terminou com 3,9% de crescimento, inflação de 6,4%, reduziu a relação dívida x PIB, fez um superávit de 3%. Em 2012, no auge do seu apoio, ela começou a tergiversar.
Quando ela fez a intervenção na energia, que era obviamente uma coisa despropositada, o prestígio da Dilma subiu. Quando ela fez a intervenção na taxa de juros, o prestígio foi à Lua. A população estava apoiando as bobagens e hoje diz que não tem nada a ver com isso. Foi isso que levou a Dilma a persistir neste equívoco. Ela na verdade entendeu mal a mensagem. Ela recusou o sistema de preços. Ela recusou o mercado como um grande ajudante no processo de desenvolvimento. O mercado não é Deus e só funciona se o Estado for forte e constitucionalmente controlado. Para quê? Para controlar o mercado. O mercado solto, é uma tragédia. Principalmente o mercado financeiro. O que estamos vivendo é uma desintegração do mercado financeiro equivalente à de 1928 a 1930. Depois de 2012, realmente a coisa ficou muito ruim e foi piorando. Agora, o desastre do desastre foi em 2014 quando ela “de-li-be-ra-da-men-te” fez um déficit de 6% e um pulo na dívida pública para se reeleger.
Uma piora nas contas que culminou com a perda do grau de investimento, agora por duas agências de classificação de risco…
Na verdade já tínhamos perdido o rating há muito tempo. Basta ver que o Brasil estava com 250 pontos do CDS (espécie de seguro contra calote) acima daquele que é normal na indicação das agências. Já estava perdido. E não tem salvação, vai perder de novo o selo da Moody’s.
A simples mudança de ministro é absolutamente irrelevante. Pode ser o maior gênio do mundo. Sem o suporte das reformas estruturais, constitucionais, o Brasil não vai sair de onde está.
O senhor crê que esse protagonismo pode surgir na presidente Dilma?
Se ela não tiver, nós vamos sangrar três anos. Só teremos algum sossego quando começar a eleição em 2018. Ela tinha que assumir o compromisso agora. Esperar esse um mês e meio de recesso e preparar uns quatro ou cinco projetos e, quando abrir a Câmara, surpreendê-la com os projetos. E ir para a rua convocando a população: telefona para o seu deputado, mande um e-mail para ele, visite a casa da mãe dele onde você mora porque o Brasil precisa disso. Não é para mim. É para o seu neto.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – A entrevista foi enviada pelo comentarista Mário Assis Causanilhas, que fez a seguinte observação: “ Mesmo divergindo do ex-ministro ao longo da sua vida pública, nesta matéria ele aborda aspectos importantes da chamada “crise” que o país atravessa, com propriedade e doses razoáveis de razão”.

26 de dezembro de 2015
Deu em O Financista

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