Depois de virar as costas a José Dirceu, recusando-se a falar com ele até por telefone, quando o ex-ministro ligou para o Instituto Lula em março tentando agendar um encontro com o ex-presidente, destinado a definirem uma linha jurídica de defesa mais eficiente, agora Lula não diz uma palavra em defesa do velho amigo e companheiro.
Segundo reportagem da Folha, enquanto a Executiva Nacional do PT se reunia em Brasília, na terça-feira, para discutir o assunto, o ex-presidente comentava com alguns amigos que a prisão do ex-ministro só reforça a ”necessidade” de uma reflexão profunda pelo PT.
Como acontece desde o escândalo de Rosemary Noronha, em 2012, Lula continua fugindo da imprensa. Mas a Folha diz ter obtido o relato de pessoas que conversaram com o ex-presidente após a prisão de Dirceu.
Segundo elas, Lula disse não ter se surpreendido com a medida e que o próprio ex-ministro já esperava a nova detenção, tanto que foi à Justiça em busca de vários habeas corpus preventivos.
Para Lula, segundo a Folha apurou, mais urgente é evitar uma ”guerra” com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que pode complicar a vida do governo e do PT no Congresso.
TUDO MUDOU
No processo do mensalão, Dirceu contou com o apoio público do PT, que avaliou sua condenação pelo Supremo Tribunal Federal como um ”julgamento político”. O partido fez até uma “vaquinha” para pagar a multa dele, no valor de R$ 971 mil. Mas daqui para a frente tudo será diferente.
Segundo a Folha, os dirigentes do partido afirmam, nos bastidores, que Dirceu não contará com a mesma solidariedade, porque ele tirou ”proveito pessoal” do esquema da Petrobras.
No Planalto, o desprezo a Dirceu é o mesmo. Nenhum ministro do palácio defendeu o velho companheiro. O único que falou a respeito foi Miguel Rossetto, secretário-geral da Presidência da República, mas apenas para dizer que o problema tem de ser resolvido por Dirceu e seus advogados. Nenhuma palavra de solidariedade.
Tradução simultânea: Lula, o PT e o Planalto querem que Dirceu se exploda, como dizia o personagem Justo Veríssimo, criado por Chico Anísio. Mas que se exploda sozinho, deixando incólumes Lula, Dilma, o PT e o Planalto, como se isso fosse possível.
Mas sonhar ainda não é proibido. E Dirceu sonha em voltar aos braços da mulher, Simone Tristão, e da filha de quatro anos. É aí que mora o perigo.
Agora Dirceu mora em Curitiba e a família continua em Brasília, a quase 1.400 quilômetros de distância.
07 de agosto de 2015
Carlos Newton
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