O início do ciclo de elevação dos juros nos Estados Unidos foi considerado, em 2014, um dos ingredientes de uma “tempestade perfeita” que se abateria sobre o Brasil. Um outro ingrediente seria o rebaixamento da nota de risco do país por agências internacionais. Somando-se tudo, o Brasil entraria numa crise em meio à elevação da inflação, deflagrada por vertiginosas desvalorizações cambiais, desembocando em uma recessão.
Não ocorreu em 2014 a primeira alta dos juros decretada pelo Fed, Banco Central americano, depois de as taxas serem mantidas em quase zero desde a crise de 2008/2009, mas, mesmo assim, uma tempestade se abateu sobre o país. E por algumas razões: choque tarifário, para corrigir preços públicos mantidos baixos artificialmente a fim de ajudar a reeleger a presidente; grave hemorragia fiscal, com o mesmo objetivo, a ser estancada por um ajuste, e por aí fomos.
E, agora, com o Brasil já sob o efeito de vendavais clássicos em tempestades econômicas — inflação, recessão, desemprego —, anuncia-se que os juros americanos deverão subir ainda este ano. O anúncio foi feito por quem de direito: a presidente do Fed, Janet Yellen, quarta-feira, perante o comitê de finanças da Câmara dos Representantes, em Washington.
Por coincidência, neste momento visitam o Brasil analistas da Moody’s, uma das grandes agências internacionais de avaliação de risco. O país ainda se mantém na faixa de “grau de investimento”, mas não se sabe se continuará assim.
Os juros voltarão a subir nos Estados Unidos porque a economia americana tem demonstrado estar em rota firme de recuperação. Nessas circunstâncias, manter as taxas no zero é adubar pressões inflacionárias para breve.
O efeito para economias emergentes, como a brasileira, é a perda de atratividade para capitais financeiros, que tendem a buscar o mercado americano. Espera-se, portanto, alguma fuga de capitais e, por decorrência, mais desvalorizações no câmbio, com inevitáveis repiques inflacionários — não bastasse a inflação se aproximar dos dois dígitos.
Esses são fatores inexoráveis, fora do controle de Brasília. Mas o país pode se defender, com a aceleração do ajuste fiscal, infelizmente convertido em munição nas picuinhas políticas dos presidentes da Câmara e do Senado, os peemedebistas Eduardo Cunha (RJ) e Renan Calheiros (AL), com o Planalto.
O descarrilamento da economia, já previsível no ano passado, e a crise política já devem ter estimulado a saída de investidores do país. Mas não se pode esperar inerte que o Fed eleve os juros sem que nada seja feito. Encerrar esta fase do ajuste fiscal o quanto antes sinalizará que existe uma vontade política real de se reequilibrar a economia. Um dos piores cenários para investidores é a inexistência de um horizonte à frente.
17 de julho de 2015
O Globo
Não ocorreu em 2014 a primeira alta dos juros decretada pelo Fed, Banco Central americano, depois de as taxas serem mantidas em quase zero desde a crise de 2008/2009, mas, mesmo assim, uma tempestade se abateu sobre o país. E por algumas razões: choque tarifário, para corrigir preços públicos mantidos baixos artificialmente a fim de ajudar a reeleger a presidente; grave hemorragia fiscal, com o mesmo objetivo, a ser estancada por um ajuste, e por aí fomos.
E, agora, com o Brasil já sob o efeito de vendavais clássicos em tempestades econômicas — inflação, recessão, desemprego —, anuncia-se que os juros americanos deverão subir ainda este ano. O anúncio foi feito por quem de direito: a presidente do Fed, Janet Yellen, quarta-feira, perante o comitê de finanças da Câmara dos Representantes, em Washington.
Por coincidência, neste momento visitam o Brasil analistas da Moody’s, uma das grandes agências internacionais de avaliação de risco. O país ainda se mantém na faixa de “grau de investimento”, mas não se sabe se continuará assim.
Os juros voltarão a subir nos Estados Unidos porque a economia americana tem demonstrado estar em rota firme de recuperação. Nessas circunstâncias, manter as taxas no zero é adubar pressões inflacionárias para breve.
O efeito para economias emergentes, como a brasileira, é a perda de atratividade para capitais financeiros, que tendem a buscar o mercado americano. Espera-se, portanto, alguma fuga de capitais e, por decorrência, mais desvalorizações no câmbio, com inevitáveis repiques inflacionários — não bastasse a inflação se aproximar dos dois dígitos.
Esses são fatores inexoráveis, fora do controle de Brasília. Mas o país pode se defender, com a aceleração do ajuste fiscal, infelizmente convertido em munição nas picuinhas políticas dos presidentes da Câmara e do Senado, os peemedebistas Eduardo Cunha (RJ) e Renan Calheiros (AL), com o Planalto.
O descarrilamento da economia, já previsível no ano passado, e a crise política já devem ter estimulado a saída de investidores do país. Mas não se pode esperar inerte que o Fed eleve os juros sem que nada seja feito. Encerrar esta fase do ajuste fiscal o quanto antes sinalizará que existe uma vontade política real de se reequilibrar a economia. Um dos piores cenários para investidores é a inexistência de um horizonte à frente.
17 de julho de 2015
O Globo
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